De casa para rua

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          A pior hora para fugir de casa com certeza é às 4 da manhã, ainda mais quando você não está agasalhado o suficiente.

          A névoa encobria meus pés, a ventania estava forte e, aparentemente, ninguém estava acordado.

          Eu, agora, estava passando sobre uma ponte, um dos pontos mais altos da cidade, e de lá, dava para ver como tudo mudou nos últimos tempos, lembro, quando passava por aqui com meu pai, era tudo bonito e normal.

          Agora existem pessoas dormindo do lado de fora de suas casas. Algumas gangues roubam casas durante a noite, e deixam com o dono durante o dia.

          Aqui, a lei se aplica apenas de manhã, a noite, pode se fazer o que quiser. Facções mais reservadas e mais ricas se escondem dentro de casas, que é o caso de muitas.

          Depois de uma hora caminhando, sentei um pouco para descansar, pois a casa de minha tia ainda estava longe, e sem querer acabei caindo no sono. Nenhum sonho anormal aconteceu dessa vez.

          Acordei com dois caras na minha frente, um estava revirando minha mochila e outro estava me olhando, segurando um taco de baseball.

       - Hey! - um cara chamou o outro - Esse daqui ta abrindo o olho.

       - É... - o outro falou terminando de revirar minha mochila - não tem nada... pode apagar.

         Ele ajeitou seu taco, revirou uma ou duas vezes, e quando eu entendi o recado, já era tarde de mais. Levei só um golpe e já cai. Assim como o outro disse, "apagar".

         Eu acordei em uma espécie de prisão com grades altas e o chão forrado com folhas, levantei, cambaleando, quase não consegui ficar em pé. Tive de me apoiar nas grades da sela.

         Na minha frente, estavam os dois caras que me roubaram. E não foi nem um pouco legal ficar só com os dois. Eles estavam conversando sobre os saques que conseguiram no dia.

         Ao meu lado, estava a minha mochila, me joguei no chão novamente e a abri na procura de meu telefone. Tudo estava no lugar, exceto o telefone e o relógio do meu pai.

         Mesmo que eu não o conheci no primeiro instante, aquele relogio era do meu pai, automaticamente, aquilo me pertencia, eu tinha que pegar aquilo de volta.

         Comecei a olhar em volta, não achava meu telefone e muito menos o relógio. Os dois continuavam conversando, sem se importarem com a minha presença ali.

         Um cara chegou, falando uma lingua que parecia ser alemão, pelo jeito estava apressado ou algo estava dando errado. Os dois que estavam na minha frente saíram correndo junto com o outro cara.

         Eu comecei a olhar em volta para ver se tinha algo que me ajudaria a fugir.

         Não tive êxito, porém, descobri que a porta não tinha fechadura, ou melhor, não tinha porta. Comecei a imaginar como alguem teria me colocado ali. Olhei para cima, para baixo, eu não tinha nada.

         Enquanto procurava, comecei a escutar barulhos de tiros, assustado, me joguei no chão novamente. Na minha frente, tinha uma espécie de elevação nas folhas, passei a mão e vi que era um tipo de maçaneta, a puxei para cima, mas estava trancada, como era de se esperar.

        Ouvi alguns passos chegando na sala, passos firmes, um homem que estava bastante ofegante, provavelmente os tiros tinham a ver com ele.

        Ele chegou na sala, estava com um traje de guerra, tinha sido baleado no ombro, pois estava sangrando. Era velho, não parecia ser de qualquer facção, pois mostrava ser sábio, parecia que já teve experiencia com esse tipo de coisa.

         Olhou para mim e depois começou a procurar algo em cima da mesa, até que pegou uma chave.

     - Você não vai querer ficar ai sozinho - falou jogando a chave - tem uma escotilha debaixo de sua sela que leva para uma sessão de túnel, entre no T17.

    - Ok... - falei pegando a chave.

A Lei do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora