Capítulo 11

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Eu sempre fui um cara reservado. Agora, de uma hora para outra, descubro que passou a ser essencial à minha sobrevivência melhorar minha capacidade de fazer amigos. O meu grande problema, nesse momento, era atrair para o meu lado o parceiro do Pena. Outro policial que acreditava piamente que eu era o culpado pela morte do seu melhor amigo e que estava doidinho para por as mãos em mim, quem sabe não fazer coisa pior.

Decidimos que Juliana seria a nossa intermediária. Também decidimos que não entraríamos em detalhes sobre a presença do Pena no grupo. Aquele não era um bom momento para tentar convencer um detetive extremamente cético de que estávamos trabalhando com um fantasma. Juliana ligou para o celular do Carlão e marcou um encontro num café que ficava perto do seu apartamento. Vamos ver como ele reagiria.

– Dra Juliana, está com algum problema? – o detetive chegou ao café, todo esbaforido. Parecia que estava com pressa.

– Oi, Carlão. Eu queria saber se tem alguma novidade na investigação.

– Pois é, estamos na maior correria. O garoto sumiu. Nós ainda não sabemos como ele conseguiu escapar do hospital. Deixamos dois policiais vigiando a porta do quarto e, do nada, os dois resolveram sair para tomar café. Até agora eles não conseguiram explicar porque fizeram isso. Eu não sei. Eu acho que ele contou com a ajuda de alguém.

– É possível – se ele soubesse quem estava ajudando... Ela pensou – Existem outras pistas?

– Nós deixamos policiais vigiando a cena do crime, a casa do garoto e até o apartamento do Pena. Até agora nem sinal do rapaz. Parece que ele desapareceu.

– E a balística? Vocês pediram exame de balística?

– Por que você está perguntando isso?

– Porque a balística vai mostrar que o rapaz é inocente.

– Eu não estou entendendo. Onde você quer chegar?

– Carlão, o Pena estava trabalhando numa outra linha de investigação. Ele não estava convencido de que o garoto estava por trás daqueles crimes.

– É, eu sei. Ele chegou a me falar alguma coisa, mas não deu detalhes. Eu sei que o dr. Arruda está alucinado. Ele está berrando na Delegacia. Disse que se o Pena tivesse prendido o rapaz quando teve chance, ele ainda estaria vivo.

– Talvez estivesse. Mas eu concordo com o Pena. Os crimes têm outra motivação. Nós conversamos a respeito. As investigações do Pena indicavam outra direção. Alguém estava tentando incriminar o garoto.

– A história das impressões digitais...

– É! Aquilo tudo foi plantado...

Nessa parte, a Juliana havia chutado. Não chegamos a falar com ela sobre isso. Mas esse chute foi certeiro. Carlão balançou um pouco em suas convicções.

– O Pena estava com algumas coisas no carro dele, inclusive uma câmera digital. Ele fez fotos da casa de penhores que podem nos ajudar. Eu preciso dar uma olhada nessas coisas, você sabe onde elas estão?

– Elas estão no meu carro. Eu recolhi tudo que estava no carro do Pena, depois que a perícia examinou.

– E o resultado da balística? Eles já devem ter alguma coisa.

– Eu nem fui atrás. Estamos tão ocupados montando o cerco ao garoto que acabei me esquecendo disso.

– Tem como verificar isso agora?

– Tem. Eles mandam os resultados por e-mail. Deve estar na minha caixa postal. Quando eu voltar para a delegacia eu verifico.

– Que tal verificar agora? Vamos para o meu apartamento. Antes vamos pegar as coisas no seu carro.

O Mistério da SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora