Eram plenas quatro da matina e Violet poderia estar deitada no chão de concreto frio da rua ou nos lençóis de sua cama que sua falta de sono seria a mesma. Era angustiante. Ainda mais pensando que Sherlock não tinha nem cinco anos e já tirava mais de suas preciosas noites de sono que Mycroft–mesmo que ele tenha sido complicado–, mas aquele projeto de pirata era algo totalmente singular, a Sra. Holmes sabia desde que segurou Sherlock nos braços pela primeira vez, que era uma criança diferente de qualquer uma. Sherlock sempre se demonstrou interessado em assuntos que iam além de sua idade e também nunca teve muito contato– mesmo com toda sua insistência– com outras crianças a não ser com seu irmão.
Ao se virar na cama mais uma vez, procurando uma posição agradável ao lado de seu esposo, Sieger, Violet não pôde deixar de ouvir os pequeninos e apressados passos ecoando no quarto vizinho. Dando um longo suspiro, deixando um sorriso esboçar em seus lábios, a mulher enrolou-se no seu roupão azul marinho felpudo, que havia sido presente de seu filho mais novo, pois segundo ele mesmo: "Parece com um de um pirata!" e foi sorrateiramente até o corredor. Violet encarou os desenhos de piratas e de barcos feitos com giz de cera pelo seu próprio filho enfeitando a porta, tirou seus cachos negros que insistiam em cair sobre seus olhos e empurrou a maçaneta da porta. A mulher só viu os pequenos cachos castanhos claros voando pelo quarto e caindo no travesseiro.
–Eu vi que o mocinho está acordado! Não tente fingir, Sherly, isso não funciona comigo.– ela disse de braços cruzados na entrada do quarto. Seus pés, calçados com pantufas para protegê-los do piso de madeira escura e fria, batiam no chão, para produzir uma postura mais autoritária ao mais novo.
O menino, vendo que seu plano se desfez como barquinhos de papel na chuva, saltou da sua cama coberta de lençóis azul marinho e fez um sonoro "bump" ao chocar seus pés no piso gelado.
-Por quê eu tenho que ir para a escola, mamãe? Tenho um montão de livros aqui e eu posso aprender sozinho! – ele disse em uma voz indignada, erguendo as mãos para sua mãe. Ele trocou o peso do corpo para um pé para o outro.– Não preciso da escola!– ele finalizou, batendo um pé no chão, como se provasse a sua mãe que seu lugar era em casa, não em uma sala de aula.
Foi nesse momento que ela paralisou, pois sabia, desde de todos os quatro anos que ela foi presenteado com a companhia de Sherlock, que ele seria uma criança diferente de qualquer uma. No mesmo instante que a criança havia aprendido a ler após ter pedido ajuda a sua Mycroft , ele devorava pequenos artigos de jornais, sempre constatando casos de polícia, não tinha paciência para os desenhos animados pois os personagens, para ele, eram todos extremamente tolos.
–Mamãe!– o garotinho tirou sua mãe de seus devaneios, sacudindo suas mãozinhas no ar.– Responda minha pergunta, por favor.
– William Sherlock Scott Holmes! Você precisa ir para a escola porque todas as crianças vão e ponto! – ela disse em um tom sério.– Mas eu não preciso!– Sherlock rolou os olhos, remexendo-se, inquieto.
– Precisa sim!– ela pôs um ponto final.
Violet, irritada e ao mesmo tempo constrangida, saiu do quarto de seu filho deixando um rostinho irritado e confuso. Enquanto atravessava o corredor, disse:
– Quero o mocinho lá embaixo para o café, quando ele estiver pronto!
Sherlock abriu as gavetas de seu guarda roupa e puxou o uniforme delas, sem o mínimo de interesse em amassa-las ou não, tirou seu pijamas- de piratas, claro- e vestiu aquelas roupas horrorosas; camisa branca de botão, calças pretas e um suéter de lã azul e uma gravata igualmente azul . Detestável.
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• Sail
Fanfiction"Veleje, meu filho. Encontre sua tripulação e desafie o mar." •Fanfic Kid!lock