Capítulo IV

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Desço as escadas na velocidade da luz, com minhas bochechas queimando de vergonha.

Como eu pude entrar no quarto de uma pessoa sem ter permissão e, pior ainda, se deixar ser pega no flagra?

Vou em direção a cozinha me encontrar com Alexa, refazendo essa pergunta várias vezes a mim mesma durante o caminho.

Entro na cozinha e vejo Ale cumprindo com suas tarefas habituais como cozinheira. Fico esperando ela terminar para podermos ir embora juntas, já que ela será liberada mais cedo hoje. Enquanto a esperava, começamos a conversar e acabo contando a ela o que acabou de acontecer.

-Você fez o que? Logo você que é toda certinha. E ainda derrubou as coisas dele? Não creio!

Alexa joga a cabeça para trás, rindo como se não houvesse o amanhã, com os olhos lacrimejando e alegando estar com dor na barriga por sua risada exagerada. Essa foi a reação dela depois de eu lhe contar detalhe por detalhe do que houve. Se antes eu estava com vergonha, agora piorou mil vezes mais.

Logo que se recupera do seu ataque de risos, ela volta a fazer o que estava fazendo para podermos ir embora e a senhora Blanca entra na cozinha.

-Bom dia.

Alexa a saúda e eu faço o mesmo, porém dona Blanca ignora completamente nossos cumprimentos.

-Alexa, você já terminou de preparar o almoço?

-Não senhora, mas já está ficando pronto, só levará mais alguns minutinhos.

-Estou cercada por incompetentes mesmo. E você menina? Me diga que pelo menos você terminou o seu trabalho.

Ela olha para mim com o olhar mais intimidador que eu já vi.

-Sim senhora.

-Muito bem, venha até o escritório do meu marido, irei lhe dar seu pagamento.

A acompanho em silêncio até o escritório. Ela abre as portas, me dando passagem para adentra-lo.

Não havia visto essa parte da casa ainda, porque não me deram permissão para limpá-lo. O escritório é incrivelmente grande, assim como toda a casa, por suas paredes há inúmeros livros e no centro, uma grande mesa marrom com um computador, livros e outros materiais de trabalho. Há também quatro cadeiras pretas, aparentemente muito confortáveis e bastante convidativas, à frente da mesa e uma atrás.

Blanca vai até algum tipo de cofre que fica atrás de um quadro e, como eu nunca tinha visto um cofre antes, acabo olhando por um tempo maior que o normal. Assim que percebo isso, desvio o olhar para o outro lado, mas Blanca vê antes que eu consiga disfarçar.

-É por isso que eu não lhe dei passe livre para entrar aqui sozinha... Não se pode confiar em pessoas como você e não vai se animando não, nesse cofre só tem um átomo do dinheiro que nós temos e, além de tudo é muito protegido, então é melhor não tentar roubá-lo.

Eu não acredito nisso que estou ouvindo.

-A senhora acha mesma que sou uma ladra? E por quê? Por ser pobre? Eu posso ser pobre, mas tenho muito caráter. E a senhora deveria respeitar mais os outros, não é só porque tem dinheiro que é melhor que as outras pessoas que não o tem. Eu realmente não quero brigar, então por favor, me dê o que me deve e irei embora o mais rápido possível.

Falo, com o sangue fervendo em minhas veias. Se eu realmente não precisasse do dinheiro sairia desse lugar agora mesmo sem nem olhar para trás, mas infelizmente não posso fazê-lo.

A senhora me olha revirando os olhos, coloca a mão no cofre e gira algumas vezes. Quando finalmente o abre, tira de lá um pequena quantia em dinheiro e me entrega.

Pego e saio daquele escritório, sem me despedir ou agradecer. Vou a cozinha e Alexa já está com sua roupa normal e sua bolsa, pronta para ir.

-Vamos Ale, não aguento mais ficar aqui.

Ando rápido até a saída daquela casa, ainda nervosa com o que aconteceu. Passo pelo segurança, me despedindo apenas com um aceno de cabeça e ando o mais rápido até o ponto de ônibus.

Ouço Alexa atrás de mim, pedindo para esperá-la e finalmente paro.

-O que houve, por que você está assim Teca?

-É aquela mulher, a dona Blanca. Você acredita que ela achou que eu queria roubá-la? Você sabe que a pior coisa para mim é quando alguém duvida do meu caráter. Como você aguenta conviver com ela? Viu como ela te tratou?

-Eu sei Teca, ela não é uma pessoa muito boa mas é a que me paga um salário e é a que te deu esse dinheiro. As coisas sempre foram assim, os que nasceram para humilhar humilham, e os que nasceram para aguentar isso são humilhados, não podemos fazer nada e infelizmente, nós nos encaixamos na segunda opção.

-Ninguém deveria pré julgar o outro pela aparência ou pela condição financeira Ale, isso é errado e isso irá mudar, pode ter certeza.

-É assim desde quando o mundo é mundo e não é agora que irá mudar. O que podemos fazer é simplesmente não ligar para coisas assim, nos manter com os pés no chão e fazer o nosso trabalho. Agora, esqueça isso e vamos para casa, está bem?

-Ok.

Balanço a cabeça em afirmação, mas nunca irei concordar com isso. Um dia as coisas irão mudar para nós, tenho fé nisso.

Chegamos ao ponto de ônibus e, como é de costume, ele se atrasa um pouco, mas logo chega e podemos entrar.

Vamos conversando sobre outros assuntos durante toda a viagem e depois de um tempo, finalmente chegamos. Me despeço de Ale e abro a porta da minha casa com a ideia de apenas tomar um longo e delicioso banho e descansar em minha cama por horas a fio, mas o que encontro a seguir é algo que me tira completamente esse pensamento e me faz ter o mais profundo sentimento de desespero.

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