Eu só conseguia pensar em Vladmir e no que ele iria fazer, não poderia prejudica-ló de forma alguma. Ele havia feito tanto por mim em tão pouco tempo e estava naquele momento novamente fazendo algo por mim.
Meus pensamentos se afastaram quando senti meu rosto queimar ainda mais, ondas de dor percorriam a minha face e minha cabeça latejava de dor, toquei no ponto em que a dor era mais intensa e pude sentir que havia um pequeno corte. Olhei para meus dedos e havia uma quantidade de sangue escarlate que lentamente escorreu por minha nuca, fazendo meu cabelo grudar no meu pescoço. Ainda fora de mim caminhei até o banheiro, tranquei a porta e liguei a torneira molhando algumas toalhas para limpar o sangue do meu pescoço.
Ouvi a voz de Vladmir seguida pelas suas batidas na porta.
- Elise, você está bem? Abra a porta! - Sua voz soou firme, mas sua preocupação era evidente.
- Só um momento. - Respondi fraco.- Eu estou bem.
- Abra a porta, eu vi as gotas de sangue, deixe eu entrar.
Fraca eu caminhei até a porta a destrancando, no segundo seguinte ele entrou me pegando em seus braços e me carregando até minha cama, ele me colocou sobre ela, virando meu corpo de lado e olhou no corte em minha cabeça.
- O corte não foi fundo, já está parando de sagrar. -Disse ele colocando uma toalha no lugar.
- Obrigada.
Seus dedos tocavam levemente meu pescoço, me fazendo arrepiar.
Ele se afastou indo em direção a minha escrivaninha e me acalçou uma bolsa de gelo colocando-a sobre meu rosto.
- Vladmir, não quero que se envolva nisso, isso poderá trazer muitos problemas a você...
Eu falava baixo, mas ele conseguia me escutar. Suas palavras interromperam as minhas:
- Não se preocupe comigo, seu pai não fará nada contra mim, eu tenho a proteção de Luxor.
- Não faça nada, meu pai pode fazer algo inimaginável contra você. - As palvras saíram em meio as minhas preocupações. Me levantei olhando em seus olhos que me olhavam preocupados, mas com ternura.
- Não precisa se preocupar. - Suas mãos se apertaram o tecido da sua calça, fazendo os nós de seus dedos ficarem ainda mais brancos. - Eu ainda não consigo acreditar em tudo que eu vi hoje.
- Eu não queria que tivesse visto isso, eu sinto muito, sinto muito.
- Você está bem? Ele sorriu de maneira contida, sentando em minha cama e me olhando apreensivo.
Seu olhar sob mim, por mais que estivesse apreensivo, me causava uma sensação de calma.
- Estou...
O som das batidas na porta fizeram meu coração acelerar, mas meu coração se acalmou quando os olhos de Lúcia se encontraram com os meus. Graciosamente ela correu até mim me abraçando.
- Ele nunca mais vai te machucar, me desculpe. -Disse ela em meio às lágrimas.
- Você não tem culpa nenhuma nisso, não tem que se desculpar...
Suas mãos delicadas tocaram na marca em meu rosto e eu sentindo dor me afastei inconscientemente.
- Eu prometo que isso não vai ficar assim. -Gritou ela, sem perder a sua postura habitual.
- Não, Lúcia, não vale a pena...
- Já que a princesa já está em companhia de sua irmã eu vou me retirar. -Disse Vladmir fazendo uma reverência e andando em direção a porta.
Me levantei no mesmo segundo da cama indo em direção a ele.
- Obrigada por tudo, você me fez muito feliz hoje...
Ele segurou minhas mãos e me olhou nos olhos com tanta ternura.
- Posso te pedir algo? Não se envolva nisso, deixe as coisas como estão e ele me deixará em paz agora. - Minha voz tremia tentando falar com ele.
- Eu não posso fazer isso, não vou deixar isso passar impune!
Ele levou minhas mãos até seus lábios e gentilmente as beijou e depois as soltou e saiu porta fora, me deixando para trás com as palavras presas na garganta e com o coração aflito.
- Luci, o que eu faço?- Corri até ela a abraçando. Ela era maior que eu, então repousei a cabeça em seu pescoço, afundando meu rosto em seus cachos loiros e sentindo seu perfume doce, como os jardins na primavera. Seu colo era um lugar confortável e que me trazia segurança, embora eu quase nunca fosse até ela nos meus momentos sombrios.
- Não está certo o que o pai fez com você e eu não deixarei isso ser esquecido, mas o que Vladmir resolver fazer pode começar uma guerra entre os reinos, o meu casamento e de Dimitri é para fortalecer os dois reinos e resolver as inimizades que aconteceram e que a cada dia aumentam mais. A nossa situação perante os outros reinos é cheia de inimizades, precisamos do Reino de Dimitri e da sua força.
