Tinha 14 anos quando um garoto que sentava ao meu lado falou comigo pela primeira vez em dois anos. Seu nome era Lucas Okumura, ele era descendente de japonês, tinha morado 9 anos no Japão e tinha um sotaque engraçado, como aqueles vendedores do bairro Liberdade de São Paulo. Ela loiro, com olhos castanhos e inteligente (para que tenha uma noção, ele aprendeu a falar e escrever nossa língua em letra cursiva em apenas três meses). Acho que voltei pra casa feliz naquele dia. Fazia tanto tempo que não me sentia assim que havia até me esquecido de como era.
Passei o resto do dia pensando nos motivos de ele ter falado comigo. Será que algum professor havia pedido para tentar ser meu amigo? Será que teve pena? Será que gostava de góticas trevosas? Eu não sabia o porque daquilo, mas não importava, porque talvez nossa amizade nem fosse real, afinal só tínhamos nos falado uma vez e ele nunca tinha me notado. Por que notaria agora?No dia seguinte me sentei no mesmo lugar de sempre: a última carteira da sala, e, surpreendentemente, ele se sentou ao meu lado! Por quê??? Por qual motivo? Por que só agora?
Não aguentei mais e perguntei:
- Por que sentou ao meu lado?
- Porque eu quero ser seu amigo - respondeu ele, sorrindo docemente.
- Mas qual o motivo?
- Você está sempre sozinha, nunca te vi em lugar algum fora da escola e todo esse tempo achei que você era uma vândala com problemas psicológicos ou algo assim - ele declarou isso como se fosse a coisa mais normal do mundo!
- Nossa... - era isso que pensavam de mim?! - Resumindo, foi por pena?
- É. Quer comer comigo hoje? Vejo que você sempre lancha sozinha.
- Claro... - declarei um pouco receosa.
- Que bom! - respondeu ele, sorrindo do mesmo jeito de antes. Por mais que tivesse 14 anos, o brilho em seus olhos o fazia parecer ter 11.
No intervalo fui sentar com ele e seus amigos. Pelo visto não era bem vinda, porque muitos me olhavam de um jeito estranho, um misto de medo e nojo. Sem contar os murmúrios que, sem sombra de dúvida, eram sobre mim, pois, enquanto cochichavam, me mandavam olhares atravessados. Nunca liguei muito pra isso mas estranhamente me sentia desconfortável lá. Eu não era uma deles, não deveria estar ali.
Peguei meu lanche e fui terminá-lo na biblioteca, um dos únicos lugares em que me sentia segura. Só depois percebi que Lucas tinha me seguido.
- Por que veio pra cá? - perguntou.
- Porque não sei se me encaixo no seu grupo de amigos. Todos estavam comentando coisas sobre mim e não acho que sejam coisas positivas.
- Por quê? Não tem nada de errado com você.
- Falou a pessoa a que achava que eu era uma vândala com problemas mentais - disse sarcástica. Não sei se achou graça, mas sorriu.
- Você tem razão. Mas todo mundo já tirou pelo menos uma conclusão precipitada. Ou vai dizer que não?
- É.
- E eu queria te conhecer antes de comentar algo sobre você. Pelo visto você gosta de ler. Que tipo de livro?
- Ficção, romance, mitologia, quase todos. Mas a minha série de livros favorita é Percy Jackson, ela envolve tudo isso e mais. Já li todos os livros da série.
- Sério?! Eu ainda estou no segundo da segunda temporada.
- Você conhece???
- Claro! Rick Riordan é o melhor escritor desse século! Ele entende a mente dos adolescentes. De qual deus você seria filha?
- Acho que Atena. E você?
- Não sei... Talvez Hermes.
- Isso explica o jeito infantil.
- Queeeeeeee??????!!!!- disse ele fingindo surpresa.
Nós dois começamos a rir e a contar nossos hobbys e preferenciais. Sua cor preferida era azul, seu número preferido era 7, seu esporte favorito era futebol (um esporte que eu, sinceramente, não acho graça) e ele torcia para o Barcelona.
Continuamos nos falando e nos encontrando na biblioteca (aquele havia se tornado um lugar especial para mim) e eu descobri que não estava tão sozinha quanto pensava, Lucas havia perdido sua mãe com 12 anos em um acidente de carro. Sempre me vesti de preto e me isolei porque eu achava que era a única que se sentia sozinha, mas depois da morte dela ele também estava sozinho e mesmo assim seguiu em frente. Era mais forte do que eu imaginava.
As férias chegaram e eu, obviamente, não iria viajar pra nenhum lugar, mas quando já estava fazendo uma programação para uma maratona de animes ele ligou para a minha casa e perguntou se queria ir para a praia com ele e sua família. Perguntei para os meus pais e eles deixaram, então fiz as malas e fui para Ubatuba.
As praias de lá eram realmente lindas! Com areia branca, fina e água cristalina, sem contar que eles tinham uma casa em um condomínio incrível que tinha até uma cachoeira natural. A família dele era realmente muito rica, pois era dona de uma transportadora de que não lembro o nome.
Cada um tinha o seu próprio quarto e eu me sentia em um hotel cinco estrelas. Todos os dias eu e ele íamos à praia, explorávamos o condomínio, e, a noite, ele entrava no meu quarto pra conversarmos ou apenas nos deitávamos em espreguiçadeiras e ficávamos observando as estrelas e contando nossos sonhos. Eu contei a ele que sonhava em ser cantora e ele pediu que cantasse para ele. Me arrependi no mesmo instante de ter aberto a boca.
Lhe disse que se me comprasse um sorvete no dia seguinte cantaria e ele concordou.
Cantei "Only Exception" da banda Paramore, porque eu nunca soube o que era amar alguém, tipo namorado, e sempre que tentava, me machucava. Então, me convenci de que o amor não existia e prometi a mim mesma que nunca me apaixonaria, que sempre seguiria a lógica.
Eu estava errada.
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As músicas da minha vida
RomansaEu tinha apenas 12 anos quando meus pais se separaram. Antes nunca tive problema com o amor, mas os via brigando toda hora, como ISSO poderia ser amor? A partir daí comecei a seguir a lógica, não meu coração e prometi nunca amar ninguém, porque, pr...