Capítulo 1

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Marina

Saio de casa quase atrasada para mais um dia de aula e assim como todos os dias nos últimos meses, eu não consigo comer nada pela manhã. É claro que eu havia perdido peso e percebido isso. Mas eu estava cheia com as provas finais e testes vocacionais para fazer. Estávamos no último semestre de aulas e eu ainda nem tinha escolhido o que ia fazer na faculdade! 

Além disso, esse não era um dia da semana comum.  Era segunda-feira. Com outras palavras, isso significava ter a primeira e a última aula do dia com o professor mais chato do universo. Alem de ser o pior dia da semana, pois todo mundo chega com sono ou animado demais contando das aventuras que viveu no fim de semana, mas acima de tudo é o dia em que temos que receber todo o mau humor do Professor Ferraz. 

Entro na sala comemorando por ter chegado antes dele. Encontro Cláudia, uma das minhas melhores amigas, sentada na carteira atrás da minha. Ela possuía traços indígenas que lhe davam um charme singular junto com seus cabelos pretos. Nunca se preocupou (nem precisava) com a aparência e seu jeito tímido sempre encantava os garotos.

- Bom dia - ela fala com o cenho franzido de tristeza. Eu sabia o que significava. "Aula de Biologia"

- A gente sabe que não é - rimos fracamente enquanto Carol e Júlia chegam rindo alegremente - Quanta animação! - comento.

- Claro, o professor mais lindo dessa escola só tem aula uma vez por semana aqui na sala - Carol fala brincando enquanto arrumava suas coisas ao lado da minha carteira. Ela sabe que de nós três, eu sou a que menos suporta esse cara. E se houvesse alguma regra para as amigas odiarem os professores bonitões que deram sermão nas outras, Carol tacava o foda-se para ela. Rio com o pensamento.

Carol era a típica patricinha. Ela era loira dos olhos claros e a primeira a namorar do nosso grupo. Sorrio lembrando de como ela ficou alegre quando nos contou que havia "finalmente perdido o bv" e disse que, por ter sido a primeira do nosso grupo, tinha a responsabilidade de dar dicas para nós. Não preciso dizer que ela levou essa história realmente a sério e que quando o restante de nós começou a beijar também, ela marcou o seu projeto como concluído. Era uma completa bobagem, mas nós nos divertimos tanto que até hoje damos gargalhadas ao lembrar. Ela era quase louca, mas linda, com seu corpo todo curvilíneo e bunda invejada por muitas de nós, meninas. Carol sempre soube o que queria e não media esforços para conseguir.

- Não vejo a hora de me livrar desse professor. - Dessa vez foi Júlia que falou enquanto jogava a bolsa no lugar vazio atrás de Carol. Por outro lado, Júlia era magra e com os cabelos um tom mais claros do que os meus. Algumas pessoas perguntavam ora ou outra se tínhamos algum laço sanguíneo, mas o laço afetivo que tínhamos era suficiente para nós.

- Vou fazer uma festa quando isso acontecer - Carol adicionou e rimos - Por falar nisso, o Lucas, meu querido irmãozinho, vai comemorar o aniversário dele em uma boate. Ele chamou apenas alguns amigos e apesar de não ter conseguido fechar o lugar, ele reservou uma área para esse fim de semana. Quem topa?

- Não posso, preciso estudar - falo triste quando vejo todas concordarem com a ideia.

- Ah não, vamos. Você não pode só viver estudando, Mari - Júlia fala e todas concordam - Você tem que ter um descanso. 

- Isso, você tem que buscar um equilíbrio, o princípio-chave da tal da homeostase que o Professor Ferraz falou outro dia - completa Carol gesticulando e todas nós olhamos para ela como se ela tivesse duas cabeças. No mesmo momento, nosso professor chega e escuta parte da nossa conversa. "Por falar no diabo..." - Não é mesmo professor? - Carol pergunta batendo os cílios e ele faz apenas um aceno com a cabeça, parecendo distante. Ela gostava de deixar claro que não se ofendia nada com o jeito rude do nosso professor. Eu sei que isso o irrita, mas ele parece não se importar com a sua ousadia. No entanto, ele estava diferente hoje. Seus olhos encontraram os meus e percebi um pouco de simpatia neles, algo completamente fora do normal para Arthur Ferraz.

Ensina-me, professorOnde histórias criam vida. Descubra agora