Quando estacionou a caminhonete em frente ao armazém de Lilly, Ruby pode sentir os olhares, e quase ouvir os comentários.
Ela nascera e vivera seus vinte e três anos ali, naquela cidade. Bem, não na cidade, mas na pequena fazenda de sua família, há poucos quilômetros da pequena Wichita Falls, Texas.
Mas mesmo tendo sido criada ali, e conhecesse a maioria dos habitantes, muitos dos quais a pegara no colo quando bebê, Ruby sabia que não havia se tornado o que muitos deles esperavam.
Algumas senhoras de mais idade achavam um absurdo a forma como Ruby vivia sua vida. “Não era como uma dama devia se portar!”, muitas diziam. Algumas, com o espírito mais liberal, acenavam para ela sempre que a viam, e a convidavam para tomar um suco em sua casa. Judy, a avó de sua amiga Lilly, até mesmo fazia seu bolo preferido.
Mas, quer gostassem dela, quer não, Ruby não se importava. Ela se acostumara desde cedo com a fofoca, com ser apontada na rua, com as pessoas comentando a sua vida. Sua mãe, Ava, engravidara aos dezessete anos, solteira. Isso fora um prato cheio e suculento para a cidade, sempre ávida por novidades.
Elas viveram com seus avós, que ajudaram sua mãe a cria-la. Quando eles haviam falecido, há treze anos, Ruby ajudara a mãe com a fazenda. Aprendera tudo o que podia, e fazia mais do que dava conta. Fora uma época difícil, quando só haviam as duas e o casal Harry e Sophie, que eram o capataz e a cozinheira. Mas elas haviam conseguido, e quando Ava morrera há cinco anos, a fazenda estava estabilizada financeiramente. Elas haviam expandido a fazenda, aumentado o rebanho e contratado alguma ajuda.
Apesar da vida difícil que tinham, Ava sempre fizera questão que Ruby se socializasse, tivesse amigos, namorasse. Certa vez ela lhe dissera que se tivesse conhecido outras pessoas, tivesse mais malícia na vida, não se deixaria enganar tão facilmente por seu pai. E ela não queria isso para sua filha. Ela queria que Ruby se divertisse, conhecesse pessoas, e quando um cafajeste cruzasse seu caminho, ela saberia identificá-lo.
Mas foiduas semanas após a morte de sua mãe, que Ruby soube como ela estava errada.
Ela namorava Peter há três meses, e estava apaixonada por ele. Estavam sozinhos no sofá de sua casa, e estavam se beijando apaixonadamente. Com um pouco mais de um mês de namoro, os toques, os beijos foram ficando mais intensos e insistentes, mas Ruby conseguia se afastar antes que ficasse mais sério. Ela podia ver nos brilhantes olhos azuis do namorado como ele a queria, mas ela não estava pronta.
Uma semana antes de sua mãe morrer, Peter finalmente verbalizara seu desejo, deixando claro que queria levar o relacionamento deles ao próximo nível. Ruby lhe dissera então que não estava pronta, e que eles deveriam amadurecer a relação primeiro.
Peter não ficara satisfeito com sua posição, e passaram dias sem se falar. Mas então Ava morrera, e ele estivera ao seu lado no momento difícil.
E fora naquela noite, duas semanas após o falecimento de sua mãe, que Peter decidira que era a hora de fazerem sexo. Eles estavam na sala, se beijando, e Ruby se afastara antes que as coisas saíssem do controle.
Mas, aparentemente, Peter estava cansado de esperar. Ele continuara beijando-a, sussurrando como a amava e como seria bom. As mãos percorriam seu corpo, encontrando o pequeno seio que ele apertou suavemente. No passado, quando acidentalmente, ou não, ele a tocara de forma mais intima, seu corpo respondera com um agradável calor.
Mas, nessa noite, Ruby só conseguia sentir o medo sufocando-a. Pedira para que ele parasse, e Peter a calara com um beijo, sua língua invadindo sua boca com paixão desenfreada, e quando Ruby percebeu que não conseguiria empurrá-lo, ela o mordeu com força.