Não demorou muito para que o celular de Rachel começasse a vibrar incessantemente em cima da mesinha de madeira posicionada próxima à lareira. Ela atendeu e, com um tom apressado, explicou a mim e ao Jacob sobre como precisava resolver alguns assuntos antes de se encontrar com Paul. Pegou a mochila e, antes de passar completamente pela porta, lançou um olhar de perdão, lastimando não poder ficar mais conosco naquele momento. Sorri de lado, a tranquilizando para que fosse sem estresse.
Quando desviei os olhos da porta, meu olhar caiu sobre a camisa xadrez de Jacob, sobre sua boca carnuda, e parou em seus olhos.
- Então... - ele botou as mãos nos bolsos da calça jeans. - Como estão seus pais?
Assinto, um pouco constrangida com nossa falta de intimidade.
- Estão bem. - Olho ao redor da casa, procurando algum assunto que parecesse mais interessante do que aquela conversa automática.
- Vai ter uma fogueira. Hoje à noite. - Ele fala em um tom mais alto. - Acho que os Quileute vão gostar de saber que a filha da Bella está aqui. - Deu de ombros rapidamente, com a mão na parte de trás da cabeça.
- O que é uma fogueira? - Pergunto, relaxando os ombros.
- É um encontro de Quileutes na beira da praia. Contamos lendas, comemos, conversamos, você sabe. - Ele suspira conforme o clima entre nós fica mais agradável. - Posso te dar carona.
Abro um sorriso pequeno, porém sincero. Seu cheiro amadeirado entra pelas minhas narinas suavemente, e a voz rouca me relaxa. Conforme penso no passado e nas poucas memórias que tenho com ele, volto a ficar um pouco apreensiva. Tento afastar esses pensamentos.
- Seria bom. Que horas vai ser?
- À noite. - Ele se senta, parecendo mais a vontade, e fico aliviada.
- Você veio para liderar a matilha. - Comento, sem conseguir esperar mais.
- Sim. Eu... - Seu cenho se franze durante sua procura pelas palavras corretas. - Aconteceu muita coisa por aqui nos últimos anos.
- A revolta dos recém nascidos. - Assenti, lembrando dos comentários que meus pais fizeram.
- Um dos nômades não tomou muito cuidado. - Ele faz uma careta - Não... drenou o corpo, ou sei lá. Ele foi embora e eles começaram a se transformar cada vez mais.
- Vocês mataram todos. - Olho para ele.
- Os sanguessugas? - Ele parece se arrepender da palavra no momento em que a usa. É metade do que eu sou. E ele sabe disso. - Não tivemos muito auxílio externo. Mas tudo ficou bem.
- Estou estudando no colégio da reserva. - Ele sorriu com a notícia, com um olhar nostálgico.
- Em que ano está?
- No último. Quer saber? - me ajeito no sofá, sentindo seus olhos atentos sobre mim. - Quero saber mais do que coisas sobrenaturais.
Ele sorriu e, pelas próximas duas horas, conversamos sobre nós. Ou melhor, sobre eu e sobre ele. O tempo passou voando conforme falávamos sobre música, filmes e todas as coisas superficiais das quais sentíamos falta de conversar enquanto seres sobrenaturais. Por um momento, pude sentir como se ele me conhecesse melhor do que eu mesma, como se nunca tivéssemos nos afastado. Nos demos por conta quando a luz que vinha da janela foi substituído pela escuridão. Impressionantemente, não era um escuro nebuloso, mas um céu estrelado. Sorri, comentando com Jacob sobre as Auroras Boreais que via no Alaska. Nos levantamos e caminhamos lado a lado pela praia. Tirei minhas sandálias para sentir a areia macia sob pés e a água gelada que vinha e ia.
Percebia, pelo canto de olho, o olhar de Jacob sobre mim enquanto conversávamos, e sorri de lado com o conforto que isso me trouxe. Fui tirada de meus devaneios por uma voz masculina, mas não era a dele.
- FINALMENTE! - Um garoto que abraçava Rachel pela cintura ergue um braço em nossa direção com um sorriso no rosto. Suspeitei que fosse Paul.
Os garotos que lá estavam eram muito parecidos com Jacob. O tom da pele e do cabelo era quase o mesmo para todos, e todos tinham a tatuagem na lateral do braço, mas não pude deixar de comparar a estatura alta e forte dele em relação aos demais.
A recepção foi calorosa e animada, com todos me cumprimentando, e as meninas me abraçando empolgadas. Elas eram diferentes. Tinha uma garota com uma cicatriz, que percebi ser Emily. Elas tinham idades distintas e se distribuíam como que em pares com os meninos. Alguns dos mais velhos também estavam lá, e fiquei feliz em rever Billy. Apenas um dos meninos não pareceu muito feliz em me ver. Era o que estava com Emily.
Quando nos sentamos em círculo em volta do fogo, Billy contou algumas lendas da tribo, mas conforme as horas foram se passando, os meninos o ajudaram com a cadeira de rodas e ele, junto com alguns outros anciãos, foram para a casa. A esse ponto, alguns estavam animados, rindo e conversando, e outros abraçavam as namoradas e estavam em seu mundo particular. Tinham meninos desacompanhados, e eram barulhentos. Não paravam de rir, o que arrancava risadas de todos nós também. Percebi que eu estava sendo o par de Jacob naquele momento, sem ter certeza se era uma projeção da minha cabeça ou a realidade.
Uma das garotas, Leah Clearwater, também não parecia ter envolvimento com nenhum garoto, e brincava, falando alto em um canto da fogueira. Fiquei sonolenta e olhei para Jacob, sorrindo de lado.
- Quer uma carona? - Assenti e nos despedimos. Depois de tudo, afinal, percebi que estava na hora de ver Charlie. Faria isso no dia seguinte. Andamos pela praia até sua casa novamente, dessa vez mais devagar pelo meu cansaço. Chegando lá, Jacob abriu a porta do carro pra mim, e soltei um riso baixo sem querer. É engraçado vê-lo sendo cavalheiro. Esqueço que posso correr a distâncias inimagináveis e me torno metade de mim: a metade humana.
Quando entrei no carro, um assunto surgiu: Jacob me perguntara, meio sem jeito, das coisas que me lembrava sobre ele. Não contive o sorriso e, dentro do carro, me virei de frente para ele, pousando minha mão na lateral de seu rosto. Senti-me minúscula e franzi os lábios, permitindo-o ver um natal que tivemos juntos, no Alaska. Um filme de memórias se passou rapidamente, e foi analisando-o que percebi que não tinha nenhuma lembrança de seu lado lobo. Ele pousou a mão em meu pulso enquanto se admirava com a onda de pensamentos que o invadia, e seus dedos atingiram a pulseira de lobo que me dera anos antes. Quando afastei a mão de seu rosto, seus olhos brilharam de encontro aos meus. A forma como ele me olhava me fazia acreditar que poderia ficar ao lado dele sem prazo. Só sentindo o calor que emanava de seu corpo em contato com o meu. Corei e, sem palavras para descrever o que vira, ele me levou ao apartamento em Port Angeles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
After All This Time
FanfictionQuando os Cullen se mudaram para o Alasca, sabiam que era questão de tempo até os Volturi irem atrás de Renesmee. Eles procuravam incessantemente por motivos para tirá-la de sua família e tê-la em seu clã. Com o seu crescimento rápido e necessidade...