Capítulo quatro

18.6K 1.6K 306
                                    

Aos poucos fui retornado a consciência, de alguma maneira eu sabia que algo tinha mudando dentro de mim. Espere ai, deixe-me explicar, não foi por causa de um beijo não. Por melhor que fosse um beijo, nunca mexeria comigo dessa maneira. Não sou do tipo de mulher que cai de amores tão facilmente assim. Alias, para mim é ridículo eu começar a gostar de um ser que não é nem humano, que simplesmente eu não deveria vê-lo. Mas existem algumas coisas na vida que não conseguimos controlar, e o coração é uma delas.

Desde o momento que o vi pela primeira vez, senti um misto de espanto, atração e mais alguma coisa. Percebi que ele era algo quase que irresistível, e de certa forma isso mexeu com meu lado competitivo, não queria me entregar a ele assim, tão de repente e foi o que me levou a lutar contra o anjo. Está certo, tenho que admitir que também existia a vontade de viver, mas eu nunca me preparei para viver uma vida sozinha e sem todos aqueles que fazia a vida ter sentido.

Lembrar-me desse fator trazia o rancor a tona, e a raiva de mim mesma parecia entrar em ebulição, por desejar aquele que sem nenhum escrúpulo levou as pessoas que me eram tão caros.  E sabe o que é pior nisso tudo? É o sentimento de impotência, e é por isso e muito mais que voltar a realidade dói e machuca: é saber que não tenho mais defesas para lutar, e que a presença dele era tão necessária quanto o ar que eu respiro.

Abri meus olhos e a primeira coisa que percebi era que estava sem roupa e deitada na minha cama, coberta com um lençol. O que? Sem roupa? Sentir o rubor subir a minha face, só de imaginar que ele havia retirado a minha roupa, e me visto nua. Nunca é uma boa ideia desmaiar depois de um beijo, por que você fica pensando no que pode ter acontecido tipo assim: Será que fizemos alguma coisa? Foi eu pensar nisso que em minha mente abriu varias possibilidades, imagens eróticas ao ponto de me fazer sentir calores em lugares que prefiro nem comentar.

Tomei cuidado ao me sentar, segurando o lençol, evitando expor minha nudez e meus olhos vagaram em busca do anjo. Nossa conversa tinha começado da forma errada e terminado de um jeito ainda pior.

─ Procurando alguma coisa? ─ Ele tem que parar com isso, qualquer hora dessas, esse anjo vai me matar de susto, soltei um grito, só para variar um pouco.

─ AHhhhhh, mas que saco, você não para de me assustar. ─ O quarto estava meio escuro e por isso não notei que ele tinha colocado uma cadeira no canto da parede, bem próximo a cama. Como é que não o vi antes?

─ Eu não tenho culpa se é tão assustada assim. ─ ele falou com um jeito de inocente. Imagine se não tivesse culpa, como é que ia ser. Mas é cara de pau esse anjo.

─ O que está fazendo ai? ─ perguntei. Ele levantou-se e se sentou aos pés da minha cama.

─ Precisamos conversar. ─ o anjo falou calmamente.

─ Precisamos. ─ Minha cabeça estava ainda confusa, pensando em minhas emoções.

─ Você não pode sair curando qualquer um que vê pela frente, não é assim que as coisas funcionam. ─ Fui distraída pelo movimento de seus lábios. O que foi mesmo que ele disse?

─ O que?

─ Você vai parar de curar as pessoas. ─ Aquilo não era uma pergunta, era uma ordem.

─ E quem você pensa que é para me dar alguma ordem? ─ Eu estava indignada com ele, nunca gostei de receber ordem, e esse foi um dos motivos que eu sair tão cedo da casa dos meus pais.

─ Alguém que sabe o que esta falando. Você nem sabe o porquê tem esse dom.

─ Certamente não é para ficar guardado. ─ respondi prontamente. ─ Você sai por aí, matando pessoas a torto e direito, e quer me dizer o que fazer com meu dom? Ou será que está com ciúmes por que eu curei e salvei aquele rapaz, antes que você o levasse. ─ Ele deu uma risada sarcástica.

Anjo NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora