Capítulo 7

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Bianca acordou em um lugar escuro. Sentia náuseas, provavelmente pela substância que fora obrigada a cheirar pelos homens que a sequestraram.

Cambaleando, com ânsia de vômito, caminhou pelo lugar em que estava, tentando de alguma forma identificar em que local se encontrava. Percebeu que era um cômodo apertado, sem janelas, e com apenas uma cama com um colchão que, ao que pode perceber pelo tato, estava bastante velho e gasto.

As mãos tatearam as paredes frias, em busca de um interruptor. Não encontraram nada. Ouviu vozes que conversavam animadas do lado externo ao ambiente em que se encontrava. Resolveu gritar. Gritou a plenos pulmões, pediu socorro. Percebeu o som de cadeiras arrastando e passos que vinham em sua direção. Assustou-se com um baque poderoso, um barulho indicando que alguma coisa fora arremessada com força contra a porta de metal.

- Cala a boca, vaquinha! Senão seu namoradinho não vai ter muito do que desfrutar na lua-de-mel!

Bianca, assustada e chorando, se encolheu sobre a cama. Que dia seria? Quanto tempo ela teria permanecido desacordada? E Gregório, já a estaria procurando?

**

Gregório ouvia tudo com extrema atenção. Vinícius e Patrícia explanavam sobre esoterismo. O que o surpreendia é que, diferente do que já havia visto até então, os dois falavam com propriedade e conhecimento. Haviam lido muito a respeito de magia, praticado muita coisa, e tudo o que falavam batia profundamente em seu ceticismo.

- Aqui, Gregório. Quando os relatos falam de um estranho ser que comanda moscas. Este ser é relatado em antigas lendas dos beduínos do deserto – explicava Patrícia.

- Qual lenda? – perguntou Gregório com interesse.

- Quando os beduínos iam atravessar o deserto do Saara, temiam profundamente o calor insano que acabava por impossibilitar o acesso a qualquer fonte de água que porventura existisse. Mas o que mais temiam era exatamente o ataque das moscas, tão infernais que impediam o progresso das caravanas. Com isso, todo o planejamento dava errado, e os viajantes acabavam por morrer sem mantimentos necessários para o restante da viagem. Os animais eram atacados impiedosamente, e caso tivessem algum ferimento mal cicatrizado, era suficiente para sucumbirem rapidamente ante o ataque destes insetos que botavam ovos em seus ferimentos – continuou Vinícius.

- Por isso, antes de sair para qualquer viagem, os antigos habitantes dos desertos faziam preces a seus deuses, e o Senhor das Moscas era exatamente a quem eles mais se dirigiam – emendou Patrícia, procurando algo nas estantes com os olhos.

- Com o tempo, este deus foi ganhando outras características. Um que mais influenciou a imagem deste ser foi um deus mesopotâmico, caracterizado por um imenso poder, e que também foi representado pelos fenícios. Este deus teve seu culto expandido por todo o Oriente Próximo, principalmente pela região norte da África, mais particularmente na região saariana – Vinícius explicava com detalhes.

- Qual era esse deus? – Gregório perguntou.

- Chegaremos lá. Há relatos de que o culto a esse deus antigo foi assimilado pelos homens do deserto, que estabeleceram cultos sincréticos. Esse deus antigo, como muito outros deuses pagãos, foi demonizado com o advento do cristianismo. No início, os sábios gregos se referiam a eles como daemons. Nada a ver com o arquétipo do mal que ficaria estabelecido com o passar dos séculos, mas esta palavra em seus primórdios identificava um gênio ou espírito que tanto poderia agir a favor como contra o indivíduo. Porém é no Novo Testamento que temos a demonização definitiva destes seres, especificamente daquele que estamos falando – Vinícius se dirigiu à estante e pegou um volume, que Gregório identificou imediatamente como sendo a Bíblia Sagrada.

O Templo da Magia (Reinos em Guerra - Livro 1)Where stories live. Discover now