💫 Pensos e Ligaduras 💫

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Megan chega ofegante com um saco de gelo meio derretido. Voltamos à realidade, ele apercebe-se dela e afasta-se dando passagem.  

- Consegues manter-te de pé, Kat? É só até aos balneários. - tento levantar-me apoiando-me nos seus braços mas no momento em que coloco o pé no chão, uma dor aguda atinge-me fazendo com que as minhas pernas desistam. Sou amparada pelos braços fortes do misterioso estranho que estava a observar tudo com um olhar atento.  A Megan chega perto do meu ouvido e sussura se o conheço de algum lado. Apenas aceno que não cerrando os dentes tentando conter a dor.

- Espera, eu levo-te até lá. É melhor não te apoiares nesse pé. - as suas primeiras palavras desde que apareceu. A sua voz era profunda e autoritária, atraindo ainda mais a minha atenção. Facilmente, levanta-me do chão encostando-me contra o seu peito. Instintivamente, rodeio o seu pescoço com os meus braços. Escondo a minha cabeça na curvatura do seu ombro e inspiro suavemente. Tudo nele parece divinal.

 Caminha a passos largos até aos balneários. Chegamos lá e ele coloca-me em cima do lavatório. Os meus pés balançam sem tocar no chão. Ele diz algo a Megan que não consigo ouvir e ela saí prontamente. Estamos sozinhos apenas com as nossas respirações. Ele vai a um cacifo e retira uma mala de primeiros socorros. Vai buscar uma cadeira e senta-se à minha frente. Pega na minha perna e retira a sapatilha e a meia vagarosamente. Quem é este homem? Conheci-o à dois segundos atrás e sinto um enorme à vontade que nunca pensei ter com alguém. Ele agarra no meu pé e eu cravo as minhas mãos na borda do lavatório mordendo o lábio.

- Parece que apenas tiveste um entorse mas era melhor ires ao hospital. - fala num tom sério olhando diretamente para mim. Aceno que sim e ele começa a enfaixar o meu pé, improvisando com um pano que encontrou.

- Onde aprendeu a fazer isso? - digo timidamente, não o querendo atrapalhar.

- Digamos que eu não era o rapaz mais coordenado. Tive de enfaixar bastantes cotovelos e joelhos. - dou uma pequena risada e sou recompensada com um sorriso milionário. Ele continua o seu trabalho e eu aproveito para o observar novamente. O seu cabelo é um pouco ondulado, não tem mais de 35 anos, as suas mãos são suaves, o seu maxilar é perfeitamente esculpido e a tentar escapar da camisa de seda branca vejo pequenos traços pretos, do que suponho que seja uma tatuagem. Ele dá um puxão na ligadura e eu inclino-me para a frente agarrando o seu ombro. Ele fica surpreso por este novo toque. Retiro a minha mão rapidamente.
 
- Desculpe, senhor. - sussurro envergonhada. Estou corada até à ponta dos cabelos. Ele sorri para si e pega na minha mão voltando a colocá-la no seu ombro. Estou sem reação.

- Está tudo bem. Estiveste perto de me partir a clavícula mas acho que aguento. - foi a minha vez de sorrir para ele. Os seus olhos dançam com diversão. Fixa a "ligadura" com pensos rápidos cheios de dinossauros fazendo uma cara de desaprovação quando os retira da mala.

- Muito obrigada, senhor. Se não fosse pela sua ajuda ainda estava a tentar sair do campo. - naquele momento apercebi-me que não sabia o nome dele. Ou qualquer outra informação.

- Não foi nada de mais. - o seu olhar mostrava preocupação e algo mais que não conseguia identificar. - E chega dessas formalidades. O meu nome é Alexandre Smith. Mas tu podes chamar-me Alex, que é como as pessoas que eu gosto me chamam. - estende a sua mão.

- Muito prazer Alex.- respondo lhe com um sorriso e aperto a sua mão. Ela parece tão pequena na sua.

Ele levanta-se afastando-se e pega no seu telemóvel. Está agora em chamada, dando ordens à pessoa que está no outro lado. Oiço apenas que é um absurdo as condições das malas de primeiros socorros e para colocar isso imediatamente na lista de reparações. Ele é um membro com reclamações sérias. Tentando matar a curiosidade do gato, pergunto-lhe delicadamente:

 - Nunca te vi por aqui, és um membro novo? - tento saber mais sobre aquele estranho à minha frente.

- Membro novo? - questiona dando uma gargalhada. Fico sem saber o que fazer. - Kat, eu sou dono de todos os clubes de campo deste estado. - a minha boca abre-se em admiração. Ele deve nadar em rios de dinheiro.

- Mas se és o dono, o que estás aqui a fazer? - aquilo foi uma surpresa para mim.

- Vim verificar as instalações da nova parte que foi acrescentada e ia a caminho de lá quando te vi cair. - escondo a minha cara entre as mãos,  envergonhada.

- Sou a definição de desastre, eu sei... - mordo o meu lábio. É a verdade.

- Eu gosto de desastre. - diz quase num murmúrio.

Aparece Megan de repente com um segurança alto e forte, do tipo que só se vêem nos filmes, segurando uma cadeira de rodas. Alex ajuda-me a sentar na cadeira e toma o lugar do segurança atrás de mim. Seguimos por um corredor estreito com uma porta vermelha no fundo. Nunca lá tinha estado. O segurança abre a porta e estamos no parque de estacionamento.

- Megan, vou levá-las até ao hospital. - ela apenas concorda e entra no SUV. Alex pega em mim novamente e estar nos seus braços é uma sensação familiar. Chegamos ao hospital e sou levada de imediato. Estou deitada na cama em chamada com Leo, o meu melhor amigo, tentando explicar-lhe que está tudo bem e que vou chegar atrasada para jantar. Durante a chamada observo Alex a falar com o médico pela pequena janela da porta. Os seus olhos encontram os meus e não consigo evitar corar. Ele dá-me um pequeno sorriso e acaba de falar com o médico entrando no quarto.

- Não, Leo. Estou bem, não é preciso vires cá. - ele senta-se na cama encarando-me com uma cara quase incomodada. O que fiz eu agora? O Leo, preocupado, pergunta-me se estou sozinha. - Não, estou em boas mãos. - olho para ele e a sua expressão parece suavizar - Até logo. Também te adoro. - mal disse as últimas três palavras, tudo nele mudou. A sua postura torna-se rígida e os seus olhos sérios, o Alex dos pensos de dinossauros desapareceu.

- Está tudo bem? O que disse o médico? - pergunto nervosa. - E onde está a Megan?

- Foi só um pequeno entorse, nada de grave. A Megan foi buscar-te roupas lavadas. - responde apressado. - Tenho de ir, o dever de CEO chama. Foi bom conhecer-te Kat. - o meu consciente grita "BOM? BOM?!" - Vemos-nos por aí. - levanta-se dando-me um beijo carinhoso na testa deixando-me mais confusa do que eu já estava.

Saí de rompante do quarto, sem olhar para trás e sem me dar a chance de me despedir.

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A foto inicial é o Alex na história. Na realidade é o ator Tom Hardy.

BABYGIRLOnde histórias criam vida. Descubra agora