Capítulo 24

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Quinta, 27 de abril

Mais uma semana chegava ao fim, era quinta e Rafael não poderia ir vê-la no fim de semana. Mariana tinha acabado de enviar um relatório para Gomes e resolveu dar seu dia de trabalho por encerrado naquele dia. Aprendeu que precisava poupar as poucas tarefas que tinha para que não ficasse muito tempo atoa ou que enchesse Gomes ou Rafael quando procurava o que fazer.

Fechou a casa de madeira, que agora era seu refúgio e logo na varanda viu Henrique sentado na beira do lago arremessando algumas pedras. Ele parecia imerso em seus próprios pensamentos.

— Está tudo bem? — Mariana perguntou preocupada se sentando ao seu lado.

— Essa investigação, parece não sair do lugar. Rafael é conservador demais, e infelizmente estamos nas mãos dele.

— O que houve?

— Ele não entrega nenhum material que possa nos ajudar. Agora resolveu não dar mais nenhuma informação, o que dificulta e muito o andamento da operação.

— Eu realmente gostaria de ajudar. Já não aguento ficar enclausurada aqui, e também não fazer nada.

— Precisaríamos das provas, e isso só Rafael tem.

— Vou tentar falar com ele.

— Acho melhor não, o delegado ficou de conversar com ele. Vamos aguardar.

Mariana tocou o braço de Henrique e se levantou, assim como ela era claro que ele queria acabar logo com tudo aquilo. Eram tantas vidas envolvidas, tanta privação que se sentia sufocada.

Quando se sentia assim, desenvolveu um habito de escrever em seu diário, já que muito do que sabia não podia revelar ao seu pai.

***

Quinta, 27 de abril de 2017

Estou farta de ficar escondida na fazenda. Preciso da minha vida de volta, sinto falta da minha casa, das minhas coisas. De ter uma vida normal novamente. Sei que a situação é delicada e que tem muita gente empenhada em resolver, mas me sinto uma múmia parada esperando o dia em que vou poder ter novamente o meu direito de ir e vir.

Quero meu trabalho de volta, quero poder andar de mãos dadas com o Rafa no parque Ibirapuera ou em qualquer outro lugar. Quero poder fazer coisas que antes não era prioridade, mas agora é.

Tenho o que a polícia precisa, por mais que fosse trair o Rafa entregando o material, seria por uma boa causa. Não tenho mais o medo de antes, só quero Cesar na cadeia. Quero ele pagando pelas mortes que provocou, quero justiça.

Talvez eu possa fazer isso, será um mal para um fim. Posso ser mais útil do que uma foragida que passa o tempo planejando uma planilha de custos de uma empresa que precisa de mim. Quanto tempo mais pode durar essa situação? Até quando posso envolver meu pai nisso? Sei que ele investiu pesado nos seguranças e que o Rafa deve estar uma pilha de nervos com esse impasse.

Preciso fazer alguma coisa. Sei que pode não parecer certo, mas tudo que eu mais quero é ver a editora limpa e que eu possa assumir um relacionamento de verdade com o Rafa. Preciso pensar em alguma coisa, sei que a única pessoa que pode me ajudar no momento é Henrique. O Rafa nunca permitiria que eu me envolvesse ainda mais.

Me sinto protegida com tanto cuidado, mas preciso fazer algo por ele. Preciso lutar para ficar do lado do homem que amo. Sei o quanto o Rafa pode ser cabeça dura, as vezes e talvez entregar as provas que a polícia precisa pode ser a solução.

***

Sexta 28 de abril de 2017

Na sexta Mariana acordou determinada, procuraria Henrique e descobriria uma maneira de ajudar. Seu pai não estava na mesa de café e resolveu ir atrás dele no escritório. Arnaldo analisava uma nota fiscal e se assustou ao ver o valor que o reforço da segurança custava à fazenda.

— Veio me buscar para tomar café? — perguntou colocando o papel na gaveta.

— Vim, mas queria conversar com você primeiro, Pai não é certo gastar tanto dinheiro, talvez eu devesse ir pra outro lugar.

— Não vou conversar com você sobre isso. Me sinto privilegiado por poder custear isso.

— Pai, eu me sinto mal por essa situação. As pessoas que mais amo estão preocupadas, eu me sinto impotente.

— A polícia está cuidando de tudo, Mariana. Essas coisas levam tempo. Precisa ter paciência. Tenho conversado com Rafael todos os dias, ele é um bom homem e gosta de verdade de você.

— Eu também gosto dele, pai. Nunca pensei que fosse possível sentir algo parecido. Eu queria poder estar do lado dele agora, ajudar, fazer ele se sentir melhor, mas as vezes não sei como agir.

— O amor tem dessas armadilhas, as vezes nos deixa sem reação. Vocês estão se conhecendo, o importante é seguir seu coração. Nem sempre a razão é o melhor caminho.

— Obrigada pai.

Sem perceber seu pai tinha acabado de reafirmar sua decisão. Se soubesse o que pretendia fazer ele desaprovaria, mas seguiria seu conselho: seguiria seu coração. E sua intuição dizia que ela poderia resolver aquele problema.

Além das Palavras - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora