Quando a prova prolongada enfraquece o coração

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"A esperança adiada faz o coração ficar doente, mas o desejo realizado enche o coração de vida."(Provérbios 13:12 NTLH)

Quero começar nossa conversa falando com aqueles que desanimaram após longos momentos de espera. A bem da verdade é difícil ter algo a dizer. Como explicar o tempo? Como explicar alguém que morreu na esperança por uma cura, tendo fé que seria curada? Como explicar então o fato de que algumas pessoas alcançam o que esperam rapidamente, enquanto outras não? A explicação padrão para a situação é a vontade de um Deus onisciente, que sabe o que faz. E esse é um argumento fortíssimo. Deveria servir de alento para todos nós. Deus realmente sabe o que faz, e não apenas isso, Ele nos ama, nos chama de filhos. Um pai não largaria seu filho, não deixaria de ajuda-lo. O que nos faz pensar que, se algo em nossa vida não vai da forma que gostaríamos, deve haver algum propósito maior nisso.

Outra forma de se pensar também é que talvez nossa vontade não seja a melhor, e que Deus tem o melhor para nós. Na verdade, esse pensamento responde boa parte dos casos. Na minha vida, pelo menos, tenho visto muito isso, muito do que eu queria, depois de um tempo, não se revelou tão bom quanto a solução que Deus tinha para aquele caso. Glória a Deus! Mas também sei que é difícil convencer alguém que passa por longos períodos de enfermidade, ou alguém que perdeu um ente querido, de que isso é o cumprimento da boa vontade de Deus.

Mais um problema que temos é a visão teológica sobre este assunto. De um lado, teólogos "da prosperidade" dão a entender que a fé de uma pessoa é capaz de determinar a vontade de Deus a ponto de Ele ser obrigado a responder a petição de uma pessoa que tenha fé, e se você não alcançou algo, é porque não teve fé suficiente; ou então não cumpriu as doutrinas dessas igrejas, que normalmente condicionam o alcance de bênçãos à disposição da pessoa em doar valores. Essa visão é nociva, totalmente errada. Poderíamos fazer um giro teológico pela bíblia para provar isso, mas o objetivo deste livro é ser simples.

De uma maneira simples eu convido você a olhar para os agraciados pelos milagres de Jesus. O que eles ofereceram? Quanto eles pagaram? Quão justos eles eram? Logo percebemos que o que eles receberam de Cristo foi de graça, e pela Graça. É assim que Deus age na nossa vida. Não depende de nós. Vem dele. E vem de graça, e por Graça.

Mas também há correntes teológicas que defendem a não-obrigação de Deus em solucionar nossos problemas, e que muitas das vezes encaram o "minha graça te basta" como um recado de um Deus que estaria interessado apenas em nossa salvação, e pouco estaria ligando para nossas dificuldades na terra. Essa visão de um "pai distante" também enfraquece nossa fé, e nos faz questionar o amor de um pai que nos deixaria a própria sorte aqui na terra, coisa que nem mesmo nós, humanos falhos, fazemos. Olhando para Jesus, também não é isso que vemos. Vemos um Jesus preocupado com nossos dramas cotidianos. Um Jesus que pregou a doutrina, mas não despediu aquele povo com fome, e por isso multiplicou os pães e peixes; um Jesus que perdoou o pecado de Pedro, mas antes lhe "grelhou" um peixe. Será que um Jesus tão gentil e compassivo seria indiferente à nossa dor? Creio que não.

Óbvio que o meio-termo, a temperança responde essa questão. De fato, um Deus soberano não nos deve nada, e não é obrigado a nos dar nada; mas um Pai amoroso não deixa seu filho à míngua. Você, por exemplo, cuidaria do seu filho por amor, e não por obrigação, não é? Mas, se tudo é vontade de Deus, e se Ele se importa conosco, então como responder ao fato de pessoas passarem longos períodos de provações? Essa pergunta abala a fé de muitos que estão lendo essas palavras.

Honestamente, não há na bíblia uma resposta direta sobre isso. A bíblia não explica porque uns esperam por algo durante um ano enquanto outros esperam dez anos pela mesma providência. Também não há uma promessa de Deus dizendo que não sofreríamos, logo, não devemos criar expectativas erradas do tipo "quem está com Deus não sofre", ou "se sofre, é porque está em pecado". O sofrimento e as adversidades fazem parte da vivência humana. Até mesmo Jesus, em corpo humano, sofreu; e sofreu como nenhum outro, mesmo sem merecer. O que nos faz refletir sobre a "justiça do sofrimento". Temos uma ideia de que os maus deveriam sofrer mais por que são maus, enquanto os bons deveriam sofrer menos porque são bons. Mas a própria Bíblia questiona nossa suposta bondade quando afirma em Romanos 3 que "não há um justo sequer, não há um que não tenha pecado". Isso não quer dizer que somos todos como um bandido sanguinário ou um terrorista, mas quer dizer que somos todos humanos, imperfeitos e, portanto, não podemos nos basear na nossa bondade falha para querer sofrer menos neste mundo.

Um livro pra você, que saiu da igrejaOnde histórias criam vida. Descubra agora