Seokjin esperava ser atendido há cerca de 30 minutos, sentado naquele banco que, mesmo acolchoado, parecia-lhe tão desconfortável. A ansiedade fazia seu coração bater descompassado no peito, o sangue correr por suas veias e artérias e o suor sair frio de suas glândulas. Quando chegara ali, às 6h30, o único som que se escutava naquele corredor entediantemente branco (Jin odiava branco; era a cor favorita de Taehyung e, por isso, sempre fazia-o se lembrar do garoto) era o bater incessante de seus pés no chão de acrílico - também branco. Hora ou outra viam-se enfermeiras, médicos ou faxineiras passeando aqui ou acolá, alguns apressados, outros calmos até demais. Foi a partir das sete horas que os primeiros pacientes apareceram, enchendo o espaço com suas vozes, gemidos de dor, choros e passos ecoantes.
Jin mal conseguia pensar àquela altura; o barulho era tão excessivamente alto e incômodo que a única coisa que passava por sua cabeça era como ele queria que todos calassem a boca. Todas aquelas pessoas pareciam caçoar de sua cara - só por olharem para ele ou simplesmente aparentarem estar em um estado pior que o seu. Os olhares indagadores direcionados a si só faziam-no pensar em quão fraco ele era por estar sentado ali, esperando teu nome ser chamado para que pudesse ir à sala de cirurgia e finalmente conseguisse tirar Taehyung de seus pensamentos e pulmões.
Ele se sentia um fraco, mas não mudaria de ideia. Faria a cirurgia para arrancar as margaridas dos pulmões, matar o jardim de Taehyung e enterrar com ele suas lembranças com o garoto. Seokjin pagara caro por aquilo e não seria agora que se daria por vencido. Ele não sentiria mais aquela dor ao ver seu amor suspirando por outra garota; ele não mais acordaria de madrugada tossindo pétalas para todo canto, manchando seus lençóis e preocupando sua mãe; ele não morreria por Taehyung.
Houve uma época em que Jin achava a ideia de morrer de amor uma atitude nobre. Ele adorava escutar aquela lenda japonesa, onde os pulmões de uma pessoa não correspondida enchiam-se das flores favoritas da amada, que eram tossidas para fora durantes três estágios: primeiro as pétalas, depois flores inteiras e, então, um buquê, acompanhado da morte mais bela que Seokjin conseguia imaginar. Mas isso foi antes de ouvir seu amado declarar amor à outra pessoa que não ele, fazendo nascer, como consequência, o primeiro broto de margaridas em seu peito.
E agora ele estava ali, aguardando para poder arrancar todo e qualquer restígio de Taehyung de seu corpo.
- Kim Seokjin, por favor.
Foi às 7h30 que ouviu seu nome ser chamado. Dirigiu-se pelos corredores insistentemente brancos, sendo guiado pelo médico de cabelos grisalhos que comandaria sua cirurgia. Os dois chegaram finalmente numa salinha, após alguns minutos - que mais pareceram horas para Jin -, onde o paciente foi instruído a tirar sua roupa e vestir a que o hospital disponibilizava. Em pouco tempo, Seokjin via-se deitado a uma maca que era arrastada pelos corredores.
Como havia ido sozinho ao hospital, a única coisa que o garoto via eram as lâmpadas acesas, presas ao teto, se afastarem conforme era empurrado à sala de cirurgia. Seus ouvidos não captavam nada além de seu próprio sangue sendo bombeado e o arrastar das rodinhas pelo chão de acrílico. Nada de rostos familiares, nada de vozes reconfortantes dizendo-lhe que tudo ficaria bem. Era só ele, os médicos e as margaridas de Taehyung, que logo seriam puxadas pela raiz.
Na sala de cirurgia, o médico informou-lhe todo o procedimento, uma enfermeira aplicou a anestesia e Seokjin não viu ou ouviu mais nada. Tudo o que via resumia-se em uma infinita negritude, onde o garoto encontrava-se em pé.
Até que uma risada ecoou nas paredes de sua mente. Uma risada gostosa e inconfundível. Logo em seguida o sorriso retangular e bangela a acompanhou e Jin viu-se perdido naquela imagem. À sua frente, preenchendo o preto daquele lugar, um Kim Taehyung de cinco anos sorria para si após vencer do mais velho no pique-esconde.
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hanahaki byou | 愛
Fiksi PenggemarOnde Seokjin queria esquecer da dor que sentia, queria esquecer Taehyung e suas flores; Jimin não se importava em morrer de amor por Jungkook, não se aquilo significasse salvar seu jardim; E Yoongi amava Hoseok, com todo o seu relicario de lí...