1. O começo

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     Dezesseis de outubro, uma cinzenta tarde de primavera. O vento trazia consigo o canto dos pássaros, além do bem-vindo cheiro de chuva. Pela janela eu observava calmamente a natureza despertar de forma gloriosa: esquilos enterrando nozes, aves fazendo seus ninhos, convidando possíveis parceiros. Mal parecia que tudo aquilo parecesse morto e desolado, pouco tempo atrás. Meus pais e eu íamos para casa de minha avó. Ela mora em uma cidade chamada guardiã das almas sempre achei o nome da cidade interessante, mas nunca me importei em perguntar por que se chamava assim.
Minha mãe e eu entramos no carro.
Esperávamos por meu pai quando ela, com uma certa seriedade, iniciou uma conversa.

- Ainda vem tendo pesadelos? – disse com um tom preocupado.

- Não mãe, não tenho pesadelos a meses, e nas ultimas semanas tenho dormido como um anjo -  dissimulei da melhor forma possível, pois ultimamente eles tem ocorrido com muito mais frequência.

Desde pequena, os pesadelos sempre me foram comuns, quase invariavelmente precedendo coisas ruins. Sempre me senti a mensageira dos maus presságios. Para completar, nos últimos anos meus pais – principalmente minha mae – têm insistido que eu passe a me consultar com um psicólogo, certa vez chegaram a mencionar até mesmo um psiquiatra. Então decidi não revelar minha atual situação, pois devido a certos traumas, não seria muito saudável me tratar com o tal psicólogo – fosse por minha saúde metal ou mesmo pela vida social, mesmo que ambas estivessem em frangalhos.

- Não esta mentindo pra mim? – perguntou desconfiada.

- Claro que não, porque a senhora acha que eu faria algo assim? – disse, fingindo frustração –  É verdade, não tenho tido nenhum.

Ela me avaliou por alguns segundos.

- Tudo bem. Me sinto aliviada que você esteja bem, assim aproveitará melhor a viagem. Não visitamos sua avó faz muito tempo – disse ela toda animada.

- É.… vai ser divertido.

- É por isso que sempre falo “você precisa arrumar um namorado” pra talvez melhorar esse seu ânimo, que anda insuportável ultimamente.

- Estou ótima do jeito que estou. Tudo bem?!

A essa altura ela já nem sequer me ouvia, dizendo dos rapazes que estariam lá, e que poderia me interessar por algum. Queria que eu arranjasse um namorado a todo custo.

- O Juan estará lá. Ele é um gato, tem o Leandro que não é lá essas coisas, mas não deixa de ser bonito – ela enfatizou bem o coisas -  e o Bernardo, que é um rapaz muito belo né filha?!

Bernardo sim era muito bonito. Ele mexia comigo, e apesar de nós nunca termos tido alguma chance, não tentaria, simplesmente por sermos grandes amigos. Ultimamente, porém, tenho mudado meu modo de pensar e venho pensando em dar um passo rumo a ele. Minha mãe sabe dessa minha atração por ele, e sempre que pode tenta nos aproximar.

- Né o que mãe? Pode tirando o seu cavalinho da chuva que não será dessa vez que vai se livrar de mim. Bernardo e eu somos só amigos – disse tentando acabar com aquela conversa constrangedora.

- Tudo bem, se você diz. Mas... –  meu pai nos interrompeu entrando no carro.

Minha mãe se chama Anita Ribeiro ela é linda, possui um rosto fino parece ter sido esculpido por um anjo. Seus cabelos são cacheados, vermelho dando a impressão de chamas vivas. Tem olhos cor de mel, possui um olhar incrivelmente sapeca, mas é uma mulher adorável.
Fez-se silêncio no carro. Meu pai – como deixou bem claro – não estava muito animado com a viagem a casa da vovó, chegando até a sugerir que desistíssemos. Não me disse o motivo, mas certa vez, ao despertar no meio da noite, escutei meus pais discutindo, lembro-me especialmente dele dizendo: “acho que não deveríamos ir, está muito perigoso. Você sabe. Eles estão atentos, qualquer sinal de que ela esteja viva eles tentariam matá-la, temos que tomar cuidado”. Aquelas palavras me deram arrepios, mesmo sem entende-las completamente, não pude dormir aquela noite, remoendo e remoendo as palavras em minha mente. “O que está muito perigoso?” “Quem são eles?” “Matá-la?" “Quem?”. Fui assombrada pela duvida, e mesmo agora, passadas três semanas, ainda me sentia incomodada.
Após pensar muito no assunto, resolvi perguntar.
- Pai?
_ Oi, meu amor._ disse se virando para mim com o mais lindo sorriso em seu rosto.
As palavras fugiram entre meus lábios, toda minha coragem se esvaiu. Mesmo sabendo que sempre me falaria a verdade, aquele sorriso era tão sincero que o simples fato de poder estragá-lo me conteve.

Destino - O Jogo Do PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora