Como Eu Te Vejo

A Melhor Ajudante

- Olha papá! Camila consegue fazer mágica com o lápis. Olha como ele está mooole. Riu a jovem, tranquila.

Camila se divertia brincando de ajudar seu pai no escritório enquanto ele se desdobrava entre papéis e telefonemas. Era um dos passatempos favoritos da garota.

Alejandro sorriu para a filha. Ele gostava de tê-la por ali enquanto trabalhava. Com a rotina corrida, era difícil ter muito tempo livre para a menina e ele aproveitava esses momentos no escritório de casa para conversar e saber o que se passava em sua cabecinha.
- Estou vendo meu doce! Você está ficando habilidosa com esses truques não é? Quem sabe você possa aprender alguns novos para ensinar a tu papá depois da viagem hein?

Ao ouvir sobre a viagem, a garota perdeu uma pouco a animação anterior - Papá tem mesmo que ir? Camila não gosta quando papá e mama viajam juntos.

- É só por uns dias princesa, sua mãe e eu também não gostamos de ficar longe de você, mas essa viagem é muito importante.

- Mais importante que Camila? Ela questinou, cruzando os braços sobre o peito.

Seu pai mordeu o lábio tentando conter um sorriso. Ele sabia que Camila não estava preocupada sobre o trabalho ser mais importante que ela. Estava apenas tentando fazer os pais desistirem da viagem. A doce criatura a sua frente era esperta e manhosa.
- É claro que não querida. Nada para nós é mais importante que você. É por isso que precisamos do trabalho, para vivermos tranquilos, com um lugar para morar, lhe dar bons professores...Você entende?

A pequena havia descruzado os braços e agora olhava para as próprias mãos descansando no joelho. Ela entendia o que seu pai estava dizendo mas ainda não gostava da ideia - Sim, Camila entende, mas fica triste.

- Pois não precisa ficar, você vai se divertir e sua mãe e eu ligaremos todos os dias. Não vai ser legal ter a casa só para você e nenhuma regra? Nada de aprontar hein mocinha!
Alejandro brincou fingindo seriedade, tentando arrancar um sorriso da garota. Sem sucesso. Camila deu de ombros, tentando parecer indiferente mas fungou, demonstrando que estava quase chorando.

-Ei, não fique assim hija, vem aqui me dar um abraço e vamos tratar de melhorar essa carinha. Não quero que fique assim chateada.

Camila se levantou, rodeando a mesa e abraçando seu pai pelo pescoço. Aos poucos ela relaxou e embora ainda estivesse triste, sabia que seus pais estavam apenas cumprindo com seus deveres e as vezes, isso consistia em passar alguns dias fora de casa.
Ela pediria para srta Mildred lhe fazer seus pratos favoritos e levá-la ao parque. Tudo ficaria bem.

Sinu os observava pensativa da porta do escritório. Era grata pela família que tinha, pela vida que levavam e embora sua filha de 15 anos tivesse uma condição incomum, ela não poderia ser mais perfeita. Camila era doce, esperta, alegre e gostava de aprender.
A jovem estudava em casa com uma professora especializada em crianças e adolescentes com particularidades e necessidades especiais. Agora de férias, Camila exigia um pouco mais a presença dos pais, o que fazia a mãe se sentir culpada por trabalhar tanto.
Prometeu a si mesma que passaria mais tempo com ela após a viagem.

- Ei vocês aí, eu também quero um abraço! Sinu fingiu um bico ciumento.

Pai e filha olharam para a porta e sorriram ao vê-la. Ela estava elegantemente arrumada para uma reunião, porém, um avental sujo de farinha e chocolate destoando do look,
indicavam que a inquieta mulher estava fazendo mais do que arrumar malas e pastas com documentos.

- Tem farinha até no seu nariz, mama!

- Ah é? Sinu riu passando uma mão pelo rosto e caminhou para dentro do escritório, unindo-se aos dois em um abraço triplo. - E agora tem farinha em nós três, que tal?

Os outros dois gritaram divertidos e naquele momento, embalados pelo cheiro de biscoitos assando que vinha da cozinha, o clima de tristeza deu lugar a um mais leve e compatível com aquela família.

- Então você fugiu de fazer os biscoitos não é? Não acredito que a senhorita prefere os papéis! A mãe lhe bagunçou os cabelos carinhosamente.

- É que eu sou a ajudante do papá. E a melhor ainda! Camila arregalou os olhos para enfatizar, fazendo ambos rirem antes de concordar.

- A melhor! Disseram.

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- Ela aceitou. Sinu olhou nervosamente para seu marido depois de ver que Camila estava distraída com um carimbo e um bloco de papel.

- Mesmo? Alejandro não precisou perguntar para saber que se tratava de Lauren. - Eu estava certo que ela recusaria. Ainda me preocupo de não ser uma boa ideia.

- Clara acabou de me ligar confirmando. Lauren é responsável. Talvez não muito paciente mas nós a conhecemos desde bebê. Ela não faria nada de mal a Camila.
Os convidei para jantar, assim poderemos discutir melhor os detalhes da viagem e as necessidades de Camila durante nossa ausência.

Alejandro suspirou -  Parece ok para mim. Acho que o jantar dará uma boa chance das meninas se ambientarem. Camila já sabe?

- Camila já sabe o quê? A pequena curiosa perguntou, sua atenção em seus pais assim que disseram seu nome.

Sinu e Alejandro se olharam cúmplices. O drama estava apenas começando.