Alexander Lightwood - Capitulo 6

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Gostei do doutor Bane. Educado, bem vestido e tem aqueles olhos hipnotizantes. Decidi fazer uma pequena brincadeira. Vamos ver se ele também é bem-humorado. Que a festa comece...

— Tudo começou a cerca de nove anos, doutor Bane. — Comecei meu relato. Vamos ver o quanto ele é realmente bom. — Eu era recém-formado e estava voltando de uma exaustiva viagem de trabalho. Um filhinho de papai idiota agrediu a esposa em um restaurante lotado. Causa praticamente perdida. E o meu trabalho? Reverter aquela situação a nosso favor. Foram duas semanas trancado em um escritório tentando salvar o pescoço daquele idiota. Foi difícil, mas eu havia conseguido. — Suspirei. — Estava descendo as escadas do aeroporto quando um funcionário chamou a minha atenção. " Você não viu a placa amarela? ", perguntou demostrando irritação. "Placa amarela? " Perguntei olhando para os lados. Eu realmente não havia visto aquela porcaria. "Eu acabei de coloca-la e você deveria ter desviado", continuava falando e falando... Aquilo estava começando a me deixar irritado. " Isso foi invasão! É errado! A escada estava interditada, você infringiu a lei. Você poderia ter se machucado. " O homem continuava falando enquanto eu permanecia em silencio. Percebendo que eu iria continuar com a minha postura indiferente, ele finalizou com um: " Da próxima vez, não use uma escada rolante interditada. "

— Continue, por favor. — Pediu enquanto anotava alguma coisa em sua prancheta.

— Assim que ele saiu, eu fiquei parado por um momento analisando o que havia acabado de acontecer. Quando me dei conta, minha raiva havia chegado até a parte do cérebro que toma decisões e, de repente, me acalmei e me concentrei. Pisquei meus olhos, ajeitei a minha mandíbula e comecei a seguir o funcionário do aeroporto. A adrenalina corria pelo meu corpo, sentia um gosto metálico na minha boca. Eu estava em êxtase. — Parei meu relato. O doutor Bane me olhava visivelmente desconfortável. Ótimo. Essa era a minha intenção. — Algum problema, doutor Bane?

— Nenhum. — Respondeu de imediato. — Continue, por favor.

— Minha esperança era de que ele entrasse em algum corredor deserto onde a gente pudesse ter privacidade. Já podia imaginar minhas mãos em seu pescoço e a sua vida se esvaziando por entre meus dedos. Aquela adrenalina me excitava. Era a primeira vez na vida que eu me sentia vivo de verdade. Minutos depois, ele entrou em um banheiro para funcionários e quando me dei conta, minhas mãos estavam cravadas em seu pescoço, a vida dele se esvaindo por entre meus dedos.

— Você assassinou o funcionário do aeroporto, Alexander?

— Estou dizendo como o interesse surgiu, em nenhum momento eu disse que assassinei aquele filho de uma puta.

— E o que aconteceu depois de você o tê-lo alcançado? — Perguntou chocado.

— Aconteceu que o meu diploma de direito me disse que eu não era nenhum idiota. — Respondi não desviando meu olhar. — Eu seria uma grande decepção para a comunidade sociopata se cometesse um assassinato em um lugar onde havia uma câmera a cada metro quadrado. — Sorri. — A nossa inteligência nos diferencia dos outros criminosos, doutor Bane. Somos muitos, mas poucos estão atrás das grades. Aquele homem foi apenas o meu gatilho. O primeiro passo para uma coisa bem maior do que ele, maior do que eu.

— Do que você está falando? —Perguntou confuso.

— Estou falando que o mundo está repleto de pessoas medíocres e desnecessárias, doutor. — Voltei a sorrir. — Mas alguma pergunta? O senhor ainda tem vinte minutos da minha atenção.

— O que aconteceu depois que você chegou em casa?

— Quando eu tinha cinco anos de idade, eu conheci o que era a escuridão. Desde então, eu vivo no escuro, como se meu corpo estivesse anestesiado. Não sinto amor, não sinto dor, não sinto nada. Mas naquela tarde, depois do que aconteceu com o funcionário do aeroporto, foi como se um mundo novo se abrisse diante dos meus olhos. Pela primeira vez em minha vida eu estava realmente feliz, eu nunca havia sido verdadeiramente feliz antes daquele momento.

Confissões de um Sociopata (Malec) -Onde histórias criam vida. Descubra agora