Capítulo três

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Isso é incrível! Eu passo um mês inteiro tentando de tudo quanto é jeito, me livrar de um anjo e basta apenas eu desejar conversar com ele que o danado some. Eu deveria estar feliz, pois até que fim a minha vida poderia voltar ao normal, nem tão normal assim, admito. Depois que voltei do hospital, passei o restante do dia andando de um lado para outro, dentro de casa esperando. Se existe uma coisa que irrita qualquer pessoa é esperar, então imagine o meu humor quando o dia terminou e fui obrigada a ir dormir, e nada dele. Afinal onde se meteu esse anjo?

Nos dois últimos dias que passaram, fui trabalhar como de costume e sempre que voltava eu dava uma passada na casa da Sandra para ver como ela estava, mas depois ia correndo para casa na esperança de encontrá-lo, mas nem sinal dele em lugar nenhum. Desde nosso primeiro encontro o Anjo nunca sumiu por tanto tempo assim, e de certa forma eu estava preocupada com ele. Imagine eu preocupada com ele!!! Justamente eu que deveria ter repulsa, mas já estava tão acostumada com sua presença, que agora que não o tenho por perto sinto sua falta.

Mas não é apenas a falta dele que estava tirando minha paz, eu queria confrontá-lo, descobrir o que sabe sobre mim. Eu preciso de respostas, pois nada fazia sentindo para mim, pois nunca tive a necessidade de ser diferente, sempre me senti comum e isso nunca me incomodou. Por isso agora me sinto tão estranha, e vivo me questionando: por que eu? Eu que nunca pedi nada disso. Se pelo menos eu tivesse esse poder e estivesse perto dos meus pais e de meu irmão quando tudo aconteceu. Hoje eles estariam aqui. Respirei fundo tentando me livrar dessas lembranças tão dolorosas.

Cansei de esperar a morte para me ajudar a decidir o que eu deveria fazer, mesmo por que tudo começou a parecer que é uma grande ilusão, no entanto eu estava eufórica com a expectativa de testar meus poderes. Mas só o fato de pensar na palavra poder, sinto uns calafrios passando pelo meu corpo e uma ansiedade diferente. Sim, já estava na hora de começar a agir, agora com anjo ou sem ele, amanhã vou por a mão na massa.

Olhei no relógio e já estava tarde, tomei um banho demorado para limpar a mente, como se a água que escorre pelo meu corpo pudesse mudar alguma coisa aqui dentro. Mas quanto menos eu queria pensar no anjo, mais eu pensava, lembrei-me do beijo que trocamos e por mais terrível que fosse aquele dia, era como se ele tivesse deixado uma espécie de marca registrada em mim. O seu toque era divino, e me fazia desejar senti-lo novamente. Eu devo estar perdendo o meu juízo, desliguei o chuveiro, me enxuguei e fui tentar dormir, por que sono mesmo só vem depois de muito rolar na cama.

No outro dia, eu acordei com os primeiros raios de sol, pulei da cama e tomei um banho rápido, escolhi uma roupa básica: camiseta baby look, calça jeans e sapatilhas. Olhei-me no espelho, eu estava com a aparência cansada, com olheiras e meu cabelo castanho ondulado, estava todo revolto, para não perder muito tempo, que eu julgava ser em vão, pois quando ele está assim, não importa o que faça não fica bom, eu o amarrei em um rabo de cavalo. Fiz uma maquiagem suave, pois não queria parecer uma palhaça em plena luz do dia e fui para o trabalho.

O trabalho de telemarketing não é muito fácil, especialmente quando se trabalha em um setor de recebimento de reclamação, mas foi o único que consegui quando cheguei aqui, meu treinamento terminou na semana passada, e faz apenas uns cinco dias que minha equipe foi colocada no atendimento. Imagine o inferno a cada atendimento, e quando era algo que não sabíamos resolver, a única saída era levantar e ficar vários minutos de pé, esperando que alguém tivesse a boa vontade de vir ajudar enquanto o cliente ficava do outro lado da linha, reclamando e com razão. Aquilo era estressante, ainda mais por que o dia se arrastava e às seis horas e vinte minutos de trabalho pareciam demorar uma eternidade para passar.

Quando meu expediente terminou, almocei e fui para o hospital mais próximo. Conseguir trabalho voluntário em um hospital era mais difícil do que eu imaginava, tem muita burocracia. A pessoa tem que ir ate a secretaria central do hospital, preencher uma ficha com todas as suas informações, e essa passa por uma avaliação para dizer se o candidato está apto para o serviço. Somente depois disso e se tiver vaga é que o hospital entra em contato, o voluntário passa por um treino antes de começar seu trabalho voluntario. E eu que pensava que era só dar o nome e começar. Acredito que cada hospital tenha uma maneira operante diferente, mas essas informações me deixaram bem desanimada, pois eu queria a vaga para agora.

Anjo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora