2

64 10 2
                                    

Eu estava começando a ficar assustada, meus braços doíam de tanto esmurrar o teto e nada acontecer, eu ainda não sabia que lugar era aquele, mas tinha começado a pensar mais e minha mente estava mais clara. Meu corpo estava estirado, deitado, não conseguia ver meus pés, mas sabia que estava descalça, e pude sentir também meu cabelo solto nos ombros.

Nesse tempo eu estive pensando no que tinha acontecido agora apouco, eu tinha acabado de reviver uma lembrança, não sei porquê, mas eu sabia que era uma lembrança porque eu tinha quase certeza que eu já passei por aquilo antes. O cheiro, o toque, o ar frio de um inverno, o lugar, tudo aquilo era familiar demais pra mim pra ter sido só coisa da minha cabeça... Mas como? Quando? Onde eu estou? 

Pela milésima vez eu gritava por ajuda, minha garganta doía, me sentia incapaz e já estava ao ponto de desistir, mas continuei, e fiquei batendo no teto até eu não ter mais nenhuma força, eu estava completamente asfixiada. Senti algo caindo em minha perna, não conseguia pegar para ver o que era, mas era fino, como se fosse grãos de alguma coisa... Bati o mais forte que pude e gritei o mais alto que conseguia, eu estava quase lá, e senti novamente uma quantidade maior cair em meu braço esquerdo, e agora eu pude tocar para ver o que era, levei minha mão direita até lá e senti, parecia terra, molhada e fina. 

Até que eu consegui ouvir passos, tão distantes que parecia a quilômetros de distancia de onde eu estava, e talvez fosse... Gritei de novo e pude ouvir com muito esforço os passos pararem, o som estava distante e baixo, por um momento achei que a pessoa, ou qualquer coisa que fosse aquilo tinha ido embora.
 - Por favor! - tentei dizer gritando - Me tire daqui... - tossi, eu não conseguia mais achar ar para puxar...

Os passos se aproximaram e eu escutei mais de perto, a "coisa" não dizia nada, mas eu sabia que estava fazendo alguma coisa.
 Mais terra estava caindo das beiradas, me sujando, eu estava agoniada, o que estava acontecendo? Mais uma vez eu não sabia. O que ele estava fazendo?

                                                                                               **

Depois de um tempo, eu já sentia minha pele queimar, eu sabia que ia morrer ali sem ar, já tinha desistido de gritar e ninguém ouvir, tinha desistido de ter esperança que eu ia sair dali, eu não ia, estava começando a enlouquecer, a ouvir coisas, ninguém iria me ajudar, eu já tinha certeza. Fechei meus olhos, não que fizesse muita diferença pois estava tudo escuro, fechei-os e esperei morrer, tudo que passava na minha cabeça era sons que vinham do lado de fora, mas não era real, eu dizia a mim mesma que eu realmente estava enlouquecendo.
E foi então quando tudo ficou claro de novo, eu abri os olhos devagar e vi a silhueta de um homem.

 - Bem vinda - ele disse.

O Grito dos CorvosOnde histórias criam vida. Descubra agora