Capítulo 5

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Tentei respirar mas não consegui, antes que eu me desesperasse, lembrei que não tinha mais essa necessidade especial. Senti algo fofo e macio, eu posso apostar que estou deitado numa cama. Estava tentando abrir meus olhos mas não estava conseguindo, pelo menos eu estava ouvindo vozes, meio baixas mas estava ouvindo. Pelo menos o medo da morte tinha me abandonado, já que como as vozes eram conhecidas, eu sabia que não tinha ido pra outro mundo.

-Quem te garante que ele não vá ter reações? - essa voz era do Richard. Ele parecia estar com raiva e quando não estava?!

-Ao longo da minha experiência, já vi muitos casos assim. Entendo sua preocupação, mas ele vai ficar bem. - essa voz eu não conheço, mas tem uma coisa que ele precisa saber - o Richard não está preocupado comigo, ele só gosta de confrontar a sabedoria das outras pessoas.

-Quando ele vai acordar? - Benny, pela proximidade da voz, ele deve está do meu lado.

-Não sei ao certo, mas não passará das 48 horas. - o cara afirmou, acho que foi mais para o Richard não confrontá-lo de novo. - Seja como for, ele precisa ficar em observação, nada de treinamentos e alimentem-o com sangue de tartaruga ou jabutis por uma semana. Até que o veneno tenha sido limpo totalmente das veias dele.

Todos ficaram em silêncio, até eu ouvir uma voz que eu achava que não estivesse ali.

-Obrigado Doutor. - Dimitri falou para o homem que havia dado as recomendações pra mim, então ele é o médico. Vampiros têm médico?

Ouvi o barulho de uma porta bater e imaginei o doutor indo embora, escutei som de passos se aproximando e senti alguém sentar na cama. Logo depois, senti uma mão no meu ombro esquerdo, reconheci o toque do meu pai.

-Se eu soubesse não tinha deixado ele se alimentar, teria dito pra ele ir logo pra reunião do conselho. - Benny sussurrou.

-Se você não tivesse dito, talvez você ou o Hugo tivessem bebido o sangue daquela corça e ainda sim, estaríamos na mesma situação. Fico aliviado por não ter te acontecido nada e, também por saber que ele vai ficar bem. - meu pai falou com uma voz cansada.

Senti outra movimentação na cama. Dessa vez, eu sei que foi o Richard quem sentou. Pela voz do Benny, ele está sentado de frente pro Dimitri e ao lado da minha cama, como o meu pai está próximo de mim e o Richard é a terceira pessoa no quarto - então, foi ele quem sentou.

-Quando eu vi as veias negras no rosto dele, eu fiquei assustado. Mas a pior sensação foi quando a gente saiu da câmara e ele tossiu sangue. E, agora ele não acorda. O que ele está esperando um beijo pra quebrar um encanto? - então é verdade, ele está mesmo preocupado comigo. E se fosse pra ser beijado, hã.. não consigo nem imaginar o horror que seria.

-Não pensa nisso, meu filho. Assim como você, ele vai se recuperar. O doutor Edgar disse que ele irá acordar, então vamos ter paciência. Eu acredito em Edgar, ele é humano, mas é de confiança. - Dimitri falou com aquela voz calma dele que trazia conforto. Espera aí, o Richard também teve isso? Ninguém me conta nada, incrível.

-Tenho duas dúvidas. Como vamos arrumar sangue de tartaruga? - perguntou Benny a ninguém especial. Eu senti uma pontada na cabeça, bem de leve.

-Podemos mandar algum mensageiro ir buscar, não? Eles sempre viajam pra ilhas. Deve ser fácil de achar alguma. - quem respondeu foi o Richard. Eu ouvi um uhum vindo do meu pai.

-Tá, resolvemos esta questão. O que me preocupa é a minha segunda dúvida. Como vamos manter este inquilino afastado do Sistema? Ele, simplesmente, ama aquele lugar. Parece que é atraído pelas armas de combate. - é, ele tinha toda a razão em se preocupar. Ficar sem treinar, não passava pela minha mente.

-Simples! Você vai ficar encarregado de cuidar do seu irmão. Você tem mais tempo livre e como vocês já vivem juntos, não vai fazer diferença. - essa ordem foi dada pelo nosso pai. Abriu a boca Benny, agora arque com as consequências.

-Isso não vai dar certo. Esse estranho nem me dá ouvidos, como vou fazer isso?! - Benny e eu amávamos nos dar apelidos carinhosos. Ele vai ter que me aturar. Reparei que meus olhos estavam mais leves e consegui piscar. Abri eles bem devagar e sussurrei.

