Dois

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- Leverett! - bati na madeira antes de girar a maçaneta, abrindo uma fresta da porta de Marie.

Enxerguei a garota em frente ao espelho pregado na porta de seu armário reforçando a máscara preta em seus pequenos cílios.

- Juro que por mim poderíamos nos jogar na cama e assistir Modern Family² até o dia amanhecer mas as garotas estão realmente com pressa lá em baixo.

- Pronto! - anunciou ela, jogando a maquiagem sobre a escrivaninha bagunçada. Enquanto seu quarto já exibia até fotografias pela parede, o meu ainda se encontrava perdido entre caixas. - Essas garotas só estão apressadas assim porque mal podem esperar para reencontrarem o time de futebol.

Eu dei de ombros, apesar de desconfiar que ela tinha razão.

- É possível...

- É óbvio - corrigiu ela, então colocou o celular no bolso da jaqueta e apanhou as chaves do carro jogadas sobre seu notebook.

- Só faz dois dias desde que cheguei e já sei o nome de quase todo esse maldito time - praguejei, sentindo-me farta do assunto.

- Bem, acostume-se. Eles são as estrelas dessa Hollywood.

Girei meus olhos mas preferi ignorar a aversão que percorreu minhas veias. Se deixassem, eu discursaria durante horas sobre o quão idiota era aquela mania de enaltecer os atletas da universidade. Por quê exatamente ninguém morria de amores pela turma de engenharia mecânica ou suspirava quando os caras do departamento de física e química passavam?

Era tudo sobre aquela droga de esporte e o costume americano de inflar o ego daqueles que se davam bem com uma simples bola.

- Como estou? - Marie alisou o vestido justo e parou para que eu pudesse olha-la.

- Você está ótima e juro que não é porque estamos com pressa.

- Bem, você também não está nada mal pra uma primeira festa - a garota puxou as pontas da minha jaqueta jeans e piscou maliciosamente. - Tome cuidado, sim? Ou os caras do time vão se ajoelhar quando te virem.

Mostrei-lhe o dedo do meio e girei sobre meu all-star, descendo as escadas de dois em dois degraus.

Quando Marie e eu finalmente adentramos seu carro, todas as outras garotas já estavam dobrando a esquina. Me perguntei se minha amiga estava simplesmente brincando ou se disse sério sobre a aflição das meninas em esbarrarem propositalmente com um quarterback ou outro na festa de boas-vindas

Nossa casa não se fazia distante da universidade mas quando Leverett começou a cruzar quarteirões demais, quis saber porque a festa seria tão longe. Chegando lá, minhas dúvidas se dissolveram como vapor.

Meu Deus.

Atravessamos um enorme portão ornamental e a garota ao meu lado aumentou os faróis do carro para enxergar a rua longa e estreita por onde passávamos. Já era noite, e quando chegamos em frente ao casarão quase tive certeza de que estávamos num verdadeiro cenário de filme de terror. Não fosse pela música e luzes coloridas, teria pedido para que ela desse marcha ré.

- Qual é a desse lugar? - murmurei, e Marie franziu o cenho enquanto analisava a mansão através do para-brisa. Era como a maldita casa da família Addams com algumas centenas de estudantes bêbados.

- Tenho certeza de que não errei o endereço - comentou ela.

- Muito bem, nem sai do carro e já estou me arrependendo.

- Ah! Vamos lá! Não seja pessimista - ela saltou do automóvel e pareceu instantaneamente animada com a ideia.

Sai de sua bmw e firmei meus pés sobre o chão de pedras que nos levou à porta de entrada. Notei que apesar de quase não haver móveis, era tão bonita e intimidante quanto seu exterior. O hall de entrada estava vazio demais para uma festa como aquela, então chegamos a conclusão de que a bagunça devia estar concentrada nos fundos da casa e não dentro dela. Enquanto atravessávamos os infinitos cômodos, seguindo apenas o barulho da música, fomos descobrindo salas equipadas com karaokê, mesa de bilhar, piano, uma cozinha imensa recheada de coolers, freezers, copos, garrafas e tudo o mais. Estagnadas ali naquele armazém de álcool, percebemos que o movimento ao nosso redor havia aumentado e que, subitamente, era preciso pedir licença a cada três passos.

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