Me aproximei da casa branca, subindo pelos degraus verdes e batendo na porta. Ele estava no banheiro do segundo andar. Conseguia ouvir o som da água caindo pela torneira da pia. Conseguia perceber quando ele a desligava. Quando descia pelas escadas numa caminhada rápida e até o pequeno baque de quando sua mão atingiu a maçaneta.
Ele me olhava de cima a baixo, mas quando seus olhos pousaram em meus cabelos acobreados, um sorriso sutil se formou no canto de sua boca e lágrimas encharcaram seus olhos. Me abraçou com força e retribui em igual intensidade.
- Oi, vovô. - Sorri, o olhando.
- Você está enorme. - Ele abriu mais a porta, fazendo sinal para que eu entrasse.
Sua decepção ficou clara quando soube que minha mãe tinha ficado no Alasca. Deve ser difícil, eu imagino. Ele envelheceu nesse meio tempo, os cabelos já atingiram um tom ainda mais grisalho, os pés de galinha aumentaram e ele já não andava com tanta facilidade. Estava prestes a se aposentar, e imagino a monotonia que seria para ele, sozinho em casa.
De qualquer forma, passamos uma tarde agradável. Ele me levou para pescar, e fui de bom grado. Não gosto desse tipo de atividade, mas estar com ele já me fazia feliz. Pescamos com vara, e me agoniou um pouco forçar a paciência quando poderia simplesmente pegar os peixes com a mão. Quando voltamos para a sua casa na antiga viatura, antes da janta, me despedi. Fiquei pensando sobre o que ele dissera. Sempre me contava histórias sobre meus pais, mas o assunto sempre se tornava delicado quando ele falava da amizade de minha mãe com Jacob.
Ficar com ele foi tão fácil que é difícil pensar que teve a mesma idade de minha mãe quando humana. Andei por Forks devagar, na velocidade humana. Era quase uma cidade fantasma. A cerração sempre estava baixa e o céu sempre branco. Andei até a floresta para pegar um atalho e conseguir correr, mas, no meio do caminho, senti algum animal perto. Era rápido. E grande. Dobrei os joelhos e mostrei as presas, em posição de ataque. A fera se movia ao meu redor e eu tentava acompanhar pelo cheiro e identificar o vulto entre as árvores.
E a fera se jogou sobre mim. Um lobo de dois metros de altura, preto como a escuridão, com as presas afiadas, e rosnava para mim durante o salto que pareceu durar uma eternidade. Desviei para o lado direito, vendo-o cair no chão, e um grunhido caçador saiu de meus lábios. Lobos não podiam atacar. Tinha um pacto de paz desde que vampiros e lobos se uniram pela extensão de Washington.
Ele voltou a se virar para mim e nos enroscamos no chão, enquanto eu tentava afastar meu rosto do dele. Fiquei por cima naquele emaranhado de pelos e mordi parte de sua costela, eu acho. Era difícil identificar o que acontecia naquela agilidade. Me lembrei do lado ruim de caçar animais: os pêlos. Cuspi para o lado e sai de cima enquanto o lobo soltava um urro agudo e saía correndo o mais rápido possível, mas com visível dificuldade.
Em minutos, o lobo vermelho acastanhado com o cheiro amadeirado que eu reconhecia se aproximou, correndo. Passou o focinho dos meus pés à minha cabeça, preocupado. Baixei minha frequência cardíaca, pousando a mão sobre a cabeça do lobo. Era a primeira vez que o via assim. Pelo menos que eu me lembre. Seu pelo atingia inúmeros tons de diferentes cores até chegar num cobre semelhante ao de meu cabelo. Seus pelos eram longos e macios, mas, quando ele levantou a cabeça, não mais a alcancei. Ele olhou em meus olhos e vi meu próprio reflexo em sua pupila dilatada. Ele foi para trás das árvores e voltou sem demora, vestindo apenas uma bermuda.
- Jacob. - Murmurei conforme ele andava em minha direção e me abraçava protetoramente, com sua pele quente em contato com a minha, me fazendo sentir a eletricidade de nossos corpos. Encaixei minha cabeça em seu ombro, retribuindo o abraço. - Estou bem. - Falei, ainda baixo.
- Isso não vai se repetir, eu te prometo. - Ele beijou o topo de minha cabeça, como se a intimidade tivesse sido criada em um estalar de dedos. - Ele não tinha aceitado a ideia de se misturar com vampiros. Muita coisa aconteceu desde que você foi embora. - Ele me afastou com as mãos em meus ombros, me olhando nos olhos.
Assenti. Eu tinha tantas perguntas a fazer: Quem era? O que tinha acontecido na rebelião dos recém nascidos? O que acontece quando um lobo é mordido por um vampiro? Mas nenhuma delas saía pela minha garganta.
- Me deixa te levar para a casa. - Ele sorriu de lado, aliviado, provavelmente por não ter visto sequer um arranhão em mim. Assenti novamente, mas percebi que não tinha carro ou moto no meio da floresta e o soltei um sorriso bobo, entendendo o tipo de carona.
Novamente, ele sai e volta transformado. Se sentou e sorri, me sentando e segurando firme seus pêlos com as duas mãos.
Acariciei levemente suas costas e apertei minhas mãos com mais força conforme ele começava a ganhar velocidade e senti o vento gelado se chocar contra meu rosto.
Me sentia livre.
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After All This Time
FanfictionQuando os Cullen se mudaram para o Alasca, sabiam que era questão de tempo até os Volturi irem atrás de Renesmee. Eles procuravam incessantemente por motivos para tirá-la de sua família e tê-la em seu clã. Com o seu crescimento rápido e necessidade...