Capítulo 1

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Prólogo

Estava frio demais, quer dizer já estava antes, mas agora tá ainda mais. E eu insisti em colocar esse casaco fino com nenhuma blusa em baixo, devia ter ouvido a minha mãe. Ela disse alguma coisa de casaco pra mim, ou foi de horário, não lembro agora já que assim que ela começou a falar, eu dei as costas e sai. Muito barulho em casa, minha mãe com aquela batedeira praticamente o dia todo ligada, meu irmão mais velho inventou de virar baterista, justamente, tocar no quarto dele que é ao lado do meu. E, o mais novo não sai daquela porcaria de vídeo-game, o tempo todo jogando jogos de maníaco - talvez, ele vire um. Eu não me encaixo nessa família, nunca me encaixei, se tivesse um outro mundo eu iria querer viver nele.

Olhei a tela do meu celular e vi que já passavam das dez e meia, bufei e sai de dentro do metrô. A estação estava vazia, me virei e segui pra ala esquerda. Já ia colocando meu celular no bolso, quando de repente alguém tomou ele da minha mão numa velocidade surpreendente e subiu a escada correndo. Eu corri atrás e quando sai da estação, avistei a calçada e a rua vazia. Olhei para os lados e não via ninguém, nem o maldito. Andei até o meio-fio e vi uma sombra correndo pra dentro de um beco, parece que jogaram um balde com gelo em mim, porque estremeci na hora. Não sei se era coragem ou medo da bronca que eu ia levar da minha mãe quando chegasse em casa dizendo que fui assaltado, mas eu não pensei, eu só corri atrás do cara e entrei no beco.

Era um pouco estreito, tinham duas latas de lixo de metal nele, uma de cada lado. Eu me aproximei devagar puxando a manga do casaco e tomei um susto, quando ouvi o miado de um gato parado na minha frente com os olhos verdes brilhando. Não tinha muita luz pra iluminar o caminho, mas eu segui em frente. O mesmo gato que havia me dado um susto antes passou por mim e começou a rosnar pro nada, eu parei no mesmo instante e olhei pro vão na minha frente, não tinha nada mesmo, só escuridão.

Eu ouvi passos e comecei a suar frio, já estava imaginando a minha morte. Tão jovem pra morrer, tudo bem que ninguém vai sentir minha falta, mas eu não quero morrer - pelo menos, não num beco escuro. Os passos cessaram e eu soltei a respiração, comecei a dar passos pra trás quando vi um par de olhos vermelhos me encarando como se eu fosse um pedaço de pizza suculenta. Ele veio na minha direção devagar e eu me virei e sai correndo, quando estava quase alcançando a saída do beco, ele apareceu ali tão rápido e eu esqueci que estava correndo e tropecei, ele me segurou e eu não conseguia parar de olhar para aqueles olhos, absurdamente, vermelhos.

Ele era só um pouquinho maior do que eu, mas eu me senti tão pequeno. Então ele sorriu, mas de um jeito que conseguiu arrepiar até os fios do meu cabelo e então eu vi os incisivos dele, eram maiores do que o normal, na verdade, eram assim só os de cima. Ele me olhou com divertimento e abriu a boca pra falar, eu comecei a imaginar uma voz muito sinistra, mas ele falou de um jeito como se eu tivesse conversando com qualquer outro humano.

-Um aperitivo rápido ou mais um pra família?! Você pode escolher, olha que eu não costumo perguntar antes. - depois de dizer, apertou mais forte os meus braços, virou a cabeça e encarou o meu pescoço.

-Vo-o.. O q-quê vo-o-ocê é? - nunca me senti tão assustado na vida, nem quando meu irmão mais velho me trancou na casinha do cachorro em um dia de tempestade.

-Acho que você sabe a resposta. Mas eu ainda quero a minha! Você tem 5 segundos. - ele respondeu com impaciência e me olhou duramente.

Eu não queria nem um, nem outro, eu ia morrer do mesmo jeito. Ainda não estava processando que tinha um vampiro na minha frente, que ele queria se alimentar de mim. Tomara que ele se engasgue com o meu sangue e que se eu morrer, ele vai junto comigo. Eu não tinha mais tempo, fiz a primeira coisa que veio a minha mente.

-Pai nosso que estás no céu, santif.. - comecei a rezar e senti as presas na minha pele, gritei na hora, mas depois não senti dor, só um alívio, uma sensação de conforto, era como se eu tivesse drogado. Sempre li que as morfinas de vampiro provocam essa sensação, mas eu nunca experimentei. É tão bom!

Senti o meu corpo ficar cada vez mais pesado, eu estava deitado sob alguma coisa rochosa e dura, sentia muito frio e muita dor no pescoço. Abri meus olhos e não tinha ninguém ali, tentei chamar por ajuda mas tudo que eu fazia era gritar de dor, de repente avistei alguém ajoelhado ao meu lado, ele estava todo de preto e tinha cabelos grandes e a pele era muito branca. Ele virou meu rosto e franziu a testa ao ver o sangue, eu estava ficando zonzo, mas posso jurar que vi ele levar o próprio pulso até a boca e logo depois, vi o pulso dele sangrando.

Eu ainda estava gritando só que mais baixo agora, ele posicionou o pulso na direção da minha boca e eu parei de gritar. Na verdade, agora parecia que eu estava me engasgando com alguma coisa muito salgada, tentei tirar o pulso dele da minha boca, mas ele foi mais rápido ao segurar a minha mão. Eu vi ele mexer a boca, mas não entendi uma palavra sequer. De repente, eu parei de sentir dor, o frio também havia passado. A minha respiração estava fraca e eu senti a necessidade de fechar os olhos. Eu ouvi um zumbido e duas mãos levantando o meu corpo, depois senti o vento bater na minha pele como se eu tivesse em alta velocidade.

E do nada, eu apaguei.

Não Tão Alto (PARADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora