Bibury

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O helicóptero de socorro pousara no meio do campo de futebol quarenta minutos após o chamado. A chuva havia dado uma trégua e apenas um fino e frio chuvisco era persistente. Peter esperara o helicóptero sumir da sua vista com o corpo de Heather a bordo. Não havia um fio de vida em seu rosto, um brilho. Apenas nada em seu coração, um novo vazio se instalava.

― Você precisa se trocar. Precisa descansar.

― Por que as pessoas que eu amo sempre morrem?

Mitch olhou nos olhos do melhor amigo. Ele não sabia dizer ao certo o que se passava na mente de Peter. Estava despedaçado, horrorizado. Em choque. Mas uma vez, uma pessoa que ele gostava havia sido assassinada. Heather era tão inocente, boa. Fazia Peter ter momentos calmos e felizes. Por que dar a ela um fim tão horrendo como aquele?

Além de tudo, como ele sabia que Heather estava vivendo um momento de terror?

― Eu vou ficar bem.

― Precisa de um banho. Sua roupa está toda suja de sangue...

Peter acabou ali mesmo a conversa e seguiu até a escada do lado direito. Alguns polícias estavam andando pelo perímetro, atrás de algo que pudesse ajudar a descobrir algo sobre o incidente. O quarto de Peter estava fechado. Ou melhor, interditado. A porta havia sido encaixada de qualquer maneira e fitas amarelas de "Não ultrapasse" estavam presas a ela.

― Que droga ― Peter exclamou quando vira aquela cena. Havia esquecido completamente que ele não poderia entrar em seu quarto até os investigadores chegarem. Afinal, era uma cena de crime.

― É um incômodo, não é?

― O que é um incômodo, Toddwell?

― Alguém morrer na nossa cama.

O loiro sorria. Aquele sorriso que Peter tanto odiava. Ele carregava segredos e tanta ironia que irritavam só de pensar nele. Era a primeira vez que trocava palavras com Todd Wostenholme sozinho assim.

― Eu pergunto se ao ver Heather cheia de sangue na sua cama, sabe, toda morta... Você foi capaz de lembrar de algo antes do coma? Tipo seus pais mortos?

― Você é um idiota ― fora tudo o que Peter conseguira responder com pressa. Ainda tentava processar tanta crueldade naquelas palavras. Era a primeira vez que o via falando coisas do tipo e isso apenas confirmava que ele não valia o pão que comia todos os dias no café da manhã.

― Pelo menos não sou cego. Sei identificar quem está mentindo e que não está mentindo pra mim. E sei usar isso a meu favor. Quando vejo você todo confuso com as pessoas ao seu redor e sobre você não lembra da sua vida antes do coma, penso que aquela traidora fez um belo trabalho ao manipular suas memórias. Isso eu não posso negar de maneira alguma.

Respirou fundo e deu meia volta. Enfrentar Todd naquela hora seria uma ideia terrível. Ao invés disso, ele seguiu pelo corredor até chegar no quarto de Mitchell. Adentrou o recinto e foi até o banheiro. Ligou o chuveiro e ali ficou. Soluçando até que sua cabeça estivesse a ponto de explodir de tanta dor.

Peter fora liberado do resto das aulas do dia que ainda passava e do dia seguinte. Havia sido transferido de quarto e já providenciavam novos uniformes para ele. Enquanto eles não chegavam, ele apenas colocou uma roupa de Mitch e foi ao seu quarto novo, se jogando naquela cama dura e de um cheiro estranho.

Chorou tudo o que podia e no fim, não havia mais nada.

Heather havia ido embora para um lugar muito distante e nunca mais voltaria.

Elementais - MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora