Língua de Fogo

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Lisa estava cansada.

Colocou as mãos nos bolsos de sua calça, e olhou para as pessoas ao seu redor. Muitos fogos andando apressados, como se o que fizessem fosse realmente importante. Eles se enganavam, dizendo que o que faziam iria dá-los algum tipo de dignidade. Mas Lalisa sabia da verdade. Não importava o quanto se esforçassem, as outras castas nunca os olhariam com algo além de nojo ou pena.

Seus olhos passearam pelas bolsas, deixadas sem proteção por segundos enquanto suas donas olhavam para os vestidos sendo vendidos, como se algum dia pudessem pagar por um daqueles, e com rapidez e leveza retirou algumas notas delas e as colocou dentro da bota, saindo de perto do jeito mais sutil que conseguia.

No começo, sentia-se muito mal por retirar algo de alguém que também tinha muito pouco, mas ao longo do tempo foi aprendendo a desligar a culpa. Aqui em Ignis era cada um por si, e se você não tirasse de alguém, pode ter certeza que seria tirado de você.

Tinha quase certeza que tinha conseguido escapar e já estava planejando ir ao mercado, comprar morangos. Eram sua fruta favorita, mas eram tão caros que Lisa mal conseguia pagar por eles. Estava prestes a virar a rua quando ouviu um grito de:

– Ladra!

Saiu correndo na mesma hora, sem nem ao menos olhar para trás para ver se aquilo era com ela mesmo. Geralmente era. Pulou alguns muros de casas e invadiu quintais, ignorando os protestos dos moradores. Deu uma virada na rua mais próxima e empurrou todos os que estavam em seu caminho. Olhou para os lados, em busca de uma saída e viu uma escada de incêndio que levava para um dos prédios abandonados dali.

Subiu as escadas até chegar ao telhado e ali se jogou atrás da antiga caixa de água. Prendeu a respiração e implorou para que tivesse conseguido despistá-los. Atreveu-se a dar uma pequena olhava para baixo e foi com alívio que viu as mulheres e policiais, que estavam a perseguindo, seguir em frente e passar direto pelo prédio que ela se escondia.

Colocou a mão dentro da bota e suspirou feliz ao ver que o dinheiro que tinha conseguido ainda estava intacto ali dentro. Ficou deitada por um tempo, tentando acalmar sua respiração e não começar um incêndio. Suas mãos tremiam e podia sentir elas se esquentando.

Alguns minutos mais tarde achou seguro descer as escadas. Olhando para os lados para garantir que não havia mais ninguém ali atrás dela, foi em direção ao mercado.

Lisa não comia fazia semanas e não dormia há dias. E ainda se lembrava da última vez que tinha tomado um banho, duas semanas atrás, na casa de um dos moradores com mais dinheiro, que estava viajando naqueles dias. Sentia-se horrível e sabia que sua aparência não estava muito melhor. Mas não ligava muito, pois a maioria dali se encontrava da mesma maneira. Tudo o que importava para a garota naquele momento era os morangos que finalmente iria conseguir colocar na barriga.

Quando chegou ao seu destino sentiu seu estômago roncar com a visão de todas aquelas iguarias. Foi em direção ao estande de frutas e foi com muita satisfação que pegou a caixa com os morangos mais gordos e os levou ao caixa. Entregou o dinheiro ao rapaz que estava atendendo e percebeu que tinha sobrado algumas moedas.

Decidiu guardá-las para comprar comida para as próximas semanas, então foi para sua casa (era mais uma barraca do que qualquer outra coisa, mas chamar aquilo de casa a fazia sentir que pertencia àquele lugar e que não era apenas mais uma ladrazinha moradora de rua).

O caminho para lá era demorado e difícil, pois sua casa era no topo de um morro, no meio de uma floresta sem quase nenhuma trilha. Ninguém sabia disso, mas ela morava naquele lugar porque era bem perto da divisa de Ignis com Tellus, onde sua melhor (única) amiga, Jennie, vivia.

Playing With FireWhere stories live. Discover now