Prólogo

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O internato, esse sem dúvida nenhuma é o pior lugar onde uma criança poderia ter sido jogada por seus pais, pois bem, foi isso que aconteceu comigo, aos seis anos fui mandada para cá. Meus pais, judeus ortodóxicos, seguiam a risca as tradições e acho que ainda seguem, e para eles não havia lugar que oferecesse melhor educação, mas veja a ironia, o internato era Católico, eu rio disso as vezes, na verdade sei por que vim para cá, eu não era uma menina comportada como minha irmã mais velha que na época tinha oito anos, eu na verdade aprontava mais que meu irmão de sete, a questão é que tudo isso começou quando um dia na televisão eu vi uma noticia sobre os médicos que tinham salvado muitas vidas no campo de batalha em 1945, na queda de Adolf Hitler, então eu fiquei encantada com tudo aquilo, salvar vidas. Sim era aquilo que eu queria, então eu me levantei e disse para minha mãe e meu pai com aquela vozinha de criança inocente:

- Mamãe, quero ser médica.



- Não diga bobagens Addison! Você médica? isso vai contra as nossas leis, você sabe, ninguém pode ser como Deus, e é isso que os médicos pensam, eles pensam que são Deus, mas na verdade tudo que eles tem é um dom dado por Deus para ajudarem as pessoas doentes, e somente através Dele que acontece a cura e milagre e é por isso que as pessoas ficam boas.

- Mas mamãe, eles salvam vidas.


- Eles não salvam vidas Addison! disse meu pai com a voz forte e potente, o que fez a conversa acabar.

- Deus é que salvou a vida deles, os médicos foram apenas usados por Deus para ajudar aquelas pessoas, mas somente pela graça e misericórdia Dele, que essas pessoas foram salvas, na verdade os médicos não fazem porcaria nenhuma, Deus faz tudo para eles, eles são apenas as mãos de Deus, apenas isso, Deus usa eles aqui na Terra por que se ele descesse até o nosso planeta, ninguém mais estaria vivo, tamanha a glória Dele.


- Mas papai, por que então não posso ser as mãos de Deus?


Me lembro de que naquela noite, eu chorei baixinho para não acordar a minha irmã que dormia na cama ao lado, mas as lagrimas duraram a noite inteira, meus pais haviam destruído os meus sonhos. Então passou-se algum tempo e eles resolveram, acho que por castigo, me colocar aqui, nesse lugar horroroso, o único que foi contra isso, foi meu querido avo, que achava que meu sonho era válido, mas como ele me apoiou, meus pai também pararam de falar com ele. O fato é que desde que estou aqui, eu nunca mais vi meus pais, faz anos que eles não aparecem, nunca mais me mandaram notícias, não lembraram mais do meu aniversário, e nem do natal e nem da páscoa, nem do dia de ação de graças, enfim, me esqueceram aqui, meu querido avo continuou me visitando sempre, e nas férias de verão, inverno, natal e páscoa, eu sempre ia para a casa dele, e no meu aniversário, era sempre ele que estava lá no portão do internato Santa Maria para me levar tomar sorvetes de chocolate, de presente sempre me dava um livro de anatomia humana. Mas agora ele morreu, e eu estou saindo desse lugar. Mas mesmo no leito de morte ele não se esqueceu de mim, deixou toda a sua fortuna para mim, numa conta particular, onde eu só poderia mover o dinheiro quando completasse 18 anos. Ele me contou isso pouco antes de morrer quando me levou na mesma sorveteria tomar sorvete. Disse que o dinheiro seria o suficiente para pagar toda a minha faculdade e me manter até eu termina-la e ainda teria o suficiente para viver uns bons anos. Bom hoje, é o dia em que eu finalmente vou embora desse lugar, consegui passar em 14 universidades, mas dentre todas elas resolvi escolher a de Michigan, achei a mais qualificada para o curso de medicina. Arrumei as últimas coisas na mala, e quando o taxi parou na porta do internato, não fiz questão de me despedir de ninguém , lá eu não tinha amigos, e as freiras eram más demais para merecerem consideração. Entrei no táxi, dei o endereço da faculdade, iria sair mais caro, já que era de uma cidade para a outra, pois Nova Jersey ficava uns 300km de Michigan, mas nem me importei com isso, tudo que eu queria era sair daquele lugar e começar uma nova vida longe de tudo que me machucou, claro sempre levando comigo a lembrança do meu querido ávo que me apoiou em tudo, e como ele sempre dizia e como eu repeti quando o táxi partiu:

- Para frente sempre, Addie.

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