Dia 3 - Uma condição

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Levantei mais animada, planejando o que faria durante o dia. Fui até o banheiro e tomei um banho demorado, esfregando cada parte do meu corpo. Eu não sabia o que havia acontecido ontem - e talvez nunca soubesse -, mas permitir que o sequestro definisse a minha vida não era uma opção. Eu precisava reagir.

Vesti um roupão que estava pendurado na porta e chamei Helena para me alcançar uma roupa limpa, pelo menos até voltar para o meu apartamento.

- Oi querida - Helena abriu uma fresta da porta - Bom dia.

- Bom dia - retribuí o gesto - Desculpa incomodar, mas você teria uma roupa limpa para me emprestar? A minha roupa estava imunda e...

- Claro! Claro! Eu que peço desculpas por você dormir com a roupa de ontem... - ela entrou no quarto e abriu o armário - A irmã do César morava aqui com a gente - falou enquanto analisava o conjunto de um cabide - E deixou a maior parte de suas roupas.

- Onde ela está agora?

- Ela está pelo mundo... - riu pelo modo que respondeu - Quer dizer, foi estudar no exterior e não quis voltar.

- Parece legal - fingi entusiasmo.

Eu percebi que a ideia não agradava a Helena, mas tentei animá-la.

- Eu preferia que ela estivesse aqui - fez uma pausa - Mas vamos para o que interessa, as roupas! - aumentou o tom de voz, como faz quando está animada.

- Pode ser qualquer uma, pretendo voltar ainda hoje para o meu apartamento.

- Hoje? - ela se virou para mim - Pensei que ficaria mais uns dias por aqui.

- Na verdade eu não pensei sobre isso...

E não tinha pensado mesmo. Eu não estava acostumada com tudo aquilo, sempre precisei ser independente. Mas ao mesmo tempo estava adorando a companhia de Helena e César.

- Depois decidimos - ela me alcançou um bolo de roupas - Aqui, estão as últimas roupas que a Júlia comprou, ainda estão com as etiquetas. Escolha a que mais gostar e o resto pode colocar no armário.

- Está bem.

- Nos vemos na cozinha, está bem? - ela sorriu, de orelha a orelha - Qualquer coisa pode me chamar, no banheiro tem o que precisa para higiene.

- Obrigada! - dei um sorriso amarelo.

- Ah... - ela entrou apressada no quarto - Aqui! - pegou um perfume que estava escondido dentro do armário - A Júlia era apaixonada por esse perfume, trouxe da França.

- Mas...

- Mas nada! Ela ficaria muito feliz em saber que uma jovem bonita como você está usando o seu perfume - ela riu.

Fui até o banheiro para lavar o meu rosto. Passei uma escova no cabelo e um pó compacto que trouxe na bolsa. Agora estava minimamente apresentável.

Enquanto arrumava a cama senti uma ardência no braço. Puxei a manga da blusa para analisar, estava sangrando. Acho que o corte abriu durante o banho. Maravilha! Agora tinha acabado de sujar a blusa da Júlia.

- Helena - entrei na cozinha tapando o corte.

- O que houve? - ela arregalou os olhos, preocupada.

- Eu cortei o meu braço ontem - não sabia como explicar - Ele voltou a sangrar... - revirei os olhos pela minha falta de coerência - Eu só preciso de um curativo!

- Claro! Espere um pouco.

Helena limpou o corte e fez um curativo simples.

* * *

Pobre AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora