Um livro pra você, que saiu da igreja

Pecado de Morte

"Se alguém vê o seu irmão cometer algum pecado que não traz a morte (ou "pecado que leva a morte" (NVI), ou "pecado para a morte" (ARC)), deve orar a Deus, e ele dará a vida a essa pessoa. Isso, no caso de pecados que não trazem a morte. Mas há pecado que traz a morte, e eu não digo que vocês orem a respeito desse pecado. Toda maldade é pecado; porém há pecados que não trazem a morte."
(1João 5:16‭-‬17 NTLH)

"Pecado para a morte", "pecado de morte", "pecado imperdoável"... Esta certamente é uma das mais complicadas e incompreendidas questões da doutrina cristã. O mau entendimento deste termo e do contexto no qual está inserido já causou e continua causando males a igrejas e seus membros.

Afinal, existe pecado para a morte? Existe pecado que Deus não perdoa? Existe pecado que exclua (ou descomungue) membros da igreja?

O próprio apóstolo João fala sobre este pecado para a morte, e inclusive recomenda a irmandade que nem mesmo ore em favor deste tipo de pecador. Mas, quem seria este pecador? Qual pecado seria este, uma vez que o próprio João não o citou explicitamente?

Creio que podemos entender melhor este assunto através de alguns exemplos, sejam eles fatos reais ou simples parábolas.

Caso 1 - Consideremos a seguinte parábola: José e Henrique eram parceiros de crime, de longa data. Assassinos sanguinários! Obviamente, vivendo uma vida de transgressão, não ficariam muito tempo impunes. Logo foram presos e condenados. Ano passado, missionários de uma determinada igreja visitaram o presídio no qual eles estão presos, e após o culto, José, arrependido, quis ser batizado e viver uma vida cristã. Porém Henrique não se condoeu com a mensagem. Há um mês, ambos foram postos em liberdade; Henrique batalhou, e conseguiu um emprego - ajudante de pedreiro -, não voltou para o crime, e está tocando a vida honestamente. Henrique voltou para o crime, e uma semana depois de ter sido solto, se envolveu em mais um ato criminoso, matando um inocente e voltando para a prisão.
Para qual desses personagens a oração e toda a pregação sobre Redenção teve efeito? Qual deles se encaixa em cada exemplo de João? Quem deles pecou para a morte e quem não pecou para a morte?

Caso 2 - Lucélia e Cláudio eram casados há 18 anos quando ela o surpreendeu em um caso extra-conjugal. Ambos cristãos, tiveram seu caso levado aos presbíteros da igreja. Antes de orarem pela reconciliação do casal, um dos presbíteros aconselhou Cláudio e o perguntou se estava arrependido, mas Cláudio surpreendeu a todos a dizer que não se arrependia. Cláudio, inclusive, abandonou a sala e depois disso nunca mais foi visto. Dizem que foi viver a vida com a sua amante.
Os presbíteros deveriam orar por Claudio? Será que uma oração resolveria, uma vez que o coração de Cláudio se mostra cauterizado? Como Cláudio pode ser encaixado no exemplo do apóstolo João?

Caso 3 - Davi, rei de Israel, colhia os frutos do sucesso do seu reinado, até ele se envolver em um escândalo sexual sem precedentes: ele engravidou a esposa do chefe do seu exército, e ainda tramou a morte dele em um plano para tentar encobrir seu deslize (1 Samuel 11 e 12). Como sabemos, Davi só "caiu na real" ao ter seu pecado esfregado na cara, pelo profeta Natã. Através desse mesmo profeta, Davi recebeu o recado divino de que tinha sido perdoado do seu pecado. O que vemos dali em diante, além da ruína do seu reinado e da sua família, é um Davi quebrantado, que aceita a culpa é as consequências dos seus pecados e busca continuamente o perdão de Deus, como demonstra as sua obra nos Salmos 32 e 51.
Será que um coração contrito está morto? Será que alguém morto ainda pediria perdão pelos seus pecados, demonstrando arrependimento? E será que Deus perdoaria tão grave falha, que envolve um adultério e uma morte de um inocente?

Caso 4 - "Então levaram a Jesus um homem que era cego e mudo porque estava dominado por um demônio. Jesus o curou, e ele começou a ver e a falar. A multidão ficou admirada e perguntava:
- Será que este homem é o Filho de Davi?
Alguns fariseus ouviram isso e responderam:
- É Belzebu , o chefe dos demônios, quem dá poder a este homem para expulsar demônios.
Mas Jesus conhecia os pensamentos deles e disse:
- O país que se divide em grupos que lutam entre si certamente será destruído. E a cidade ou a família que se divide em grupos que lutam entre si também será destruída. Assim, se no reino de Satanás um grupo está combatendo contra outro, isso quer dizer que esse reino já está dividido e logo vai desaparecer. Vocês dizem que eu expulso demônios porque Belzebu me dá poder para fazer isso. Mas, se é assim, quem dá aos seguidores de vocês o poder para expulsar demônios? Assim, os seus próprios seguidores provam que vocês estão completamente enganados. Na verdade é pelo poder de Deus que eu expulso demônios, e isso prova que o Reino de Deus já chegou até vocês. Ninguém pode entrar na casa de um homem forte e roubar os seus bens, sem primeiro amarrá-lo. Somente assim essa pessoa poderá levar as coisas que ele tem em casa. Quem não é a meu favor é contra mim; e quem não me ajuda a ajuntar está espalhando. Por isso eu afirmo a vocês que as pessoas serão perdoadas por qualquer pecado ou blasfêmia que disserem contra Deus. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado. Se alguém disser alguma coisa contra o Filho do Homem, será perdoado; mas quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem agora nem no futuro. (Mateus 12:22‭-‬32 NTLH)