Todos apontavam os meus defeitos, era como se quisessem que eu fosse uma máquina programada pra escolher precisamente o melhor caminho.
Eu me olhei no espelho, pela primeira vez prestei atenção no que via, era a primeira vez que eu tirava conclusões sobre quem eu era, talvez (não sei) eu tivesse sido influênciado pelas opiniões que me rodeavam ou só fui sincero sobre a minha imagem. Eu me vi feio e sujo. Era uma flor repleta de espinhos.
Respirei e resolvi dar um chance àquelas pessoas que tanto me julgavam, talvez quisessem apenas o meu bem. Então mudei.
Fui sugando cada coisa que me diziam que era certo, e a cada novo passo que eu dava um espinho ficava pra trás. Eu fui me transformando em uma flor linda e lisa. Perfeita.
Passaram-se anos de metamorfose, e finalmente era hora de eu me olhar no espelho de novo. Tomei banho, fiz a barba, me perfumei, abri o guarda-roupa e escolhi o conjunto mais bonito (segundo aquelas pessoas) e caro que possuía.
Parei de frente aquela moldura, um pano vermelho a tapava. Hesitei. Passei a mão pela barba e puxei o pano.
Uma luz forte refletiu e tapei meu rosto me protegendo da cegueira. Esperei a luz diminuir e finalmente olhei...
Meu coração pareceu ter se assustado e um calafrio estranho passou entre minhas entranhas. Eu continuava feio e sujo. A minha imagem era a mesma, porém mais cansada que antes.
Olhei mais fixamente. Não podia ser real. Fiquei horas de frente o espelho até que finalmente consegui enxergar algo de diferente.
Olhei além do espelho e vi meu interior.
Estava devastado, frio, sem cor, sem vida.
E tudo estava tão desnso que transbordava pra fora, escorria em minhas veias, me drenava. Percebi que junto com tudo o que eu tinha de bonito foi-se a principal fonte: a felicidade.
Uma lágrima escorreu em meus largos olhos, minhas pernas enfraqueceram e derrubei-me no chão.
Queria retroceder, mas quanto tentei, os espinhos que eu havia deixado no chão na ida, me impediam da volta.
