O Corredor da Morte

34 3 1
                                    



Quando o dia seguinte à briga chegou, eu conversei com Bryan e lhe disse que decidi ir, ele me parabenizou pela escolha certa e me deu um prazo para estar com todas as minhas coisas prontas para a mudança. Quando o dia chegou, eu apenas sai de casa e entrei no carro, Mary ficou um pouco mais dentro da casa, disse que estava se despedindo.

A viagem foi muito longa e tivemos que dormir uma noite num hotel de beira de estrada, bem, ao menos foi melhor que dormir no carro.

Agora estamos em nosso novo endereço, a cidade de Huntsville, no condado de Walker, procurando o endereço certo. Assim que identifico o número sei que é minha casa, parece de construção recente com base e telhados brancos que contrastam com o amarelo das paredes externas. Mary se animou de maneira indescritível quando viu a nova casa, ela parecia aceitar melhor a idéia da mudança.

Saio do carro sem carregar qualquer mala, buscarei isso mais tarde. Subo os poucos degraus da varanda de entrada e ouço o estalar leve da madeira nova, a porta está trancada então me lembro das chaves no meu bolso, abro a porta e enquanto Mary entra, eu, me demoro mais do lado de fora. As janelas da casa têm a moldura branca e as vigas que sustentam a varanda também, a cerca está a uma boa distância da varanda e a casa de nossos vizinhos também está distante, ao menos isso.

Entro. A minha direita tem ganchos de carvalho que já seguram o casaco que minha esposa trazia nos braços, na sala de estar havia estofados antigos, as paredes brancas e um lustre simples pendendo do teto. Quando chego à cozinha Mary está olhando tudo atentamente depois se vira para mim e fala:

- Eu gostei dessa casa, o bairro parece bom e o clima só é um pouco mais seco do que na Califórnia... Talvez não tenha sido uma má idéia vir para cá afinal.

- Vou tomar um banho e me deitar um pouco, quando você parar de admirar a cozinha nova pode começar a usar ela para fazer o almoço.

Dito isso eu viro as costas e volto para o carro, pego três malas e subo as escadas para o andar de cima, olho todos os quartos até o fim do corredor onde está o principal, o cômodo mais próximo desse tem um berço e alguns poucos móveis para um bebê, com certeza Mary vai achar tudo empolgante já que sonha em ter filhos, mas eu não compartilho deste desejo.

Meu quarto tem uma grande cama de casal de madeira escura, talvez mogno, tem uma varanda que dá para a lateral da casa e abaixo desta tem algumas poucas flores, volto para dentro do quarto e caminho em direção ao banheiro que tem no mesmo. Em seguida me deito, amanhã já tenho que ir trabalhar e a prisão não fica tão longe de casa.

Quando acordei senti minha pele levemente grudenta e minhas roupas pouco molhadas, havia suado enquanto dormia. Percebi quando me sentei o cheiro suave pairando pela casa, Mary claramente estava cozinhando, a cada passo mais próximo da cozinha conseguia escutar o som da voz de minha esposa cantarolando uma musica qualquer. Ao chegar ao cômodo sentei-me à mesa, que como a cama do quarto principal, parecia ser mogno, Mary nos serviu e então se sentou junto a mim para comer.

O dia se passou com certa rapidez da qual até gostei, queria voltar ao trabalho o quanto antes. Assim como fazia quando morava na Califórnia, assisti a meu programa de TV noturno e dormi, mas sem me esquecer do despertador.

[...]

Mesmo de carro demorei cerca de trinta minutos para chegar ao meu novo local de trabalho, a Ellis One Unit. Caminho pelos corredores até a sala do diretor da prisão, Will Jones, chego frente à mesma, levanto a mão na altura da clavícula e bati três vezes com força mediana.

- Entre – Disse a voz grave e ligeiramente rouca devido à idade.

Abro a porta e com cinco passos me ponho de frente à grande mesa de madeira clara, atrás desta havia, em pé e com a mão estendida, um homem entre cinqüenta de sessenta anos vestido com calça social e camisa. Prontamente aperto sua mão e, esta me indica a cadeira à esquerda de meu corpo.

- Deve ser o senhor Ross, eu ouvi muitas coisas ao seu respeito.

- Espero que boas coisas senhor Jones – Digo com um pequeno tom de humor na voz enquanto me sento.

- Na minha prisão eu só admito bons profissionais, se foi convidado a trabalhar nesta instituição, acredite, ouvi boas coisas ao seu respeito – Ele diz procurando algo, e depois de abrir três gavetas ele encontra. Papeis, especificamente meu contrato de trabalho, eu os assino e me levanto juntamente ao senhor Jones.

- Passe no bloco um e procure o guarda Evans, ele vai te dar um uniforme e te dizer onde deve ficar, tenha um bom dia.

Concordei com a cabeça e dei meia volta saindo da sala, caminhei até o local indicado e perguntei a algumas pessoas onde se encontrava o homem que eu procuro. Logo eu mesmo o acho sentado em uma mesa com uma xícara de café e um jornal em mãos.

- Senhor Evans? – O senhor grisalho de bigode bem penteado levantou o olhar para mim.

- Sim?

- O diretor me pediu para procurá-lo, sou novo aqui.

- Deixe-me adivinhar, precisa de um uniforme? – Levantou uma de suas sobrancelhas grosas.

- Sim, e também preciso que me defina um posto.

Ele se levantou, colocou o jornal sobre a mesa e caminhou até outra sala cheia de armários de ferro com cadeados, ele parou de frente a um e o abriu.

- Este agora é seu, tem um uniforme e coturnos, se vista.

Dito isso ele se virou e se recostou na porta do lado de fora, me troquei deixando as roupas que vestia anteriormente no armário e o fechei. Quando o fiz Evans olhou para dentro da sala.

- Venha.

Eu o segui pelos longos corredores de celas até que estivéssemos no bloco três, ele então parou na entrada e me disse:

- Este é o corredor da morte, é um local tranqüilo que não precisa de muito monitoramento, seu turno vai das sete as sete, e de três horas em três horas você vai ter intervalos de trinta minutos e outro guarda irá te substituir – Ele se virou e começou a voltar por onde viemos.

- Obrigado senhor Evans.

Ele me olhou sobre o ombro e sorriu sem mostrar os dentes – Me chame de Charles.


_____________________________________________

Eu demorei para postar esse capitulo pois tinha cogitado desistir dessa obra, mas mudei de ideia e decidi seguir até o fim, alguns vão demorar mais então peço paciência. 

Por Trás da Sentença Onde histórias criam vida. Descubra agora