Five.

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10 de dezembro

O holocausto reina sobre a terra. Vestida com minhas roupas da antiguidade, me esforço para correr entre a névoa de poeira formada no ar. Seguro fortemente os panos que me cobrem e corro com toda a intensidade que posso. Barulhos de explosões são evidentes no local, sinto o zumbido me sacudir, como se um tiro tivesse sido disparado bem do meu lado.

Sou atingida por alguém. A bala pesada atravessa o meu peito, fazendo-me cair no chão abruptamente. O ar parece sumir da terra e minha necessidade de ingerir água aumenta. Minhas vestes se umedecem. Há sangue. Muito sangue espalhado em mim. Mas tudo parece congelar quando o anjo cai. Ele caiu como um trovão e eu vi as suas asas negras se abrindo como um deus. Ele era lindo, inteiramente lindo. Não havia luz, mas nada conseguia o atingir. Então, o homem me pegou no colo, enquanto as suas asas cobriam nossos corpos da guerra, ele me olhou nos olhos e sorriu para mim, como se quisesse me dizer algo. Sua mão machucada tocou em meu rosto e eu congelei, Zayn estava bem ali, me segurando e me protegendo de toda a dor.

A b r o  os meus olhos rapidamente e deslizo o dorso da minha mão por todo o meu rosto o mais rápido que posso, sentindo o suor umedecer minha pele. Encaro o relógio portátil sobre o criado mudo, o sol ainda não nasceu e há escuridão por quase todo o quarto, exceto pelo abajur que ilumina a minha cama. Levanto-me as pressas e caminho até o banheiro, deslizando minha mão pela parede para encontrar o interruptor.

A luz ilumina todo o quarto e rapidamente elevo minha mão na altura dos meus olhos para cobrir a claridade que me faz tontear. Há uma figura no espelho que me intimida, piscando os olhos varias vezes, minha visão se acostuma com a claridade aos poucos, permitindo que eu veja com clareza as coisas ao meu redor.

Abro a torneira e deixo a água encher completamente o vácuo que há entre as minhas duas mãos juntas, levando-as até meu rosto. Seco o mesmo com a toalha felpuda perto do espelho e escovo os meus dentes.

Ao voltar para o quarto, abro a cortina e espreito através do vidro que está fechado. Não há ninguém do outro lado, nem mesmo uma alma viva na rua. Parece que o soldado arrumou um jeito de se distrair, nem mesmo o sangue que se encontrava derramado no chão está ali.

Mas então eu o encontro poucos segundos antes de fechar a cortina. Seu corpo levemente malhado está mais visível do que nunca. Zayn usa uma regata preta enquanto desacelera os passos assim que pisa em sua varanda. O homem estava correndo, sei disso porque ele parece quente apesar do frio.

O moreno abre a porta com uma certa força e eu o acompanho com os meus olhos até o mesmo sair do meu campo de visão. Um movimento na ala superior chama minha atenção. Ele está em seu quarto agora e parece cansado, como sempre. Zayn puxa a beirada da sua camiseta e a retira sobre a cabeça, fazendo-me corar. Meus pensamentos errôneos me fazem querer fugir, mas eu não me movo, pelo contrario, eu permaneço ali. Parada. Obcecada por ele.

Seu riso baixo me faz perceber que ele sabe que está sendo observado, propositalmente ele puxa o cordão da sua calça de moletom, afrouxando o pano que o cobre. Zayn começa a deslizar o tecido para baixo e eu fecho a cortina o mais rápido que posso para não ver mais do que deveria.

"—Você tem algo para me dizer?" Ele me encara e logo em seguida cruza os braços, seus olhos azuis me encarando enquanto eu respiro fundo.

"— Depende, você vai querer me ouvir?" Pergunto irritada com meu pai, que por sua vez franze a testa e ameaça me agredir."—Eu não tenho mais cinco anos de idade."

"—E eu não tenho mais paciência para isso. Pegue as suas coisas e fique a vontade para se retirar da minha casa." Suas palavras me doem e eu observo minha mãe no canto da sala, com seus olhos marejados e as unhas por fazer.

