"Entrámos então no carro e dirigimo-nos até ao restaurante. A sua casa ficava longe de tudo o que era perto da cidade ou até mesmo de uma pequena loja ao lado da estrada. Não percebo como ele conseguia viver assim.

- Desculpa, mas agora que me lembro, eu estou a caminho de jantar fora contigo, na escura noite, sozinha e indefesa, e nem sei o teu nome.

Ele riu.

- Realmente tens razão, que falta de respeito da minha parte. - sorriu.

- Vou deixar passar desta vez. - disse, entrando na brincadeira.

- O meu nome é James Watters, prazer em conhecê-la, Lyhn. - sorriu, de novo.

- James. Prazer em conhecê-lo. - ri.

E lá estava ele. Olhou para mim de novo com aquele seu olhar intenso, capaz de atravessar oceanos. Sem dúvida que gostava deste "James", mas o que sabia eu de "gostar"?

Passaram-se minutos atrás de minutos e continuávamos no carro à procura de um restaurante onde pudéssemos parar. James mantinha os seus olhos na estrada, como era de esperar. Não conseguia parar de olhar para ele nem de pensar em como o nosso jantar seria. Como seria estar sentada frente a frente com este homem, tão atraente e simpático. Era alguém diferente do que eu procurava, o que me agradava ainda mais.

- Desculpa mas é um pouco difícil encontrar um restaurante por aqui.

- Acho que já deu para perceber. - ri. - Porque não vives mais perto da cidade? Poderias encontrar vários restaurantes numa questão de 2 minutos. - disse, para tentar perceber também o porquê de ele viver tão longe da cidade.

- Não és a primeira a dizer-me isso, acredita. - riu. - Gosto de estar quieto, num sitio tranquilo, e não me parece que possa ter isso na cidade.

- Claro, é compreensível. - sorri.

Sem dúvida que era uma pessoa bastante reservada. Ele tinha o que eu procurava. Todos estes anos, sempre procurei sossego e tranquilidade, sem ninguém a dizer-me o que fazer nem com quem casar. Uma das coisas que me magoava muito foi a ausência do meu pai nesta decisão da minha mãe. Eu e o meu pai tínhamos uma relação tão boa, e dava para reparar que o meu pai se preocupava bastante comigo. Por isso, não fazia sentido nenhum ele aprovar esta decisão, nem tentou impedir a minha mãe. Eu percebo que eles tenham bastantes problemas financeiros, mas acho tão injusto.

- Está tudo bem?

- Claro, já chegámos? - disse, distraída.

- Se olhares à tua volta podes ver que ainda estamos na estrada. - sorriu. - Tens a certeza que estás bem? Pareces distraída com algo.

- Não, eu estou bem.

- Seja o que for que te deixa nesse estado tão deprimente, vai ficar tudo bem. - sorriu, de novo.

Era impossível esta situação melhorar. Para além de ser demasiado nova, eu não queria casar, muito menos com alguém que não conhecia de lado nenhum. Queria dar a volta à minha mãe e fazê-la perceber de que isto não era correto, mas obviamente que seria em vão.

- A pensar no nosso casamento?

- O quê? - perguntei, surpresa.

- Sabes que isso vai acontecer, mais dia menos dia. Não precisas de pensar tanto nisso. - sorriu.

- Lá está ele outra vez com as ideias do casamento. - ri.

- Não tentes evitar o inevitável. - riu.

- Andas com muita piada para quem ainda não encontrou um restaurante. - ri.

- Tem que ser. Se quiseres até comemos aqui na estrada.

- E comemos terra, que achas?

Ambos rimos. Sem dúvida que era mesmo isto que precisava. Precisava de me distrair e de libertar todo o meu stress por causa desta história do casamento.

Mais alguns minutos depois, James parou o carro em frente a um restaurante ainda longe da cidade. Era um restaurante pequeno mas parecia ser confortável e acolhedor. Ambos saímos do carro, ainda animados por jantarmos juntos, e entrámos no restaurante. Logo perguntaram-nos em que mesa gostaríamos de ficar e colocámos música na jukebox que estava perto da porta do restaurante. Era uma música calma e tranquila. Estar com James era como uma espécie de terapia para mim, era algo que me fazia bem e fazia-me esquecer de tudo o resto.

Entretanto, a comida chegou. Não era um restaurante cinco estrelas, mas o seu ambiente calmo tornava-o melhor. Tinha boa comida e era silencioso, não tinha muitos clientes, talvez devido à sua terrível localização.

Começámos a comer enquanto nos conhecíamos melhor. Ele perguntou-me sobre o meu trabalho, sobre a minha casa, onde vivia, os meus planos para o futuro. Parecia estar bastante interessado na minha vida e sobretudo em tudo o que me rodeava. Porém, quando tentava fazer-lhe as mesmas perguntas que me perguntara ele tentava escapar e logo mudava de assunto. Era como se quisesse escapar à sua própria vida.

- Então, Lyhn, e namorados? Existem? - disse, descaradamente, a sorrir.

Face a essa pergunta, a minha primeira reação foi desviar o meu olhar para tudo o que pudesse encontrar no restaurante menos James, pois logo me lembrei do casamento. Tentei fugir ao assunto, como ele tinha feito, mas não tive sucesso. Ele não parava de insistir em perguntar se algo se passava comigo ou se queria falar com ele sobre o que me incomodava. A minha resposta manteu-se sempre a mesma: não. Por fim, James desistiu e quando a comida chegou começámos a comer. Devo admitir que esta conversa estragou parte do jantar. Concordei em jantar com James porque pensei que seria divertido, pensei que ele o fosse. Ou que não falasse sobre coisas tão sérias, mesmo sabendo que essa nunca fora a sua intenção.

Continuámos a comer, sem libertar uma única palavra das nossas bocas. Ele estava muito calado, talvez pela resposta fria que lhe dei. E eu devo admitir que ainda estava um pouco chateada por ele me ter lembrado do "maravilhoso" casamento que me espera. De repente, James pousou os talheres e permaneceu com um ar chocado enquanto olhava para a janela do restaurante. De seguida, olhei também para a janela na tentativa de descobrir o porquê de ele estar nesse estado. No lado de fora do restaurante encontrava-se um grupo de homens a olhar, também, para James. Continuei a olhar e, por mais que tentasse, não reconhecia nenhum deles. Mas porque estariam eles aqui? Quem quer que fossem, James parecia tudo menos contente por os ver.

- Lyhn, sinto-me enjoado. Vamos para minha casa sim? A tua casa é um pouco longe e é o melhor. - disse enquanto se levantava, porém, continuando a olhar para a janela.

- Mas eu ainda nem acabei de comer. E, se não for demasiado incómodo, posso perguntar o que se passava com aqueles tipos? - disse, apontando para os homens, fora do restaurante.

- Não, não podes perguntar nada. Vem comigo, confia em mim. - disse, num tom apressado e firme.

James pediu, rapidamente, a conta e pegou na minha mão, dirigindo-se à porta do restaurante. Quando James abriu a porta de modo a sair, colocou o seu olhar no chão e não olhou para outro lado até chegarmos ao carro. Sem dúvidas que se passava algo aqui. Ele estava a evitar os próprios "amigos", se posso dizer tal coisa. Estes ainda permaneciam imóveis, movendo nada mais que os seus olhos que perseguiam James. James ligou o carro e dirigimos-nos até sua casa, seria uma boa viagem até lá."

Com amor,
Lyhn.

Cartas De LyhnOnde histórias criam vida. Descubra agora