BEIJO DE SANGUE

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- Escrito por Nilton Trovó - 

- Escrito por Nilton Trovó - 

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Boston, 1850.

Do alto da torre do campanário, Mefistófeles acompanhava o movimento na rua de pedra polida. Tantas pessoas, pensou ele, tantas mentiras. Ele tinha aversão aos humanos, os observava há séculos e durante todos esses anos suas ações foram sempre às mesmas. Quando mais ricos e mais poderosos, mais podres.

Ele deixou a janela por um tempo. O sol ainda estava se pondo e o vampiro não arriscaria ficar com a pele queimada. Seu quarto era escuro, com cortinas pesadas e grossas, todas na cor vermelha. Seus pertences eram poucos, algumas roupas pretas, casacos de corte perfeito, com botões grandes e vistosos. Se havia algo em sua vida que ele gostava, era de se vestir bem. Seu acessório preferido era a cartola, uma peça única, feita por Martin, um dos maiores alfaiates da cidade. Isso há oitenta anos.

Ao contrário do que diziam nas histórias, os vampiros não dormiam em caixões. Mefisto adorava sua cama, seu colchão de espuma e seus travesseiros de pena de ganso, tratando-as como verdadeiras obras do descanso.

Quando o sol se pôs por completo, ele se vestiu com seu casaco longo e colocou sua cartola, agarrando uma bengala de cedro, e dirigiu-se à cidade. A lua estava cheia, brilhando como se estivesse viva. Não havia nuvens no céu, apenas a noite bela. Boston ganhava vida extra à noite, com as meretrizes em seus trajes reveladores e os homens procurando por seus serviços. Os bares e tavernas acendiam suas velas e serviam bebidas e pratos suntuosos. No entanto, não havia apenas a beleza; à noite, a cidadela trazia consigo uma realidade obscura, o lado negro do seu primórdio. Os pobres inundavam as vielas e os becos, pedindo dinheiro e comida, assaltando os desavisados; matando até os que reagiam. Aquele era o reflexo do progresso, pois quanto mais rico os brancos ficavam, mais pobres os negros e lavradores permaneciam.

Mefisto caminhou para o centro da cidade, onde existia a taberna Jovem Dama. Normalmente, ele ficaria longe desses lugares, ainda mais por esse em particular ser frequentado pelos poderosos da cidade. No entanto, hoje era uma noite diferente, especial; a lua o incentivava, levando sede de sangue aos seus lábios.

Uma vez dentro da taberna, escolheu uma mesa solitária ao canto, longe de todos, mas, ainda assim, ciente de tudo o que estava acontecendo. Havia incontáveis tipos de pessoas no recinto, trajadas de forma extravagante. Mulheres com vestidos bordados e com leques em suas mãos, fofocando umas com as outras. Ele as odiava mais do que os homens. Aquelas supostas damas eram podres, se apegavam ao dinheiro e não ligavam a quem prejudicavam.

Um dos homens lhe chamou atenção, ele era baixo e parrudo, com uma barba bem feita e um monóculo preso ao seu olho direito. Ele ria e exibia um escravo vestido com trapos. O negro tinha o rosto calejado de tanto apanhar e olhava para baixo, temendo o que seu dono poderia lhe afligir.

Mefistófeles se levantou e foi em direção ao espetáculo bizarro.

— Com licença — pediu enquanto colocava a mão sobre o ombro do homem. — O que este homem lhe fez para estar sendo exibido como um animal?

Vampiros, Gordura e um pouco de LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora