Capítulo 14

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Não era um galpão muito grande. Havia lixo e entulho espalhado pelo pavilhão. Ao fundo, uma escada levava para o que deveria ter sido um escritório suspenso. Alguns fios denunciavam que era ali que alguém poderia se abrigar e se esconder. Uma trincheira naturalmente construída. A operação ganhou volume com a chegada de viaturas da Polícia Militar. Os policiais cercaram o prédio e começavam a tomar posições. Ninguém sabia se o galpão estava vazio. E a vida de Juliana estava em jogo. Era preciso muita cautela.

Mas, quando se tem uma sombra ao seu lado, tudo fica mais fácil. Notei que Pena sumiu por alguns segundos. Aquilo me irritou profundamente. O cara estava grudado em mim todos os minutos do dia. Não tinha sossego nem para ir ao banheiro. Agora, no momento mais delicado, ele vai embora? Não era possível. Mas a sombra voltou com más notícias. Ele não está aqui. O prédio está vazio. Eu aviso Carlão de que o escritório está vazio, que podemos avançar e tomo uma resposta inesperada.

– Como assim, você é médium agora?

– Ele sinaliza para que o grupo tático avance com cautela. Os policiais se esgueiram pelas paredes, andando com dificuldade entre as pedras, e sobem as escadas. Menos de um minuto depois vem o primeiro aviso, depois seguido por vários.

– Limpo!

– Limpo!

– Limpo!

O galpão estava vazio. Carlão me olhou sem disfarçar o espanto. Não disse nada.

– Ele esteve aqui. Não tenho a menor dúvida. – Disse Pena.

Havia objetos espalhados pelo escritório. Uma cama improvisada estava armada num canto. Os policiais encontraram armas, algumas ampolas com drogas, seringas, papéis, muitos papéis, e algumas fotos.

– Como você sabe que era ele quem ocupava esse local? – Ainda duvidei do experiente detetive Pena.

Ele apontou para as fotos em cima de uma velha mesa. Haviam fotos minhas, tiradas em vários momentos. Entrando ou saindo do apartamento, na estação do metrô. Na padaria. O cara estava obcecado por mim. Mas também havia fotos mais recentes, que ele tirou da casa onde eu vivia com meu pai. Provavelmente depois do tiroteio.

Pena quis ser cuidadoso como sempre. Ele pediu que chamássemos a perícia. Queria saber se Juliana havia estado ali. Carlão concordou com a minha recomendação. Telefonou para o Distrito enquanto analisávamos melhor o local. Encontrei alguns recortes de jornal da época em que meu pai estava na ativa.

– Ele estava confiante de que não encontraríamos esse lugar. Senão não teria deixado tanta coisa para trás – disse Pena, enquanto observava o local.

– Mas ele também não estava seguro o suficiente para trazer a Juliana para cá – comentei.

– Ele pode ter trazido. É isso que eu quero que a perícia confirme. – Pena apontou para algumas manchas de sangue no chão. Entendi de imediato qual era sua preocupação.

– Mas o sangue também pode ser do nosso criminoso. – Argumentei.

– Agora deu pra falar sozinho? – Perguntou Carlão, se aproximando de mim.

– Eu tenho o costume de pensar alto. Ajuda no raciocínio – justifiquei. Principalmente quando tenho uma sombra muito mais eficiente do que eu, nesses casos. Pensei.

Ele se abaixou para ver as marcas de sangue.

– Você tem razão. Precisamos dos peritos aqui com urgência.



Esperamos alguns minutos pela polícia técnica. Com a câmera do Pena eu me antecipei e fiz algumas fotos do local. Assim que os peritos chegaram, pedimos para que liberassem logo o material que estava na mesa. Queríamos levar aquilo para o Distrito. Aquelas fotos poderiam nos indicar um caminho. Alguns investigadores do grupo foram para a rua, ouvir os vizinhos. Tínhamos que saber qual era a rotina dele nesse local. Se é que alguém percebeu alguma coisa. Nas proximidades havia outros galpões abandonados, o que sugere uma rua bem agitada. Vizinhos costumam não ver nada, nesses casos.

O Mistério da SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora