Capítulo 6

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Havia uma cortina de fumaça e fogo por todo o lado e Lúcia gritava pelo meu nome.
- Lise!!!!
- Lise!!!!
O fogo consumia tudo levantando um cheiro de sangue e cinzas. Eu corria em meio ao fogo buscando por Lúcia que continuava gritando, conseguia enxergar sua silhueta em meio ao fogo e as cinzas e caminhava sentindo o fogo queimar a minha pele e a fumaça atrapalhar a minha visão, mas de forma repentina os gritos dela foram silenciados e eu escutei seu corpo batendo contra o chão.
- Lúcia! - Gritei me deparando com o teto alto do meu quarto e percebendo que tudo havia sido um pesadelo.
Lágrimas escapavam dos meus olhos, correndo livremente pelo meu rosto.
A inquietação tomava conta dos meus sentidos e do meu corpo, me cobri com um roupão leve e desci as escadas caminhando em direção ao quarto de Lúcia, quando uma figura alta entrou em meu campo de visão. Haviam mais guardas no castelo nas últimas semanas, então achei no primeiro momento fosse um guarda me questionando pelo horário, mas encontrei um olhar familiar.
- Sem sono? - Indaguei me aproximando e ele se virou em minha direção.
- Sim, mas não sou o único não é?!
- Quer um chá? - Me ajuda a dormir quando estou com insônia.
- Pode ser.
Caminhamos até a cozinha, passando por inúmeros guardas que haviam nos últimos dias chegado para aumentar a patrulha noturna e a rotina geral do castelo.
Coloquei a água para esquentar e fui até o armário peguei o chá e comecei a preparar. Os olhos de Vladmir me analisavam em silêncio e discretamente.
Me aproximei dele com a xícara de chá e entreguei e ele se sentou repousando a xícara na bancada de mármore.
Bebemos o chá em silêncio, mas trocando olhares discretos.
Rompi o nosso silêncio.
- Eu vou ir me deitar, acabei tendo um pesadelo com a Lúcia, então vou ir dormir com ela hoje.
- Eu te acompanho até lá.
Fomos caminhando lado a lado lentamente, os dois pareciam adiar a chegada até o corredor onde o quarto de Lúcia estava. No caminho para lá passamos por diversos guardas, pois o perímetro do quarto de Lúcia era o mais protegido por ela ser a herdeira ao trono.
Caminhavamos ainda lentamente quando uma brisa leve passou pela a janela aberta antes de chegar ao corredor, fazendo com que meu corpo se escolhesse.
A cortina longa dançou pelo corredor nos alcançando e então ele me moveu para o lado contrário a janela, me puxando mais para baixo da cortina, que ia até o chão e cobrindo nossos corpos.
Sua mão segurava gentilmente a minha mão, enquanto nossos olhos se encontraram em baixo daquela cortina ainda esvoaçante dançava em meio aquele corredor.
Ele então sem soltar a minha mão ficou ainda mais próximo, ficando totalmente na minha frente. Sua outra mão veio até o meu rosto retirando uma pequena mecha de cabelo que havia sido movida pelo vento.
Seu toque era gentil, suas mãos mornas tocavam minha pele enquanto seus olhos estavam focados nos meus, ele acariciou meu rosto se aproximando mais e soltando a minha mão, repousando a sua em meu rosto.
Ele me olhava com ternura lentamente se aproximando, talvez esperando que eu fosse me afastar, mas eu queria ele próximo, queria ele continuasse com o que estava fazendo.
- Eu me segurei o máximo que eu pude, mas eu não vou continuar com isso. - Disse ele a centímetros de distância, seu hálito fazendo cócegas em minha pele já arrepiada por conta do vento.
Eu guardaria por toda a eternidade seu rosto, seu olhos escuros brilhando, as mechas de cabelo escuros caindo sobre seu rosto.
Sua boca se aproximou mais, tocando levemente meus lábios e fazendo o ar do meu corpo desaparecer.
Ele me colocou ainda mais próximo da parede e diminuindo o espaço entre nós, enterrando seus lábios nos meus. Seu sabor era do chá que havíamos tomado, sua boca era quente, sua língua percorria a minha boca, encontrando com a minha e fazendo meu corpo se aquecer e meu coração disparar frenético e incontrolável.
Seu beijo era gentil, assim como seu toque, suas mãos estavam firmes como se me mantivessem em pé. Já as minhas mãos repousavam em seus ombro largo, segurando as cortinas que voavam com o vento e que impediam alguém de ver o que nós estávamos fazendo. O tecido fino de nossas roupas me permitia sentia seu corpo, sentindo a firmeza de seu corpo coberto por uma camisa e uma calça.
O tempo havia parado no instante que nossos lábios se tocaram e sabe se lá quanto tempo passou, mas nós nos afastamos devagar, ainda sedentos um do outro, com uma atração igual a imãs.
Suas mãos desceram do meu rosto e repousaram em minha cintura e ele me envolveu em um abraço ainda em baixo da cortina.
Meu coração batia forte e acelerado, meu rosto queimava e agora nem uma ventania me faria sentir frio.
Ele se afastou, saindo de baixo da cortina e me guiando para segui-lo. Ele então me olhou como se estivesse guardando cada detalhe, assim como eu fazia com ele. Seu rosto tinha traços fortes e bem definidos fazendo com que parecesse esculpido, como as estátuas preservadas do passado.
- Elise. - Disse ele, como se fosse dizer algo mais, seus olhos pareciam diferentes, algo que eu não conseguia decifrar, um olhar que eu não podia entender.
- Pode falar, Vlad. -Disse olhando para ele.
Ele suspirou e sorriu.
- Vou te levar até o quarto da sua irmã, já está muito tarde.
Sorri e seguimos andando, até chegar ao quarto de Lúcia, ainda em total silêncio e apenas alguns olhares doces.
Ficamos frente a frente sem que nós dois falássemos nada, eu não queria entrar, ele não queria sair dali.
Ele me puxou para si e me deu um beijo rápido, mas suficiente para fazer meu coração novamente disparar.
Passos pesados contra o chão dos guardas que patrulhavam nos fizeram lembrar do mundo ao redor.
- Entre, nós nos vemos amanhã no café da manhã. - Ele me direcionou a porta ficando de costas para ele.
Antes de entrar olhei mais uma vez para ele.
- Boa noite. - Disse a ele entrando no quarto.
Ele então se virou e continuou andando pelo corredor.
Quando eu ia fechar a porta ele correu apressadamente antes que pudesse ser visto pelos guardas. Ele se aproximou fazendo meu olhar encontrar com o dele, se aproximou de maneira ágil e novamente me beijou de forma rápida, fazendo nossos lábios se encontrarem e meu corpo se incendiar.
- Boa noite, Elise. -Ele disse e seguiu seu caminho até o quarto.
Havia uma antiga frase que eu nunca havia compreendido até aquele exato momento, ela estava em um livro de romance do passado que havíamos estudado, "e ela sentiu borboletas na barriga" e era exatamente assim que eu sentia, como se milhões de borboletas estivessem voando dentro de mim, vagando por meu estômago e coração, fazendo uma sensação de leveza e entusiasmo invadir meu ser.
Caminhei até a cama de Lúcia, onde ela estava adormecida, seus cabelos loiros pareciam ouro sob o travesseiro rosa. Toquei seu ombro e ela despertou, me olhando com os olhos sonolentos. Ela já não se assustava, eu sempre fazia isso.
Ela ergueu os lençóis e eu deitei ao seu lado, ela me abraçou e repousou sua testa nas minhas costas.
- Lú, eu posso te contar algo?
Indaguei segurando a sua mão.
- Sim. -Disse ela sonolenta.
Hesitante eu respirei buscando por palavras.
- Ele me beijou. -Disse envergonhada.
Lúcia deu um pulo na cama apagando qualquer que fosse o sono que ela estivera sentindo e me virou para ver o meu rosto.
- Liseeeee. -Gritou ela animada, seus olhos claros cintilantes se iluminavam e sua boca sorria lindamente.
- Você deu o seu primeiro beijo, ah Lise, você está feliz? -Sua voz era doce, mas estava estridente.
- Sim, nunca fui tão feliz em toda a minha vida. - Admiti não contendo meu sorriso.
- Eu estou tão feliz por você, agora o papai não poderá mais controlar a sua vida, você vai sair daqui, vai ser feliz, vai se casar e eu vou estar do seu lado!
- Lúcia, isso é o que eu mais quero, mas ainda queria que você se casa-se por amor.
Nós conversamos por horas até que acabamos adormecendo abraçadas.

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⏰ Última atualização: Dec 03, 2022 ⏰

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