Ficamos quase uma hora nas contas da minha cabeça sem falar nada, apenas encarando um ao outro as vezes, eu não sei por quê ele me mantém aqui sem nem saber a minha história, ou não se preocupar se sou alguém perigosa fugindo de algo, bom.. Estava mais do que na cara que eu estava fugindo de algo.
- Você quer tomar banho?
Ele olha pra mim quebrando finalmente o ar de tensão que se encontrava no ambiente, concordo com a cabeça e levanto
- Eu não tenho roupas, você tem algo que eu possa vestir?
Ele se levanta suspirando e vai até o pequeno armário, eu não sei por que confiava nele para ficar ali sem tentar fugir, ele podia ser um homem mal, poderia ser uma versão mais jovem de Luís, mas algo dentro de mim me mantinha ali, algo dizia que ali era seguro, eu espero que esse 6• sentido não esteja enganado. Ele me dá uma camisa dele que para o meu tamanho servia de vestido, uma de suas peças íntimas o que me faz corar e uma tesoura, olho para ele questionando o por quê da tesoura e ele sorri fraco
- Acho que pode usar sua criatividade para transformar essas roupas em algo mais.. Feminino.
Sorrio de lado e assinto, agradecendo
- Tem tudo o que precisa no banheiro
Ele diz antes de me apontar a porta verde e pequena no canto do chalé, olho pra ele uma última vez antes de entrar no cômodo tracando a porta atrás de mim. Tiro aqueles trapos velhos do meu corpo os jogando diretamente no lixo, olho para o meu corpo nu em frente ao espelho e suspiro, não me olhava no espelho na mansão onde eu era mantida presa, claro, olho para essa garota na minha frente, uma verdadeira fantasma na minha frente, com fundas olheiras ao redor de seus olhos castanhos quase sem brilho, seus cabelos castanhos escuros quase pretos ressecados e parecendo até uma juba, uma menina muito magra, praticamente esquelética, essa era eu. Entro embaixo do chuveiro, era uma sensação única sentir a pressão da água sobre minha pele, fecho os olhos e esfrego bastante a minha pele, tentando tirar aquela sujeira, por mais que a minha pele em sí já estivesse limpa, mal sabia eu que a sujeira da alma não é tirada com água e sabão. Depois do que se parece 30 anos saio do chuveiro, era tão bom limpar meus cabelos, pego o pente e os penteio, eles eram enormes já que nunca foram cortados, escovo os dentes, felizmente como eu tinha que servir como empregada, eles me deixavam escovar os dentes todos os dias, não poderiam ter uma escrava com mau hálito ou dentes podres, você deve estar se perguntando, em que época se passa isso? Na época da escravidão, não! É nesse século mesmo, século XXI, você acha mesmo que a escravidão acabou? Estão muito enganados, ainda existe sim muitos escravos no mundo e eu era um deles. Luís me fez jurar para não contar a absolutamente ninguém que era trabalho forçado ou eu iria acabar como o Craw, só que dessa vez com fogo em minha pele e eu sabia que ele era mesmo capaz.Mesmo quando eu era criança, eles me escondiam quando alguém de fora chegava, a mansão era longe da civilização, os familiares concordavam com isso e não tinha ninguém com o mínimo de bom senso para por um fim naquele meu inferno, então eu o fiz, superei o meu medo da fuga e agora estou aqui, sei que não estou totalmente liberta, não enquanto estou tão perto de lá, enquanto estou nesse estado ou país, mas para onde vou de bolsos vazios, sem nada, talvez tenha sido até sorte minha ter encontrado Nathaniel. Olho para as roupas que ele me deu e pego sua peça íntima, solto um risinho e corto a borda dando um nó deixando em algo mais apertado para caber em mim, faço o mesmo com a camisa cortando apenas as mangas, pego os farrapos da minha antiga roupa e amarro ao redor dos meus seios, que tinham ficando bastante volumosos com a minha puberdade, era até engraçado uma esquelética com seios enormes, amarro como uma faixa e ponho a camisa, que ia até o meu joelho, pego os meus tênis, peguei de Craw, meu amigo que fugiu, ele os deixou lá depois que parou de caber em seus pés, ele cresceu bastante e esses tênis cabiam perfeitamente nos meus pés, limpo com um pano e calço eles, faço uma trança no meu cabelo e me olho no espelho, estava mais apresentável do que já estive em muito tempo, finalmente saio do banheiro e Nathaniel me olha.
- uau... Você soube se virar bem.
Sorrio fraco e o encaro
- Obrigada.. Por tudo, quer dizer,eu não sei se posso confiar em um desconhecido e até agora não entendi o por que de ser tão bom com uma desconhecida como eu.
Ele olha pra mim com as mãos do bolso, eu avalio toda sua estrutura física, seus olhos verdes escuros em contraste com seu cabelo preto espetado, suas calças jeans que combinava perfeitamente com suas botas, ele também me encarava e eu me sentia um pouco envergonhada por seu olhar penetrante.
- Eu não sei a sua história, mas não acho que você seja má, eu meio que posso ler as pessoas
Levanto as sombrançelhas e rio pra dentro
- e algo me diz que você é apenas um animalzinho inofensivo
Cruzo os braços tentando não rir
- Animalzinho?
Ele assente e tira as mãos dos bolsos
- tem fome? Fiz o jantar
Ele diz enquanto se move até a cozinha, olho ao redor na sala de estar, era um chalé bem pequeno no meio do nada, eu deveria mesmo ter medo, mas era o último sentimento que eu sentia.
- Você é um caçador?
Digo vendo as fotos de vários animais nas estantes, ele põe a cabeça para fora da cozinha e olha pra mim
- Não. Sou um lenhador, vendo lenha para fábricas essas coisas
Passo os braços ao meu redor olhando as fotografias
- Por quê tem tantas fotos de animais?
Ele se põe ao meu lado e olha as fotos também
- Sempre tive essa paixão por animais, por quê faz tantas perguntas?
Ignoro seu sarcasmo e continuo a falar
- Por isso fez esse chalé aqui? Para cortar madeira e ficar perto de animais?
Ele suspira e me olha com um pouco de irritação em seu semblante.
- Não fiz esse chalé, é da minha família a um tempo.
- Onde fica?
Pergunto ainda mais curiosa
- Você não sabe onde está?
Ele franze o cenho intrigado, uma hora ou outra teria que lhe contar a verdade, eu só não sei se essa era uma boa hora.
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Caged Angel
RomanceUma infância roubada. Algo destruído pela ignorância e egoísmo dos seus próprios pais, aos 12 anos de idade, foi quando o inferno de Vivian começou. Um caminho que ela achava sem volta, mas tudo muda quando Nathaniel entra em sua vida. " Talvez ela...