Quatro

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O relógio marcava quatro e trinta e sete da manhã quando Marie e eu atravessamos a enorme porta dupla da nossa casa. Entrar ali ainda me parecia muito como entrar no set de filmagens de Clueless³ em 1995, exceto pela falta de glamour em nós duas. Com os saltos de Tate em uma mão e uma sacola de roupas na outra, tive certeza que aquela fora a festa mais estranha a que já fui.

Subimos as escadas tão lentamente que comecei a rir sozinha de nosso cansaço. Jovens como nós não se cansavam daquela maneira pela madrugada, no entanto, parecíamos duas adultas aos trinta e cinco anos um pouco enferrujadas demais para festejar.

Talvez eu ainda estivesse meio bêbada e por isso Marie não se afetou quando meu riso se prolongou até terminarmos todos os degraus.

- Acho que não preciso dizer nada, não é? - Leverett impulsionou o corpo no meu caminho, interrompendo o curto trajeto até meu quarto. - Afinal, quem está escondendo alguma coisa aqui é você.

- Não acho que esconder seja necessariamente o termo certo - objetei, fechando os olhos e suspirando.

- Procrastinar, então...

Dei de ombros, meio malemolente.

- Hmm, é, talvez seja. - concordei, ainda de olhos fechados. O sono estava lentamente se apossando de mim. - Aconteceu algo na lavanderia...

- Você ficou com Tyler? - interrompeu ela, então os abri num estalo como se tivesse interpretado a pergunta mais como uma acusação.

- Não! É claro que não... - a indignação em meu tom de voz surpreendeu a mim mesma. Qual seria o problema se aquela tivesse sido, de fato, a situação?

- Então o que é? - quis saber ela, o tom de voz meio ríspido. - Estou a noite inteira divagando entre as possíveis alternativas.

Entre um riso e um bocejo, retruquei:

- Aposto que nenhuma das suas suposições mirabolantes chegou perto do que estou prestes a te contar.

- Só vamos saber quando você o fizer - Marie rolou os olhos, saindo da minha frente.

Voltamos a andar até a porta do meu quarto, e Leverett praticamente transpirava ao meu lado por respostas. Aquela garota era um poço de curiosidade, senti-me mal por tê-la feito esperar por horas.

Joguei os saltos e a sacola no chão ao lado do armário antes de me virar para a garota e admitir de uma vez por todas:

- Jason Carter era quem estava na lavanderia comigo, e não Tyler.

Seus olhos azuis piscina quase saíram da órbita, e com uma expressão de espanto, a garota verbalizou todas as coisas que aquela confissão poderia significar.

- Puta que pariu!

Eu assenti e me lancei sobre a enorme cama no centro do quarto. Minha cabeça rodopiou um pouco com o movimento, fazendo-me franzir o cenho e massagear minhas têmporas.

- Vocês se beijaram? - a pergunta fora como um sopro. Marie parecia estar trêmula com as minhas últimas palavras, e não era pra menos, certo? Se minhas próprias pernas pareciam uma maldita maria-mole, Marie deveria estar se sentindo no estado mais líquido possível.

- Bem... não, mas senta aí, tem algumas outras coisas de que você precisa saber.

- Eu prezo por detalhes - anunciou ela, jogando-se ao meu lado.

- Eu direi todos eles.


Domingo sempre me foi um dia muito familiar. Morei durante a vida toda numa cidade onde se você estava enfurnado dentro de casa às quatro da tarde de uma terça-feira, algo com certeza estava errado. Os horários entre Richie, Ana e eu eram completamente distintos, quando um entrava outro sempre estava saindo, tanto que não foi preciso selar um acordo verbal para que reservássemos os domingos para ficarmos juntos. Foi uma coisa natural; de repente, todos os domingos tornaram-se oficialmente o dia de Breaking Bed e pipoca amanteigada.

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⏰ Última atualização: Jul 05, 2017 ⏰

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