Segunda, 27 de março de 2017
Rafael havia chegado em sua sala há quase duas horas, olhava os e-mails sem a menor concentração. Por mais que soubesse que o trabalho precisava de sua atenção, a pressão que sofria estava se tornando sufocante. Tinha vontade de jogar tudo para o alto e fechar as portas, era o certo a fazer, o preço que deveria pagar por suas escolhas, mas a menina do sorriso doce e os olhos brilhantes era o único lampejo de esperança.
Queria contar tudo à ela, mesmo correndo todos os riscos. Precisava acreditar que ela o ajudaria, ou pelo menos sofreria com ele quanto fechasse de vez a editora de sua família. Era de certa forma confortante saber que não estava sozinho e saber que ela estava disposta a estar ao seu lado era o último impulso que restara para lutar.
Ouviu uma leve batida na porta e desviou seus olhos, Mariana entrava com os cabelos recém lavados e um vestido leve na altura dos joelhos. Era uma mulher bonita, de curvas discretas, mas bem marcadas, era impossível não a contemplar a cada manhã. Seu jeito doce e descontraído sempre o traziam para realidade, mas naquela manhã ela o surpreendeu com seu comentário logo que o viu.
— Eu gostava da barba.
Rafael a olhou confuso e sorriu discretamente feliz por Mariana ter percebido, e principalmente por ela gostar de algo nele. Levantou-se e puxou a cadeira para que ela se sentasse, não podia dar ao luxo de sair do seu foco. Precisavam trabalhar.
— Mari, eu não sei por onde começar, mas vamos ter que pensar em cortes.
Ela retirou algumas folhas de papel de dentro da bolsa.
— Ontem eu acessei o sistema. Peguei alguns relatórios financeiros. Sei que é um projeto antigo seu a editora, o investimento no ramo literário, mas seria um redução considerável se paralisássemos ela por enquanto. Não precisamos parar completamente, somente suspender por um tempo as novas publicações. — Rafael olhou interessado para as planilhas que ela apresentava. — Quanto a revista, sei que limitamos o número de anúncios, mas se aumentássemos em 10% o número de páginas, buscando patrocínios para algumas colunas conseguimos aumentar as receitas em 40%. Já o jornal precisamos analisar com calma, vou precisar da sua ajuda.
— Gostei das ideias. Ainda não perdemos nenhum recurso, mas precisamos nos preparar. Não posso abrir o jogo completamente ainda. Para sua segurança, mas preciso que confie em mim.
— Já falei que estamos juntos nessa, né. Vou pedir um levantamento detalhado. Esses relatórios não estão detalhados. Mandei um e-mail pro RH pedindo a relação de funcionários, pedi pra mandarem para o seu e-mail. Como não cuidava dessa parte, preciso que você me oriente.
— Vou pedir pra trazerem o seu computador pra cá.
— Rafa, tem o Henrique, eu não sei o que pensou pra ele, mas a contratação dele é mesmo necessária nessa situação. Não tem lugar pra ele.
— O Henrique fica por enquanto, Mari. Eu vou lá tentar resolver isso. Dá uma olhada nesse texto antes de enfiar a cara nos números. — falou entregando uma folha de papel.
Seria um trabalho exaustivo fazer o levantamento de todos os custos. Por ser empresas separadas dificultada a reunião das informações, muitos funcionários trabalhavam para o jornal e para a revista ao mesmo tempo e isso dificultava.
Quando Rafael voltou para sua sala, encontrou Mariana ao telefone com sua mãe. Discretamente prestou atenção na conversa. A mãe ameaçava vir para São Paulo para conhecer alguém que não conseguiu entender muito bem.
Enquanto falava ao telefone, Mariana passava a mão pela nuca e aquele simples gesto distraiu Rafael, mas logo ele voltou para a realidade quando ela desligou.
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Além das Palavras - COMPLETO
ChickLitPrestes a consolidar sua carreira de jornalista e vendo a possibilidade de realizar o sonho de publicar seus livros, a jornalista Mariana reencontra Gustavo, o único homem que amou. Esse reencontro inesperado desperta o desejo de ter uma vida além d...