Capítulo 3: Na Estrada

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Esse ano de 2016, depois da minha volta de São Paulo, e do começo das aulas, foi um desastre. Não, nada de ruim aconteceu comigo ou com meus amigos. Ao menos algo excitante aconteceu, no caso, a diretora Claudia Fairclough foi presa junto com o irmão dela. Lembram do caso dos Alunos Sem Fim, de dois anos atrás? Pois é, um agente da polícia federal havia se infiltrado aqui no Colégio Aural, só que ele foi morto. Mas dois alunos (isso mesmo que você leu, alunos) bancaram os detetives e desvendaram não só o caso do professor Zack Yorkland, como o do Caso dos Alunos sem fim que estava atrelado a ele.

Por algumas semanas, o Noah Irvine e a Sara Matsuda da 3202 foram praticamente as celebridades do colégio, vez ou outra tinham jornais ou reporteres da TV por aqui. Mas, meu ano pessoal fora atribulado, eu tinha meus treinos de wresting, que eram a noite, os estudos e o estágio também ocupava tempo. Nisso, e entre uma luta e outra pela FILL (ainda como Jobber), minha cabeça ficava cheia e vez ou outra eu fugia, indo relaxar na praia no período da noite.

E aos poucos eu fui percebendo que naquele momento eu estava sendo um péssimo amigo, que passava bem menos tempo ao lado deles do que antes. Eu ainda os considerava família e o tempo que ficávamos juntos no colégio era sempre bom, mas não havia mais aquela interação pós escola, exceto nas minhas folgas no fim de semana.

Durante o ano, fiz algumas pesquisas com relação a Storm Wrestling Academy, e entrei em contato com o próprio Lance Storm para postular uma vaga na turma do ano seguinte. Ele disse que o primeiro passo para mim era conseguir um visto de trabalho no Canadá para residir no país, e nisso se houvesse a disponibilidade de turmas, tudo o que faltava era a questão financeira. Claro, não contei isso para meus amigos, não sei como eles reagiriam a notícia. Inclusive a empresa que eu consegui o estágio tem justamente sede no Canadá, já pensando em uma transferência. Conveniente, eu sei, mas pode-se dizer que isso eu planejei de antemão.

O ano passou, e finalmente chegara o dia de nossa viagem para a cidade de Rio Azul chegara. As aulas terminaram na semana anterior, e o meu estágio entrara na recessão de fim de ano (ao menos a turma do estágio, voltaríamos depois do Natal). Nós seis aproveitamos a semana para comprar as passagens, fazer a reserva da casa e possivelmente as roupas que usaríamos naquela semana.

Por volta de dez da manhã, eu já estou na Rodoviária Novo Rio e um pouco sonolento. A noite anterior demorou para passar, principalmente porque fiquei até as duas da manhã conversando com meus amigos (principalmente a Nicole) pelo Whatsapp, e eu e Nicole estávamos excitados como colegiais debutantes (minhas metáforas são cafonas, eu sei), a ansiedade tomava conta da gente.

Estou lá eu, em uma das entradas da Rodoviária, pensando em assuntos pertinentes para a humanidade, como quem vai ser o adversário do Undertaker na Wrestlemania e quem vai ganhar o Royal Rumble 2017, até que escuto uma voz familiar ao longe.

-Diegooooooo!

Olho na direção da voz, e vejo o nosso bêbado residente, Erick, correndo feito uma gazela como se a vida dele dependesse disso. Ele está de óculos escuros e parece bem cansado, ofegando bastante quando chega onde estou.

-Erick – Pergunto evitando rir – Por quê diabos você corria feito uma dona de casa americana durante uma Black Friday?

-Bem... É que eu não queria perder o ônibus, sabe...

-... - A resposta de Erick me fez questionar a sanidade do mesmo – Cara, não é por nada não, mas o ônibus sai daqui a cinquenta minutos, isso sem contar o tempo de tolerância de uns dez minutos, mais possíveis atrasos, porque né, estamos em Terra Brasilis, onde três e meia na verdade são cinco horas.

Quando o corrijo ele olha para o celular e vê a hora: 10:10. Vejo na cara dele expressões de alguém que pode ter bebido mijo por acidente, e ao longe vejo alguém chegando com uma mochila.

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