Capítulo 16

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Naquele momento me ocorreu o triste destino de dona Marieta. A pobre mulher já devia estar morta. Tentei lembrar como era a casa por dentro. Havia um portão lateral, a garagem... Ela tinha uma horta nos fundos, um terreno enorme e que deveria fazer divisa com essa rua. Baixei o vidro do carro e comecei a observar os muros. Um pouco mais a frente havia algumas árvores. Devia ser ali. Naquele horário já não tinha muito movimento na avenida. Alguns carros passavam esporadicamente. Observei as casas vizinhas. Ninguém na janela, ninguém no portão. A avenida era mais movimentada e bem diferente da rua da minha casa. Desci do carro e caminhei rente ao muro até as árvores. Precisei ficar na ponta dos pés para conseguir ver algo. Era ali.

Fiz sinal para o Carlão para que viesse até mim. Um carro se aproximava. Demos um tempo. A última coisa que queríamos era alguém telefonando para a polícia para denunciar dois assaltantes tentando invadir uma casa. O Pena já estava do outro lado do muro, fazendo sinal para mim.

– Pode vir. A barra está limpa.

– Só pra você a barra pode estar limpa! – retruquei.

– O que foi que você disse? – perguntou Carlão, um tanto confuso.

– Nada, nada. Só pensei alto.

– Esse não é um bom momento para pensar alto. Tente pensar baixinho da próxima vez.

Aquilo não poderia estar acontecendo. Quando me preparava para pular o muro, Carlão me puxou pelo cinto. Pegou algo preso à sua perna e me entregou.

– Você vai precisar de uma dessas.

Era uma arma. Mas eu não sei usar armas. Nunca atirei na minha vida.

– Eu não sei usar isso.

– É uma 38 simples. É só soltar essa trava apontar e pressionar o gatilho. Fique com ela e só use se realmente for necessário.

Peguei a arma e verifiquei a trava. Tinha que saber como funcionava aquele troço. Girei a trava de um lado e para o outro e confirmei com Carlão se era aquilo mesmo.

– Isso. Mantenha travada. Não vai querer dar um tiro na sua própria perna.

Coloquei a arma atrás, presa no cinto da calça, e cobri com a camisa. Hora de pular o muro e seja o que Deus quiser! Carlão deu um tapinha nas minhas costas, indicando que estava tudo limpo. Pulei e corri para trás de uma árvore. Carlão pulou em seguida e escondeu-se atrás de outra. Começamos a descer em direção ao corredor lateral, tentando fazer o mínimo de barulho possível.

Antes que eu chegasse ao corredor, Pena parou na minha frente, retendo meu movimento. Carlão notou que eu parei e se exasperou. O que foi agora! Pareceu sussurrar! Fiz um gesto para que ele esperasse um minuto.

– Eu verifiquei dentro da casa – sussurrou Pena.

Agora foi a minha vez de me exasperar! Por que o sussurro? Ninguém pode ouvi-lo! Pena pareceu entender meus gestos e expressões.

– Ok. Desculpe. Verifiquei dentro da casa. O homem está parado diante da janela da sala, na parte da frente da casa. Há uma porta lateral que dá acesso à copa. O problema é que ela fica muito perto da sala. Se entrar por lá ele vai ouvir.

Eu não podia falar nada, não queria correr o risco de fazer barulho. Nem pagar mico na frente do Carlão, que continuava me observando. Eu já devia estar parecendo um maluco, sem abrir a boca. Fiz um gesto com a mão, indicando a possibilidade de caminhar até a porta da frente. De qualquer forma, Pena estava entendendo minhas expressões, o que facilitava muito aquele diálogo de outro mundo. Aparentemente Carlão também entendeu o que eu quis dizer e balançou a cabeça negativamente. Pena, por sua vez, concordou comigo. Seria arriscado, mas era nossa melhor alternativa. Aquela situação estava começando a ficar surreal.

O Mistério da SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora