A escritora

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Ainda me lembro quando eu era pequena, e costumava ser o que chamavam de "nerd". Eu não tinha muitos amigos por conta disso. Mas eu não via problema. Gostava de ser sozinha. E já compreendia que isso não iria mudar. Mas o destino pode ser traiçoeiro.
Era uma tarde de outono. Aula de história. Olhei para o relógio, 14:52. "Tic tac" o barulho ecoava em minha cabeça. Eu deveria estar prestando atenção em toda aquela lição sobre a Segunda Guerra. Mas naquele dia. Naquele especial dia. Eu não estava me conectando a nada. Liguei no automático, e segui o resto do dia assim. Talvez eu já soubesse o que iria acontecer. Eu tinha somente 14 anos. Minha vida não poderia se conturbar tão cedo. Mas aconteceu. Mister L aconteceu. E você deve estar curioso para saber de toda a história. Mas não é algo que gosto de lembrar. O que precisa saber, é que ele foi o meu melhor amigo, durante muito tempo. Mas o destino é traiçoeiro, repito. E eu nunca mais o vi, ou sequer ouvi falar a respeito dele. Não era para eu lembrar. Prometi a mim mesmo não lembrar. Mas eu lembro, todo dia, toda noite, antes de dormir, esse é o meu último pensamento. E não é o melhor pensamento do dia, e nem o pior. É confuso, mas quem sabe um dia eu volte a falar sobre isso. No entanto, por hoje é só. Pois o despertador já toca alto, e eu tenho que ir trabalhar. "Nac Nac". - Fecho o caderno.

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Meu nome é Regina Mills. Colter (sobrenome de casada). Tenho 30 anos. Moro em Los Angeles. E sou escritora - como já devem ter percebido - mas não oficialmente, quero dizer, não publiquei nenhum livro. Até hoje. Literalmente. Pois algo me diz, que justamente hoje, esse histórico vai mudar.
Trabalho numa editora. Leio livros, que outras pessoas escreveram, e dou a minha opinião - como se eu fosse especialista. Visto que demorei três anos para compor uma obra minha. - mas não sou tão ruim no que faço. Gosto de ler, tanto quanto gosto de escrever, e mais do que isso, sinto prazer no que faço.
O fato é que, finalmente levarei meu livro para minha chefe. Eu posso qualificar um livro como bom ou ruim. Mas ela qualifica um ator. Ela transforma vidas. E as vezes destrói. Esse é meu maior medo. Não que eu não confie no que escrevo. Mas ela pode ser má. E eu digo isso com convicção, tendo que nosso relacionamento atravessa as barreiras de chefe e contratada. Hoje é dia de ver a mamãe!

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Cora Mills, o nome já causa arrepios, não é mesmo? Com razão. Ela é uma bruxa! Mas as bruxas podem ser boas as vezes. Ela me criou muito bem. Me pagou a melhor escola. Me fez ter o melhor ensino. E me cobrou muito por isso também. Ela é responsável por lançar os melhores escritores do mundo. E foi um espelho para mim. Eu lia cada lançamento dela, e me apaixonava. E eu soube que era isso que eu queria para minha vida. Fazer as pessoas me conhecerem através das palavras. Se emocionarem a cada frase. Quero demonstrar o que eu sinto, a cada nova história. E o que eu já senti.

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Daniel Colter. Meu marido. Eu o amo, e ele me faz bem. E é só. Eu deveria falar mais sobre ele. Da nossa linda história de amor. Mas não foi nada demais. Ele é quem faz as edições de capa. Foi como nos conhecemos. Passávamos muito tempo juntos. Conversávamos sobre tudo. Começamos a namorar. Ele me pediu em casamento, eu aceitei, e só. Não tem flores, suspense, drama - tirando o fato de minha mãe não gostar muito dele, mas ela não gosta de ninguém. - A gente se da bem. Confortamos um ao outro. E somos assim a uns oito anos.

Acho que esse vestido está bom. - penso ao olhar meu reflexo.
- Você está estonteante hoje! - Daniel diz encostado na porta. Levanto o olhar, e o miro pelo espelho. Ele sorri.
- Só hoje? - finjo indignação. Ele se aproxima. E deposita um suave beijo em minha nuca.
- Você sempre está. Você é linda. E eu amo você! - Sorrio. Logo solto um longo suspiro.
- Nervosa?
- Demais!
- Vai dar tudo certo. - Me viro em direção a ele. Deposito um beijo casto em seus lábios. Somos interrompidos por um coçar de garganta.
- Atrapalho os pombinhos? - Me afasto de meu marido para abraçar o dono da voz, ou melhor, a dona.
- Sis! - abraço-a com força, despejando toda a saudade que sentia. - O que você está fazendo aqui? - Ela levanta as sobrancelhas em direção a Daniel.
- Surpresa! - Ele diz. Lanço um olhar que diz: obrigada! E ele encolhe os ombros timidamente. - vou deixá-las sozinhas. - e ele o faz.
Convido minha irmã para sentar ao meu lado na cama. E a abraço novamente.
- Pensei que estaria em Nova York.
- Estou indo para lá. Mas não poderia deixar de passar aqui primeiro, e desejar boa sorte. Ainda mais que sei que enfrentar a dona Cora, não é nada fácil. - ri de seu comentário. Conversamos mais um tempo, e ela foi embora.
Zelena é... Zelena. A melhor Irmã do mundo. Ela é parte de mim. Sempre está do meu lado. E eu a amo mais que tudo. Ela é advogada. E um ano mais velha que eu.

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Não passado muito tempo já estávamos na estrada. O escritório de minha mãe ficava do outro lado da cidade. E sim, eu poderia conversar com ela na mansão. Mas negócios, são negócios. Cora sempre deixou isso muito claro.
Daniel estava dirigindo. E ligou em uma rádio qualquer. Uma voz rouca vibrava as saídas de som. Estava tocando country. Um daqueles antigos, que se te pega em uma depressão, te faz chorar. Revirei os olhos, e baixei o volume. Meu marido riu. Peguei meu livro, e comecei a ler - pela vigésima vez. Tudo devia estar perfeito. Um erro, e pronto, fim de jogo, Regina!
Estava tão distraída, os barulhos dos outros carros passando ao nosso lado, ficava quase inaudível.
Capítulo 2 - Destino. As 45 páginas do primeiro capítulo, passaram em um piscar. Sim, eu leio rápido. Destino. Vocês conseguem imaginar o que eu escrevi? É uma tragédia.
" E o caminhão veio em nossa direção tão rápido, e tão pesado. As luzes do farol piscavam. Meu olhos ardiam. Eu parei de respirar. É verdade quando dizem que sua vida passa em um piscar de olhos, quando você está à beira da morte. Eu vi tudo. Eu me lembrei de cada parte detalhadamente. E eu chorei. As sirenes anunciavam a aproximação da ambulância. E eu pedia por ajuda. Mas ninguém me ouvia. E tudo ficou escuro." Não. Essa não foi uma parte do livro. Mas o destino é traiçoeiro.

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