Os filhos pródigos

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"Então procurou um dos moradores daquela terra e pediu ajuda. Este o mandou para a sua fazenda a fim de tratar dos porcos. Ali, com fome, ele tinha vontade de comer o que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. Caindo em si, ele pensou: "Quantos trabalhadores do meu pai têm comida de sobra, e eu estou aqui morrendo de fome! Vou voltar para a casa do meu pai e dizer: 'Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho. Me aceite como um dos seus trabalhadores.' "

(Lucas 15:15‭-‬19 NTLH)

Esse é um momento crucial dentro da parábola do filho pródigo, contada por Jesus. Para exemplificar como Deus se alegra por causa da volta de um crente desviado da Graça, Jesus usou o exemplo de um filho que decide romper com o próprio pai, pedir sua parte na herança e viver uma vida independente. O pai, em nenhum momento insiste, ou resiste. Mesmo sem ter a obrigação (pois o filho só teria direito a herança após a morte do pai), o pai dá ao filho sua parte correspondente na herança, e o deixa ir. O rapaz se muda para uma nação distante, gasta todo o seu dinheiro com baladas, bebidas e mulheres, a ponto de, em um certo momento, encontrar-se pobre, sem dinheiro nem mesmo para se alimentar. Então ele vai buscar emprego, e, como relata o trecho acima, em um estado tão brutal de fome, ele deseja comer a comida dos porcos. Só então, no fundo desse poço, lembra-se de quem é filho, e resolve voltar para casa do pai, e humilhar-se, na esperança de que fosse aceito pelo menos como um de seus empregados.

No último capítulo, falamos sobre pessoas que querem conhecer o mundo, porque tudo lá fora atrai, enquanto quase tudo aqui dentro (da igreja) repulsa. Esta pessoa está como o filho pródigo na casa do pai; mesmo tendo teto, carinho, proteção e provisão paternal, ela encontra-se descontente por causa das injustiças que acredita ver, mesmo sem perceber que isso é apenas uma gotícula de óleo no mar de amor e graça de Deus.

Na verdade, os dois filhos se sentiam mal recompensados. Um abandonou a casa do pai, e o outro, no fim, reclamou porque o pai nunca havia lhe dado um bezerro para comemorar com os amigos. Eles eram iguais. Ambos se achavam dignos de algo mais. Aquele que saiu, o fez para buscar esse "algo mais"; e aquele que ficou, só ficou porque acreditava que isso o faria merecedor desse "algo mais". Essa parábola que Jesus nos contou é perfeita, e exemplifica o que acontece hoje na igreja: uns ficam porque acreditam que isso os tornará dignos; e outros, por não acreditarem mais nisso, vão buscar no mundo aquilo que eles acham que merecem, mas que Deus e a igreja não lhe deram. Na verdade, parece que nenhum deles estava ali por causa do pai, mas sim por causa do seu suposto merecimento das posses do pai. Da mesma forma, parece que a maioria de nós só está na igreja de olho nas posses de Deus, e não por causa do próprio Deus. Isso é algo para pensar, não é?

Da mesma forma que o pai não impede a saída do filho, em muitos casos também Deus não impede a vontade de sair que muitos sentem. Esse rapaz sai de casa acreditando que com o controle da sua vida em mãos, ele finalmente será feliz. Então, muitos saem da igreja achando que fora das "amarras da religião" é possível encontrar a tal liberdade.

Mas, assim como o rapaz do exemplo, algumas vezes é necessário que percamos tudo para entendermos o valor daquilo que tínhamos. Particularmente não considero que Deus tira isso ou aquilo de alguém (não que Ele não possa fazê-lo), mas assim como o rapaz, muitos chegam à ruína do mundo simplesmente porque é impossível encontrar a liberdade em um mundo que prende, encontrar a riqueza em um mundo que rouba, vicia, engana.

Talvez você, leitor, encontre-se nesta situação: almejando a "comida de porco" que o mundo te dá, por não ter nem mesmo isso no dia de hoje. Esse capítulo - e este livro - é justamente para você. Talvez alguns que estão lendo esse livro estão achando todo esse discurso um drama, porque saíram da igreja e hoje consideram ter uma vida muito melhor. Se este é o seu caso, então este livro não é para você. Recomendo que você abandone a leitura aqui mesmo. Mas se você se encontra com a alma cansada, se sentindo culpado por erros que você sabe que cometeu, ou pessoas que você sabe que feriu, e se o resto de temor a Deus que permanece no seu coração ainda serve como um alerta de que algo esta errado, este capítulo, e este livro está aqui justamente para lembrar que Deus é aquele Pai amoroso da parábola que Jesus contou. Ele nos espera de braços abertos. Ele quer nos receber, trocar nossas vestes, nos perdoar, fazer festa em homenagem à nossa volta.

Você está aí, perdido, desiludido. Já não tem mais nada a perder. Talvez voltar atrás, voltar à casa do Pai seja a solução para você. Já pensou nisso?

E você, que está como o irmão "bonzinho" do filho pródigo, se achando mal recompensado pelo Pai. Será que não é hora de pensar, e considerar as palavras do próprio Pai:

"- Então o pai respondeu: "Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu."

(Lucas 15:31 NTLH)

Um livro pra você, que saiu da igrejaOnde histórias criam vida. Descubra agora