- Eu sei Luci, mas o que eu posso fazer? Eu não quero ser a ruína do nosso reino e você sabe disso. - Eu quase não conseguia falar.
- Vá atrás de Vladmir, convença-o a deixar comigo, que eu vou resolver.
Os olhos de Lúcia pareciam ainda maiores, marcados pela inquietude e preocupação, mas com uma enorme dor.
Assenti e corri por dentre os corredores, passando pelas inúmeras e diferentes portas até o quarto de Vladmir, mas ele não estava lá.
Meu peito doía de dor, culpa, preocupação e medo de já ser tarde demais. Meus pulmões puxavam o ar depressa enquanto eu corria pelo castelo me escondendo de todos os que não fossem ele.
Em meio aos corredores meu nervosismo aumentavam e meu corpo parecia tremer, meu olhos encontraram sua figura no final do corredor a sala do trono.
- Vladmir. Gritei seu nome com o que parecia ser o último ar dos meus pulmões e ele surpreso imediatamente veio em minha direção.
- Lise, o que está fazendo aqui? Seu rosto precisa de gelo.
- Estou bem... preciso falar com você. -Disse em meio a longas puxadas de ar.
- Eu preciso falar antes com seu pai. -Sua voz que antes estava preocupada soou grave.
- Não, me escute antes!
Segurei sua mão e tirando as últimas forças do meu corpo o levei até uma sala de descanso.
A luz da tarde invadia o cômodo e tornava tudo mais brilhante, até mesmo a pele de Vladmir. Seus olhos estavam preocupados e as mãos duramente fechadas estavam brancas em seus nós, fazendo suas veias ficarem ainda mais evidentes.
- Eu não quero que faça nada em relação ao que aconteceu. -Minha voz saiu apressadamente, como um susurro.
- Mas Elise eu não posso ficar parado após ter visto tudo isso. Desde o momento em que eu cheguei no castelo vi que algo estava errado. - Ele respirou fundo, controlando sua voz. - Desde de que vi o jeito que ele te olhava e o jeito como falava com você, as marcas no seu corpo, eu não vou deixar isso continuar acontecendo!
Em um momento de desespero vendo que não adiantaria eu caí de joelhos no chão, extremamente exausta e com enorme dor.
- Estou implorando que você não faça nada, estou te implorando. As lágrimas pareciam queimar meus olhos e eu engolia diversas vezes para impedir que elas caíssem.
- Não faça isso...
Sua voz soou fraca e extremamente dolorosa.
Ele veio em minha direção tentando me levantar, mas eu me joguei novamente de joelhos.
- Ele não vai fazer de novo, ele sabe que se fizer algo contra mim, você pode fazer algo contra ele e dizer ao príncipe que não venha mais ou cancele o casamento, ele não fará mais, eu sei disso. - Falei rapidamente.
- Elise.
Ele me levantou me puxando a centímetros de si mesmo, lentamente olhando para mim, como se pedisse permissão para me puxar para mais perto, me aproximei mais, dando a ele permissão. Ele então me envolveu em seus braços, puxando meu corpo contra o dele e repousando seus braços em minhas costas. Seu corpo embora forte, não me pressionava, me mantinha perto de si gentilmente. O meu coração batia forte com o calor de seu toque e com a aproximação dos nossos corpos. Eu não conseguia olhar em seus olhos, minha cabeça estava sob seu peito, olhando para o lado contrário.
- Eu não vou fazer nada. - Disse ele após um tempo em silêncio, dispersando meus pensamentos sobre seu corpo e seu toque. - Mas se acontecer novamente as coisas serão ainda mais sérias! Advertiu ele duramente.
- Tudo bem. Falei baixinho.
Ele se afastou do abraço e me segurou nos ombros olhando para os meus olhos de forma como não havia feito em momento nenhum
antes e eu estremeci. Seu toque sob minha pele exposta me fez arrepiar. Ele então se moveu e eu petrifiquei quando ele veio ainda mais próximo, seus lábios estão pousaram na minha testa e ele delicadamente se afastou, soltando lentamente meus braços e saindo pela porta, me deixando dentro daquela sala tremendo dos pés a cabeça.

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A Sucessora
FantasyEla só queria conhecer o mundo, conhecer o mundo depois das enormes barreiras do castelo, não pensava em se apaixonar ou na mera possibilidade de assumir o trono. Ninguém esperava nada dela, inclusive ela mesma. Sua irmã mais velha e próxima rainha...