- Harry -
A dor na minha cabeça se intensificou, pulsando no ritmo da batida lenta do meu coração. Minha visão embaçada passou de dupla para única, com cada piscar de olhos. Eu toquei a parte de trás da minha cabeça, bem onde a dor irradiava; algo morno, pegajoso e vermelho revestiu os meus dedos. O material frio do azulejo podia ser sentido através da minha camiseta fina.
Eu olhei para cima de onde eu estava esparramado no chão, para os olhos loucos injetados de sangue de um homem que eu tinha conhecido por toda a minha vida - ou pelo menos, eu pensei que conhecesse. Fiquei instantaneamente sóbrio, o nevoeiro se dissipou e meu coração disparou. Ele estava pronto para atacar, pronto para matar. Veias grossas incharam em seu pescoço; eu podia vê-las pulsando a cada respiração tensa que ele tomava. Olhei dele para o machado levantado acima de sua cabeça. Sem hesitar, ele o trouxe para baixo para dividir meu crânio ao meio. Pouco antes da lâmina ser capaz de rasgar minha testa, eu me libertei de seu forte aperto e rolei para o lado, evitando o machado e a infinita escuridão - por meros centímetros.
Fiquei com as pernas bambas, tentando puxar o ar em meus pulmões, quando me virei para me preparar para o próximo ataque. Fiquei chocado ao ver o homem que era um monstro, apenas momentos antes, amassado no chão, de bruços nos azulejos. Ele abriu a mão e deixou deslizar o machado de suas garras. Seus ombros tremeram.
Ele estava soluçando.
— Pai? — perguntei. Eu tentei tudo que eu podia para tirar a sua dor, e em troca, ele tinha feito o se melhor para ter certeza que eu sentisse as profundezas da mesma.
— Sai fora daqui! — ele gritou para mim do chão, entre soluços.
— Pai, me deixe te ajudar, — eu implorei, chutando o machado para fora de seu alcance.
— Saia desta casa, e nunca mais volte porra! — ele se ergueu e se sentou sobre seus joelhos, lentamente levantando a cabeça para me encarar. Baba vazava dos lados da sua boca. Seus olhos brilhavam com a umidade. O cheiro forte de álcool ardeu em meu nariz quando ele falou. Eu tinha visto o meu pai mal antes, mas isto era uma coisa completamente diferente. — Eu não quero te ver nesta casa nunca mais.
— Pai, me deixe te ajudar, — eu insisti. Eu poderia fazer exatamente isso: leva-lo para a reabilitação, terapia - o que fosse preciso para fazê-lo parar de sentir como se sua vida tivesse acabado.
Me inclinei e o agarrei pelo braço para ajudá-lo.
— Não me toque porra! — ele puxou o seu braço. — Era para ser você... Deveria ter sido você. Você é a razão pela qual eles se foram. — suas palavras arderam, mas não foi a primeira vez que eu o ouvi dizer isso. Fazia duas semanas que eu limpava seu vômito e tentava ficar fora do caminho de sua fúria de bêbado. — Eu gostaria que tivesse sido você, — disse ele, mais suave desta vez.
— Pai, você está bêbado. Você não quer dizer isso.
— Sim, eu quero. Eu acabei de tentar te matar, Harry, e com toda a honestidade, eu gostaria de ter conseguido. — ele me olhou diretamente nos olhos, e nesse momento, ele pareceu completamente no controle. — Deveria ter sido você. Você deveria estar morto. Não eles. Eu só queria corrigir isso, te trocar por eles. Fazer da maneira que deveria ter sido. — sua voz se tornou um sussurro. — Você está morto para mim agora, garoto.
Algo dentro de mim estalou.
Se eu tivesse que escolher um momento no qual eu soube que minha vida seria diferente dali para frente - que eu soube que eu seria diferente - seria esse.
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A Luz na Escuridão do Dia ①
FanfictionTHE DARK LIGHT OF DAY - ① ... ANTES DE HARRY THE KING SINOPSE Abby tem vivido um inferno e sobreviveu a uma das infâncias mais brutais imagináveis... por pouco. Para o mundo exterior, ela é apenas uma solitária com atitude. Quando sua avó...