CAFÉ COM HORTELÃ

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Decidi pegar o caminho mais longo para retornar da casa de Gloria. voltar nem sei bem para onde, mas estava voltando. Por aquela velha e esguia estrada onde o vento corta a água e te salpica com o cheiro da Maresia.

Viajando por baixo da luz de tantas corpos celestes, parecia que a minha lá em cima, era uma estrela funesta. A minha velha estrela guia que nunca me dá uma luz para sair desses labirintos de dédalo que eu me enfio.

A pasta do caso esta aqui me acompanhando, a foto de Alma está ali como uma caroneira muda, deitada sendo acariciada pela lua, parecia que Alma ia pular para fora daquela foto e me jogar na...

― MERDA!

Merda! Merda! Merda! Fui ficar devaneando com a viúva-alegre, sai da estrada e me taquei em um barranco abaixo. Eu que já não estava lá muito achado, agora estou mais perdido que puta nova em formatura de recruta.

Com o fuscão azul parado, posso montar um quadro límpido da minha situação: esse carro não anda mais, não tenho a menor ideia de onde me enfiei, o telefone mais próximo não está próximo, estou embrenhado em um buraco que deve estar cheio de ursos e maníacos sexuais. Espero realmente que os ursos me achem primeiro. Esse canto do meio do nada começou a ficar mais estranho e familiar, minhas velhas e cansadas narinas começaram a rastrear um aroma peculiar:

Café com hortelã.

Sim. Uma mistura bem exótica, mas que com tudo só poderia me levar a achar dois lugares:

Ou nos próximos minutos seria eu o homem a localizar a vila perdida dos smurfs, ou logo logo vou me deparar com a casa do velho Irene. O bom e velho delegado aposentado desta sucursal do inferno que carinhosamente chamo de minha cidade.

O velho Irene veio par cá a muito tempo logo assim que se aposentou das fileiras militares, a filhota passou para a faculdade e a família veio de mala e cuia para esse lado do mundo.
Mas ele não conseguia ficar parado, logo arrumou um cargo de delegado local, foi a melhor época na polícia em geral por aqui. A boa filha se formou com honras, casou e foi pra longe, a viuvez também não caiu bem pro velho e não demorou muito e largou tudo e veio pro meio do nada construir as paredes do seu próprio exílio da vida.

Agora estou eu em pé de frente para a porta da cabana mais enfadonha do oeste e em poucos instantes irei rever um velho amigo que não quer me ver. Me enchi de algo que não tenho muito. Coragem e boa vontade.

Por um segundo agradável realmente achei que ser devorado por animais selvagens, acabar sendo violado por estranhos no mato ou morrer congelado não era tão ruim assim, afinal todo mundo tem que morrer ou ser violado um dia.

Como de forma rotineira meus devaneios me deixaram ali de quatro no ato. Quando dei por mim o velho Irene já estava ali plantado na soleira da casa me dando aquele seu habitual olhar que me remetia ao bosta que eu era em fato.

Ele sem sequer mover o senho me entregou uma alva caneca fumegando de café com hortelã, deu de ombros e voltou para dentro com sua típica cadência militar. Tinham duas conclusões ali na minha cara, ou devia entrar ou era para pegar o café e sumir do raio de visão do velho capitão.

― É para entrar Rick, se fosse pra você virar as costas e sumir eu não tinha nem aberto a porta! ― Disse o sabichão embigodado.

Não sei se é pertinente, ou se já disse isso, mas... COMO EU ODEIO ESSE CARA! Entretanto, admito que ele sempre foi bom no que fazia, seja lá o que fosse. No momento ele era dono de cabana no meio do mato, sendo assim posso jurar que a santa nossa senhora podia descer dos céus e sentar sua sagrada e rosada bunda em qualquer parte deste lugar sem medo de macular sua pureza anal.

Marfim NegroWhere stories live. Discover now