Um Assassino

14 2 1
                                    

Meu primeiro dia de trabalho passou terrivelmente devagar e desta forma, a semana.

Tenho que admitir que o Senhor Evans estava certo, o bloco três não precisa de muito monitoramento, chega a ser tediante. Sempre aproveito meus intervalos para contar aos outros guardas as pequenas emoções de ser um policial que atua nas ruas, dessa forma fiz alguns amigos. Acabei por aprender um pouco sobre os presos, apesar de parecer, o corredor da morte não era tão grande quanto eu imaginava, tem apenas dezesseis celas.

Eu gostava de caminhar de uma extremidade à outra do local de vez em quando apenas para me ocupar, e é exatamente o que estou fazendo agora. Observo pelas grades espaçadas, as várias locações vazias, eu sou pago para vigiar apenas seis detentos, sendo cada um em seu próprio espaço significa que não haverão brigas e é melhor desta forma.

Eu li a ficha de cada um dos condenados, preciso saber com quem eu estou lidando e do que são capazes, lembro deles pelos crimes e não pelos nomes,  ainda não tive tempo suficiente para isso. A minha esquerda passo por um homem que matou a própria filha após violenta-la, e em seguida à minha direita um ladrão de banco cujo o assalto deu errado e ele acabou matando um refém, na cela ao lado está seu comparsa, novamente a minha esquerda estava um maníaco que, ao longo da vida forjou uma condição mental instável e usava esta desculpa para matar inúmeras vítimas, algumas celas a frente estava um cobrador de dívidas da máfia que foi pego torturando um homem após matar sua família e no fim do corredor na última cela a direita estava um bêbado que matou outro numa briga de bar.

Assim que o primeiro intervalo chegou meu substituto veio pegar meu posto e eu me dirigi a saleta onde encontrei o senhor Evans no dia em que cheguei, peguei uma xícara coloquei café e me sentei pegando o jornal que estava sobre a mesa.

- Bom dia John – Disse George se sentando à mesa e se servindo de café também.

- Bom dia – Respondi sem retirar os olhos das notícias no jornal.

George é um dos guardas do bloco um e sempre tem o intervalo no mesmo horário que eu, é um homem negro alto e ao menos para os detentos, intimidador.

Quando meus trinta minutos expiraram voltei ao meu posto e me condicionei a andar de um lado para o outro com impaciência, o tic tac do relógio acima da porta do lado leste parecia mais devagar que o usual, quando o almoço dos presidiários foi entregue eu vi uma cena de fato curiosa. O detento da última cela a direita, o assassino, pegou em algum lugar no cubículo um terço e de joelhos aos pés da cama começou a rezar.

Vou a igreja todo domingo e sei muito bem que tirar uma vida humana vai contra as leis divinas, mas o sujeito não parecia se importar com tal hipocrisia, eu estava parado no meio do corredor olhando fixamente para o homem que agora sussurrava o mantra contínuo. Volto a andar pelo corredor até meu próximo intervalo e assim foi até o fim do dia. Ao chegar em casa no fim do dia, fiz minha rotina no automático e quando minha cabeça tocou o travesseiro fique ainda horas acordado pensando em pedir uma transferência de posto pois já não aguentava o martírio de andar pelo corredor do bloco três.

No dia seguinte, pontualmente ao meio dia, o responsável pela entrega da comida dos presidiários chegou, me atentei para a última cela e vi a mesma cena do dia anterior.

- Por que? – Perguntei em alta voz de frente para as grades assim que ele tirou os joelhos do chão e se pôs a comer a comida de aparecia nada agradável.

O homem não moveu nem um músculo, e alguns segundos depois levantou a cabeça lentamente e pousou o prato sobre as pernas.

- Por que o que senhor? – Tornou ele paciente ainda sentado na cama ele desviou seu olhar e fitou o chão.
- Não é da minha conta, mas por que reza? Tem medo da morte?

- Uma pessoa me ensinou que ter fé é importante – Ele colocou seu prato ao seu lado na cama e se levantou me olhou nos olhos com profundidade – E  não,  eu não tenho medo da morte.

  Eu não entendi a angústia que se escondia atrás da íris escura.

- Como veio parar aqui? Digo,  seu ficha não diz muito.

- Eu matei um homem senhor...- Ele olha com atenção minha farda procurando algo – Senhor Ross, é isto que consta na minha ficha, mas o que realmente me trouxe aqui foram as escolhas que um dia eu fiz – Ele pega sua comida, se senta novamente e sem pressa alguma torna a levar a colher cheia da comida de aparência asquerosa a boca.

Dou um passo para trás, inspiro duas vezes e engulo em seco ao pensar nas possíveis infelizes escolhas que levariam um homem ao corredor da morte, voltando a realidade ando até o fim do corredor e esquecendo do assunto recomeço a torturante rotina de caminhada.

Quando meu último turno acaba vou com certa calma até a sala dos armários e procuro pelo número certo nas portas de lata com pintura cor de chumbo, pegando a chave presa ao cinto destranco o cadeado e pego a única coisa dentro da caixa de metal, as chaves do carro, fecho a pequena porta do cubículo agora aparentemente grande por não haver nada em seu interior. Giro nos calcanhares e me dirijo a porta, depois de virar uma vez a esquerda e outra a direita encontro Charles Evans passando pelo batente da porta de saída, prestes a passar por ele tentando abrir seu carro mal estacionado na vaga demarcada e desgastada no chão, falo:

- Tenha uma boa noite Charles.

- O mesmo pra você John – Diz ele virando apenas a cabeça e dando um sorriso desajeitado por debaixo do bigode multicolor, entre preto, cinza e branco.

Chegando no carro o abro com facilidade e tomo o caminho de casa como todos os dias úteis das ultimas três semanas. Assim que saio do pátio de estacionamento do trabalho piso com mais força no acelerador, por alguns minutos a paisagem a minha volta se resume a vegetação baixa.



Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 12, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Por Trás da Sentença Onde histórias criam vida. Descubra agora