O filme que estava passando na televisão não era dos melhores, não existe muito que fazer em uma noite chuvosa, eu moro sozinha há quase um ano e em momentos assim é que sinto solidão, mas não sou do tipo de pessoa que alimenta esse tipo de sentimento, prefiro encontrar alguma coisa que supra esse tipo de necessidade.
Peguei mais um punhado de pipoca e coloquei na boca, mastigando sem pressa nenhuma, enquanto o filme mostrava a cena em que uma mulher tentava fugir de um perseguidor e quando ela estava quase conseguindo é surpreendida por ele, com uma lâmina altamente afiada, a coitada tem sua cabeça decepada.
Sinceramente esse tipo de filme não tem efeito nenhum sobre mim e só não dormi ainda por que é muito cedo e o sono ainda não veio, não consigo entender como tem pessoas que consegue se assustar com esse tipo de coisa? É tão obvio que é tudo falso, que até dá para ver que o sangue é de mentira. Em certo ponto do filme comecei a rir, sei que eu deveria estar com medo, mas para mim é tudo muito hilário, uma verdadeira comédia.
Depois de um tempo o filme perdeu a graça e preferi trocar o canal, afim de assistir o noticiário:
─ Dois rios transbordaram deixando mais de 100 pessoas desabrigadas e 8 pessoas desaparecidas, temos a confirmação de 3 mortes até o presente momento...
Estava chovendo muito e há horas, mas o que chamou minha atenção na cena foi um dos rios transbordados, reconheci o lugar, pois ele fica poucos metros da minha casa, um relâmpago cortou os céus iluminando através da janela, me assustei com o trovão, que foi o mais alto que escutei em minha vida. E pronto tudo apagou, acabou a luz. Argh...
Senti um choque de medo dentro do meu coração, e o único barulho que eu escutava era da chuva cada vez mais forte, fui até a sacada e outro raio tomou o céu. Confesso que tive vontade de correr para dentro, mas eu precisava ver o que estava acontecendo lá fora- sou a única moradora desse prédio, na parte de baixo é uma sala comercial que está alugada no momento para uma loja de artigos de bebê, e no segundo piso tem apenas um apartamento que tive sorte de conseguir alugar -. Apoiei meus braços na proteção da sacada e me esforcei para ver o que estava acontecendo lá em baixo.
Minha primeira reação foi choque e logo em seguida o desespero, a água tinha tomado conta de tudo, e estava quase alcançando a minha sacada, fiquei pensando como não ouvi nada antes? Lembrei que a chuva estava forte, o som da televisão estava alto demais, e levando em consideração o que a repórter tinha falado, isso deveria ser coisas de minutos, possivelmente deve ter acontecido rápido demais para prever. Tinha pessoas gritando ajuda e antes que eu pudesse tentar sequer ajudar afundaram.
Fiquei sem saber o que fazer, voltei para dentro do apartamento novamente, pensando em uma maneira de escapar dali, fui até a escadaria para saber qual era a situação e estava tudo submerso e subindo rapidamente, eu tinha que sair dali e de alguma maneira entendi que tinha muito mais a perder do que meus bens materiais, minha vida corria risco.
A única saída seria subir em cima do telhado, e como eu faria isso? Voltei para a sacada novamente, meu celular tocou.
Trim, trim, trim...
─ Alô! ─ Eu não tinha tempo a perder, a água estava subindo e a correnteza estava forte, só atendi porque vou precisar de ajuda.
─ Fernanda, é você?
─ Sim, sou eu. Quem fala? ─ tentei reconhecer a voz, mas estava difícil.
─ Sou eu, Miguel. ─ a voz do meu irmão estava estranha, logo percebi que tinha alguma coisa errada.
─ Está tudo bem? ─ perguntei cautelosa, o gelo que envolveu meu coração me dizia que tinha alguma coisa muito errada.
─ Não, as coisas não estão nada bem, pode vir aqui em casa agora?
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Anjo Negro
FantasyPLÁGIO É CRIME! OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL. Se existe um encontro que ninguém quer, é o encontro com o a morte. A vida de Fernanda poderia não ser perfeita, mas estava longe de ser o estado caótico a qual estava vivendo depois de seu en...