E então eu acordei. Minha respiração estava descontrolada, não conseguia encontrar ar para puxar, meus pulmões queimavam, meu coração batia tão forte que no silêncio que se encontrava eu conseguia ouvir ele bater, batimentos fortes, descontrolados, como se fosse pular fora do meu peito. Não enxergava nada, estava tudo escuro, não tinha controle do meu corpo, não conseguia mexe-lo, nem minha mão. Tentei gritar, mas minha boca não se abria e nem emitia nenhum único som. senti meu sangue correr gelado nas veias, senti estar suando, e cada segundo que se passava ficava mais difícil de respirar.
Os pensamentos surgiram, como se minha mente tivesse voltado a funcionar, foi como uma luz muito clara estivesse ascendido do nada naquela escuridão. "Onde eu estava?" Foi a primeira coisa que eu me perguntei.
Consegui mexer minha mão depois de tanto tentar, e em seguida tentei levantar meu braço, ele doía muito, e estava demasiadamente fraco, eu perdi toda a força dele, se só meu braço estava assim eu não quero nem pensar no meu corpo... Ele bateu no teto quando eu levantei ele, mas logo caiu no lugar que antes de encontrara, percebi que estava em uma caixa. Quando meu braço caiu de volta eu pude tocar na minha roupa, era um vestido fino e macio com uma renda embaixo, eu pude sentir.
Depois de afastar minha mão do vestido eu senti um choque em minha cabeça e começou a doer muito forte, escutei um barulho agudo penetrando meus ouvidos, eu queria tapá-los mas estava fraca demais, e então como se eu estivesse debaixo d'água eu ouvi vozes, eu reconheci a voz, era uma voz doce e tremula, era minha mãe, ela dizia algo mas eu não conseguia escutar, estava distante...
Surgiu a visão, tudo ficou claro, branco demais para fazer minha cabeça doer mais ainda, parecia que meus olhos queimavam com a claridade. As formas começaram a aparecer, eu estava em uma loja, eu conhecia ela, era como se eu já estivesse ido naquele lugar antes... Minha mãe apareceu sorridente e feliz com um vestido branco nas mãos, ela vestia uma simples roupa, meias nos tornozelos e seu tênis branco velho, um casaco moletom que ia até um pouco mais abaixo de sua cintura, uma calça preta folgada e seus cabelos estavam presos. Ela segurava o vestido com as mãos, ele era lindo, tinha uma renda por dentro e por fora tinha outra camada de um tecido bem macio, ele era solto e tinha uma fita que segurava abaixo dos peitos, como se fosse para prendê-los, e neles era um decote não muito vulgar, com a renda agora do lado de fora cobrindo o tecido branco, e as mangas nos ombros com a renda bem solta.
- Olha esse que eu achei - disse minha mãe colocando ele na frente dela - Não é lindo? Por favor escolha ele!
Sorri e o encarei, era realmente muito bonito, não era o tipo de vestido que eu usaria para qualquer ocasião, ele não fazia meu estilo pra isso.
- Vou levá-lo - eu disse olhando para minha mãe e vendo o sorriso abrindo em seu rosto.
- Você vai ficar tão linda minha Amy... - eu peguei o vestido dela e fui pagá-lo pensativa, "minha Amy" ela disse.Tudo ficou escuro, não enxergava mais nada, eu precisava de ar, meus pulmões queimavam, não conseguia mais respirar. E então eu pensei, eu vivi aquilo, eu sentia que era uma memória, mas como? Por que? Não fazia sentido, eu não sabia o que estava acontecendo. Tentei dizer alguma coisa, foi sem sucesso, nada saiu da minha boca, mas eu não ia desistir. Levantei meu braço de novo na intenção de bater no teto e fazer um barulho mais alto, ele doeu, mas não parei, apesar de toda fraqueza eu não podia parar, eu precisava sair dali...
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Grito dos Corvos
Science Fiction"- Eu também escutei, todos os mortos escutam, acreditamos que é o som de nossas últimas batidas cardíacas de quando estávamos vivos."