Capítulo III

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Abro meus olhos e... Sabe aquela sensação quando você dorme em um lugar diferente da sua cama e acorda não sabendo muito bem aonde está? Foi exatamente assim hoje, mas por pouco tempo já que a dor no pescoço logo me fez recobrar a memória da noite anterior.

Havia adormecido no sofá e por isso meu corpo estava completamente dolorido.

-Dormiu bem filha? Me desculpa, nem tive coragem de te acordar, parecia tão cansada.

Vejo minha mãe ainda com a expressão de sono, saindo de seu quarto com a mão sobre a cabeça, demonstrando estar com a dor que antes havia reclamado.

-Dormi feito um bebê, não se preocupe.

Me levanto com um pouco de dificuldade, me espreguiço e vou em direção a cozinha afim de passar o café.

-Quer um pouco de café mãe?
Ofereço, enquanto tomo uma xícara da bebida fumegante que acabo de preparar.

-Não estou recusando, mas a mocinha não deveria ir trabalhar por uma hora dessas?

-Que horas são?

-Quase dez da manhã.

Engasgo com o líquido quente que está na minha boca e deixo a xícara cheia sobre o balcão.

Eu e Alexa havíamos combinado que eu iria às dez da manhã terminar a limpeza que havia começado ontem.

Corro para o banheiro e tomo banho o mais rápido possível, visto a primeira roupa que encontro e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo.

Saio do banheiro já arrumada e vou em direção a minha mãe para me despedir.

-Já estou indo mãe.

-Não vai nem comer alguma coisa? Saco vazio não para em pé não Teca.

-Como algum coisa quando chegar lá, ok? Fica bem.

Dou um beijo em sua bochecha e saio.

Faço o mesmo trajeto do dia anterior: ando até ao ponto de ônibus e depois de ônibus vou até a mansão.

Chego ao endereço da casa e aperto o interfone. Ouço a mesma voz do segurança que ouvi da outra vez.

-Quem deseja?

-Sou eu, Esther.

O portão se abre e eu o cumprimento com um "bom dia" e um aceno de cabeça e ele faz o mesmo.

Sigo para as portas dos fundos e encontro Alexa preparando o almoço. Quando me vê, me olha do jeito que ela julga ser o mais furioso.

-A madame sabe que está atrasada, não é?

-Me desculpa Ale, eu dormi mais do que deveria. Eu vim às pressas para cá nem deu tempo de comer nada. Vim o mais rápido que pude.

Ela desfaz a expressão brava que antes abitava seu rosto.

-Come aqui então.

Ale abre a geladeira e pega algum tipo de doce, cujo nome desconheço, e me serve.

-Os patrões não irão brigar?

-Não, o doce é meu, pode comer.

Enquanto me delicio com aquela sobremesa, Alexa eu conversamos sobre qualquer coisa e quando termino, me preparo para começar o trabalho.

-Teca, não esquece que você precisa ser um pouco mais rápida porque o filho dos donos saiu cedo e já deve estar voltando.

-Pode deixar.

Pego os materiais de limpeza e subo para o segundo andar para terminar de limpar os quartos que ficaram faltando.

Depois de tudo limpo, recolho o que usei e já ia descendo, mas quando passo na frente do quarto das fotos, que provavelmente pertence ao filho que voltou de viagem, deixo os produtos no chão perto da escada e tento me decidir se devo entrar lá de novo. Como fui rápida em limpar tudo, acho que ele não voltará à tempo de me ver dentro de seu quarto. Minha curiosidade fala mais alto e opto por entrar.

Entro e percebo que o quarto está com o dobro de fotografias que antes tinha. Agora todas as quatro paredes têm murais cheios de fotos e mais ainda na mesa de cabeceira. Há retratos de paisagens, pessoas distraídas, animais e outras várias imagens bonitas.

Sento na beirada da cama e pego uma fotografia para ver de perto.

A imagem mostra uma pequena menina com o rosto sujo pelo sorvete que está em sua mão correndo para os braços da mãe em um lugar que aparenta ser um parque. Fico tão distraída que nem percebo que alguém havia chegado.

-Não é muito cedo para uma mulher já estar em minha cama? Ainda mais sem mim?
Olho para o lado e vejo Kaio encostado na parede, com um malicioso sorriso. Me levanto às pressas da cama em que estou e coloco o porta-retrato sobre a mesa que estava antes, acabo esbarrando em outras fotos no processo, fazendo-as cair no chão.

-Ei, se afaste das minhas fotos.

Kaio vai em direção aos porta-retratos para tirá-los do chão e eu me abaixo para ajudar também.

-Me desculpe, eu não tive a intenção de fazer isso.

Falo, desesperada com a bagunça que fiz. Por sorte, nenhum deles se quebrou. Colocamos todos em cima da mesa de novo.

-Afinal, quem é você e o que está fazendo aqui?

-Meu nome é Esther, sou a faxineira e eu só vim para... para limpar.

-Sem nada? Iria limpar com a mão?

Ok, bem esperto.

-Ah, me desculpe. Eu vi as fotos e fiquei curiosa para ver mais de perto, mas não queria derrubar nada, foi sem querer.

-Tudo bem. Agora saia daqui, por favor. Preciso descansar e, faça outro favor a nós dois, nunca mais entre no meu quarto sem mim ou mexa nas minhas fotos de novo.

-Combinado.

Saio o mais rápido possível daquele quarto, fechando a porta atrás de mim e tentando ao máximo esquecer a vergonha que acabei de passar.

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