-Eu já estou bem, não preciso de repouso e nem de uma babá. Sem ofensas Ben. - assim que sussurrei ganhei seis pares de olhos, cada um com uma expressão - Richard, de alívio - Dimitri, de confiança e felicidade - E, Benny, de inconformado.

-Estão vendo como ele é teimoso. Que gênio difícil, garoto. Eu hein! - resmungou e se levantou indo em direção à porta. - Vou pegar uma bebida, já volto!

-Tão carinhoso ele, não é?! Um amor de pessoa. Por quanto tempo fiquei apagado? - perguntei assim que o Benny saiu, o Richard sentou no lugar dele. Me observou lentamente, me esquivei um pouco com medo de que ele levasse a sério a história do beijo.

-Umas sete horas. Sim, já está de noite e não, você não vai à festa do lago. Você precisa descansar! - Dimitri falou sério quando eu tentei me levantar, me fez deitar novamente e eu bufei. - Quando estiver melhor, você poderá ir há várias festas.

-Não é uma festa comum, pai. É a festa de celebração fase adulta, quando um vampiro alcança a idade adulta e pode, realmente, ter liberdade de ir e vir. É uma das melhores festas, é como uma tomorrowland, só que ainda melhor. - eu estava falando sem parar, Richard revirou os olhos e meu pai balançou a cabeça negativamente.

-Exatamente, quando você alcançar a fase adulta, não será necessário pedir permissões pra mim. Mas, enquanto isso não acontece, minha palavra é a final. Você precisa ficar em repouso. - ele falou com um tom cansado.

-Se isso te conforta, eu não vou. Nem todos do clã vão comparecer. Mas você pode ficar na Play-Room, vocês jovens gostam de lá não é?! - O Richard já é adulto, mas cara ele adora a biblioteca e eu adoro festas, se a biblioteca fechasse duvido que ele ia estar nessa calma toda.

-Tanto faz. Por quê eu tenho que estar nessa cama em observação, se eu já tomei a vacina pra droga que me aconteceu? Pra quê tanto cuidado? Eu já estou morto mesmo, não é? - falei sem pensar e ganhei dois olhares de reprovação.

-Somos vampiros, Murilo. Mas não somos imortais, vivemos muitos anos, sim. Mas tomando devidos cuidados, não podemos nos arriscar. Enquanto eu puder fazer o impossível pra proteger a minha família, eu farei. Você ficará longe de qualquer atrito que possa interferir no tratamento e ponto. Ouviu? - meu pai falou tão sério, que me surpreendeu. Eu assenti. -Tenho que descer agora.

-Pai. - ele me olhou já perto da porta, já estava com a expressão mais suave. -Desculpa pelas palavras. - Ele me olhou por um tempo e assentiu, segurou a porta e saiu. A porta ficou aberta por um segundo e o Benny entrou.

-Eu já fui rebelde uma vez, quando perdi tudo que eu amava e eu não sabia que amava, eu aprendi a me comportar. Sabe como eu virei filho do Dimitri? - ele me perguntou e eu neguei. -Eu quase morri de peste negra, não tinha nenhuma vacina na época. Os médicos já tinham desistido de mim e aí, eu conheci o Dimitri. Ele me disse que tinha uma forma de me curar, mas que não era muito agradável. Eu não queria morrer, então eu aceitei. Ele me transformou e a morfina, foi mais forte que o veneno que percorria minhas veias. Me tornei o primeiro filho adotado dessa família, depois veio o louco do Benny e aí, você.

-Por isso, você estava tão assustado e preocupado. - ele acenou que sim. - Benny, tem alguma coisa pra me dizer? - Meu pai me deu advertências, Richard revelações, então achei que o Benny também tinha algo pra me falar. Mas, eu ainda tenho que manter a minha boca fechada.

-Eu não ia dizer, não. Mas é você quem está perguntando, então. Eu vou à festa fase-adulta e não vou levar você. - a vontade que eu tinha era de esganar ele. Não acredito que eu não vou a essa festa, eu não acredito.

-Benny.. - Richard o alertou e ele deu de ombros. Eu fechei meus olhos e coloquei meu travesseiro em cima da minha cabeça. -Murilo, olha..

-Eu quero ficar sozinho! Eu preciso de repouso, vocês estão me deixando agitado. Saiam, por favor! - Eu ouvi passos e um bater de portas, ignorar as pessoas é o que eu faço de melhor.

Continuei com o travesseiro na cara, queria tanto dormir, mas vampiros não sentem sono. Então fiquei deitado por um longo tempo e todo barulho que eu ouvia, vinha do silêncio.



Não Tão Alto (PARADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora