Três

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Certa vez, há talvez onze anos antes, meu primo fizera o mesmo comigo em um churrasco de família. Estávamos visitando minha tia Riley na Flórida e o calor estava escaldante; confesso que eu não estava esperando por aquilo, sobretudo porque nadar sozinha ainda me era uma novidade. Eu me afoguei, é claro, e as coisas se tornaram um caos quando meus pais pularam na piscina para me socorrerem completamente desesperados. Ninguém além deles sabia que a Emily de sete anos ainda morria de medo da água. Resumindo: arruinei o evento de todo mundo. Depois daquele incidente, me mantive longe das piscinas por muito tempo. Foi como se eu tivesse desaprendido a nadar, e só com muito esforço e pressão do meu professor de educação física no colégio que precisei recuperar o que eu havia perdido anos mais tarde.

Não que eu ainda temesse a água ou me apavorasse com piscinas, mas aquele ato em si ainda deixava meu coração preste a sair pela boca. De um modo ou outro, eu não era capaz de apagar o trauma tão facilmente quanto passar um pano sobre o giz de cera na lousa.

Atualmente eu amava nadar, e lamentei muito pelos anos que o evitei fazer, mas aquilo me fez vivenciar um pouco do meu trauma de infância, foi como provar uma pequena colherada daquele sabor que você já não se lembrava mais, talvez um bocado pior quando acabei engolindo algumas levas de água.

- Você só pode ser louco! - pude ouvir Marie berrando quando meu corpo submergiu em reflexo.

Passei as mãos sobre o rosto e olhei para minhas roupas ensopadas; inclusive meu all-star, que agora parecia uma esponja. A festa toda parecia ter parado para nos olhar. Jason Carter, o deus grego do poker, agora me encarava com certo desprezo.

Fechei os olhos em aborrecimento.

Tate gargalhava ao lado de uma Leverett emputecida.

Alguém me tocou por trás e aproximou o rosto do meu.

- Como você pôde desprezar Princeton? - tive certeza que Tyler estava sorrindo. Até então, não imaginava que ele tivesse pulado junto.

Virei-me para ele e soquei seu ombro. Tentei, na realidade; a água atrapalhava meus movimentos.

- Imbecil - grunhi. - Não te ocorreu que agora vou ter de ir embora?

- Tenho roupas no carro, Emily, posso te emprestar alguma - Tate falou atrás de nós. Não amenizou minha irritação.

Merda, como é que fui parar na piscina?

- Olhe para você, como você vai se secar? - fuzilei o rapaz, ainda tentando soca-lo de alguma maneira.

Tentei usar minha raiva como contexto para não levar meus olhos à sua camisa agarrada ao corpo. Se ele passasse os dedos sobre o cabelo mais um vez eu não conseguiria me conter. Senhor, me ajude.

- O que você quer dizer? - Tyler franziu o cenho.

Oras, o que eu queria dizer? Que pergunta mais idiota!

- Também vai usar a cueca limpa de algum amigo?

Tyler jogou a cabeça para trás, achando graça em alguma coisa. Desejei saber o que era tão cômico.

- Linda, essa é a minha casa, posso te mostrar o tanto de cueca limpa que tenho lá em cima.

Todos riram ao meu redor. Sem exceções.

Todo mundo.

Seus olhos brilharam na minha direção quando ele circulou os braços em minha cintura para me guiar até a borda da piscina.

E agora? O que me assustava mais? Seus pais serem os donos da mansão Addams, ele estar me envolvendo com toda aquela anatomia firme e musculosa ou a festa toda estar nos observando com segundas intenções?

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