O s o m do do despertador me trás de volta, são sete horas. Passei a maior parte do meu tempo lembrando dos meus pais, sinto falta deles, mas sei que não posso fazer nada a respeito disso. Ao invés de ficar me lamentando, desço as escadas e pego o meu casaco sobre o objeto atrás da porta.

O sol se recusa a aparecer, deixando o dia cinzento e sombrio como o habitual. Zayn me espera na porta e eu sinto meu estômago gelar, por que mesmo que eu escolhi esse emprego?

"— Está atrasada." Sua voz rouca ecoa assim que eu entro em sua residência. Olho para o relógio na parede que marcam sete horas e dois minutos. Dois minutos de atraso apenas e já é motivo para uma advertência? Uau.

"— Desculpa..." Antes que eu possa terminar ele me interrompe, seu olhar pesado parece implorar por um descanso.

Zayn tira do bolso um molho de chaves e me entrega, todas do mesmo tamanho, algumas mínimas diferença entre as mesmas.

" —O quarto ao lado do seu não deve ser aberto, espero que entenda isso."

Franzo as sobrancelhas rapidamente ao ouvir isso. Meu quarto?

" — Você leu o contrato?" Ele parece irritado, não sei se é pelo fato de estar sendo obrigado a se comunicar comigo ou por eu realmente não ter a mínima ideia do que ele esteja falando.

"— Claro." Digo tentando transparecer confiança embora minha voz falhe. O que há de errado comigo? Nunca me senti tão intimidada igual eu me sinto quando estou perto dele.

"— Traga as suas coisas ainda hoje, preciso de você vinte e quatro horas disponível." O soldado agora parece desinteressado, é tão difícil entendê-lo.

Balanço minha cabeça positivamente e umedeço meu lábio inferior com a língua, sentindo meu pele áspera. Maldito frio.

"—Fique a vontade para conhecer a casa."

Aceno mais uma vez em concordância. Parece que agora me tornei muda. Zayn deixa a sala lentamente e eu respiro fundo. Por que ele não gosta de se comunicar comigo? O que há de errado? Pensando no que ele disse, começo a andar pelo casa e observar os detalhes,mapeando tudo detalhadamente em meu consciente.

P o r ú l t i m o , faltam dois quartos . Todas as portão são iguais as da minha casa, não há muita diferença de estrutura em comparação a minha antiga moradia. Por fim, estou em frente ao meu quarto. Ao abrir a porta, noto que a escuridão que habita no cômodo não é reconfortante e sim obscura. Talvez eu faça algumas mudanças mais tarde caso tenha autorização.

Movida pela minha curiosidade, meus pés me levam até a porta ao lado, aquele que eu não posso abrir de forma alguma. Seguro a maçaneta gélida e mordo o meu lábio inferior, criando coragem para desobedecer uma regra logo no primeiro dia de trabalho.

Ao puxar o objeto para baixo e empurrar a porta, a mesma permanece intacta. Logo me lembro das chaves que Zayn me entregou. Olho para o corredor mais uma vez antes de tentar abrir a porta de outro jeito.

"— O que está fazendo?"

  A voz rouca dele me faz saltar, o meu coração dispara e eu respiro fundo, tentando controlar meus batimentos cardíacos. Viro minha cabeça cuidadosamente e de relance consigo ver o homem parado no final do corredor, a iluminação escassa como sempre e o seu semblante fechado.

"— Estava apenas testando, eu já encontrei o meu quarto, obrigada."

Zayn permanece parado ao final do corredor, meus pés se movem rapidamente para o meu novo quarto e em questão de segundos a escuridão me sonda. Deslizo minha mão pela parede e acho o interruptor. A claridade se torna real e eu posso observar o local, há uma cama grande e aparentemente confortável, um criado mudo e uma cômoda com um espelho quebrado.

Há um lado bom em toda essa merda, eu terei dinheiro para pagar o aluguel atrasado e terei uma casa para ficar, com esse dinheiro eu posso investir na minha faculdade.

Decido então ir para casa fazer minhas malas, espero que isso seja realmente uma boa ideia.

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⏰ Última atualização: Nov 16, 2017 ⏰

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